Rebordosa, uma pequena cidade do Concelho de Paredes, está inundada de pequenos panfletos (anónimos, como é típico dos invertebrados), colados em locais estratégicos, que difamam o novo Coordenador do Centro de Saúde local.
Creio que, neste contexto, é altura de revelar publicamente uma carta que, no dia 24 de Maio de 2010, enderecei à anterior Coordenadora do Centro de Saúde de Rebordosa:
«(Reservando-me o direito de divulgar o presente assunto junto das entidades que repute de relevantes, informo que nesta data foi enviada, também em correio registado, cópia ao Ministério da Saúde e à Administração Regional de Saúde do Norte)
1 - Sou filho de Rosa Ferreira de Sousa, utente do Centro de Saúde de Rebordosa, a quem V. Exa., certamente no mais nobre espírito de serviço público (não tanto de serviço ao público), recusou autorização para que lhe fosse concedido transporte pelos Bombeiros para as sessões de fisioterapia recomendadas pelo médico assistente, Dr. Luís Campos.
2- Não sei quais os critérios, certamente clínicos já que se trata de uma doente, que V. Exa. adoptou para tal recusa.
2.1 – Sei, contudo, que a recusa revela “in continenti” um atestado de incompetência ao médico assistente que, por conhecimento directo da doente, recomendou não só a fisioterapia como a necessidade de transporte já que a minha mãe apenas consegue dar alguns passos agarrada a uma canadiana.
2.2 – Acredito, ainda, que pelos altos conhecimentos de V. Exa., provalmente de ordem telepática já que não tem conhecimento empírico e directo do estado da doente, conseguiu discernir razões clínicas que terão escapado ao médico assistente.
3- Vejamos então quem é a doente em questão.
3.1 – Tem 85 anos de idade, vive com o meu pai de 84 anos e eu sou o único filho que, por sinal, vive em S. Mamede de Infesta (a cerca de 30 quilómetros de Rebordosa).
3.2 – Não tem, ao contrário de outros portugueses (caso, por exemplo, de António Mexia, presidente da EDP que recebeu em 2009, 700 mil euros em salários fixos e mais 600 mil euros em remuneração variável) rendimentos que vão além da pensão mínima, como aliás V. Exa. poderá comprovar pela prova rendimentos que todos os anos apresenta na instituição que dirige.
3.3 – Também o meu pai se encontra na mesma situação, muito embora tenha trabalhado toda a vida.
4 – Será que as condições financeiras dos meus pais justificam que V. Exa. considere que têm meios para pagar o transporte para as sessões de fisioterapia?
4.1 – Será que, como referido no ponto 1, o médico assistente não tem razões clínicas para aconselhar esse transporte, corroborando o facto de a minha mãe mal poder andar?
5 - Perante a recusa de V. Exa., acredito que fundamentada numa qualquer matéria de facto coberta pelo articulado burocrático de um Serviço Nacional de Saúde cada vez mais vocacionado para os poucos que têm milhões e não para os milhões que têm pouco, procurei saber pessoalmente e “in loco” as razões.
5.1 – Assim, no passado dia 21, pelas 17 horas e depois de várias tentativas, dirige-me a V. Exa. com a convicção, ingénua e vã, de que Portugal é um Estado de Direito.
5.2 – A única coisa que consegui ouvir de V. Exa. (e que, creio, terá sido um raro privilégio) foi – ipsis verbis: “Estou na minha hora da saída e não falo consigo”.
5.3 – Creia V. Exa. que compreendo perfeitamente que com um fim-de-semana à porta, e depois de uma árdua semana de labuta dedicada e impoluta, é da mais justa e elementar razão não passar cartão a quem a si se dirigiu.
5.4 – Na convicção de que dificilmente V. Exa. arranjará uma vaga para me explicar pessoalmente as razões da sua decisão, e para não correr o risco de a voltar a ouvir dizer que não fala comigo, tomo a liberdade de lhe enviar esta carta.
6- Solicito, por isso, que V. Exa. se digne mandar informar-me das razões que levaram a tal procedimento em relação à minha mãe, não carecendo de qualquer explicação o facto de me ter tratado de forma ignóbil quando, tão só, pretendia perceber pessoalmente o que se passava.»
Nota final: Nunca recebi da referida coordenadora nenhuma resposta. Acrescento que fiquei satisfeito ao saber que a mesma tinha sido substituída.
2 comentários:
Boa noite
Como deve ter conhecimento o Ministério da Saúde obriga a que o Coordenador de qualquer Unidade de Saúde autorize ou não o transporte em ambulância. Como deve também saber esta autorização está dependente da informação clínica que o médico assistente regista no processo do utente.
Pergunto-lhe... tem conhecimento da informação clínica que o médico assitente de sua mãe terá registado no seu processo clínico? Não basta ao médico assitente, no sentido de agradar a sua utente, passar a credencial para a ambulância e passar a responsabilidade para um qualquer coordenador da Unidade de Saúde, mesmo sabendo que o seu utente pode eventualmente não reunir os critérios necessários para ter acesso ao transporte gratuíto em ambulância.
Na minha modesta opinião a responsabilidade deveria ser sempre do referido médico assistente e dever-se-iam realizar auditorias frequentes para verificar a necessidade efectiva desse transporte. Nas situações em que se verificasse que essa necessidade não existia deveria o médico assistente pagar o transporte que autorizou indevidamente.
O Centro de Saúde de Rebordosa tinha o dobro das despesas de outro qualquer Centro de Saúde. Já que se encontra tão bem informado poderá ter concerteza uma explicação lógica para este consumo desmesurado.
Na tentativa de reduzir a despesa acredito que alguns utentes tenham eventualmente sido prejudicados. Mas lhe digo também que devido ao uso e abuso que existia em Rebordosa que servia um certo clientelismo das privadas verifica-se actualmente um "assalto ao poder" por parte de determinados médicos que põem os interesses privados acima dos interesses públicos. Venha o FMI para arrumar com estes abutres.
Desejo que Rebordosa tenha por parte do Centro de Saúde um serviço de qualidade, de equidade e de respeito pelos interesses da população e não pelo interesse de alguns que usufruem de privilégios porque são utentes de determinados médicos.
Ana Santos
Meu caro senhor Orlando Castro
Acabo de ler o seu post relativamente a um assunto, sobre o atendimento da senhora sua mãe no Centro de Saúde de Rebordosa, Paredes.
Li também o seu lamento pelo facto de não ter sido concedida resposta favorável a uma solicitação de transporte para deslocação a sessões de fisioterapia.
Não duvido que o senhor seja uma pessoa conhecedora das regras, mas do que sei de quantos trabalham em funções do Estado, as respostas às reclamações fazem-se pelas estruturas e nunca directamente pelos envolvidos nas reclamações.
Permito-me a perguntar a oportunidade do seu lamento:
Como é possível que o senhor tenha apresentado uma reclamação, com cópia para uma série de entidades (Ministério da Saúde, Administração Regional de Saúde) e não tenha recebido resposta de ninguém?
Como é que um ano depois da sua reclamação só apresente o assunto agora?
Será que não sabe que todas as respostas que lhe são dirigidas têm por base a resposta que os intervenientes nas reclamações dirigem às chefias?
Aceito e respeito que o senhor fique satisfeito com a saída da antiga coordenadora, mas acredite que eu fico mais preocupado quando leio o nome do médico que diz assistir a senhora sua mãe.
Na minha família gastamos o que tínhamos e o que não tínhamos para poder ir à clínica desse médico, que de forma desumana assistiu-os sempre à troca de dinheiro e se valeu de não haver médicos no Centro de Saúde e encheu os bolsos durante anos à conta do povo. Chrguei a mandar dinheiro do Luxemburgo para ajudar os meus pais nas despesas da saúde, pois a reforma nâo chegava para medicamentos e médico.
Será que o senhor alguma vez desconfiou que esse médico quando passava uma fisioterapia à sua mãe, estava a emitir exames e análises em nome dela?
Não será que era esse médico que provocava o conflito com os médicos que lhe secaram a torneira de uma população pobre, mas obrigatoriamente cliente da sua clínica, para os tentar expulsar ou levá-los a abandonar Rebordosa.
Enquanto o senhor reclama por uma resposta e diz que não a recebeu, eu denunciei um médico que passou exames aos meus familiares, sem eles nunca terem feito um, e foi tudo parar ao tinteiro do Ministério da Saúde. Descobri a marosca quando a minha mãe esteve hospitalizada e as contas dispararam no sistema nacional de saúde e nós fomos chamados. A minha mãe e o meu pai chegaram a ter durante um ano no seu nome sucessivos exames, análises e fisioterapias, que nunca fizeram. Fiz prova que a minha mãe não os fez e que o meu pai muito menos, pois a sua doença já não deixava dúvidas aos médicos. Só lhe digo que o meu pai não se mexia, mas chegaram a ser descobertas duas sessões diárias de fisioterapia. Nada foi feito ao médico. ...continua...
Manuel Ferreira
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