terça-feira, setembro 29, 2009

Foram ultrapassados os limites de quê?
Do tolerável e da decência? Onde? Onde?

Na declaração aos portugueses feita há pouco, o Presidente da República disse ter sido "forçado" a revelar a leitura que fez sobre declarações feitas por membros do PS, acusando-os de o tentar colar ao PSD.

E daí? O que é que isso importa se, afinal, tudo vai continuar como dantes, com os políticos lusos a cantar e a rir numa orgia de gozo total à custa da chipala do Zé Povinho?

Cavaco Silva diz-se "surpreendido" com declarações de "destacadas personalidades do partido do Governo exigindo ao Presidente da República que interrompesse as férias e viesse falar sobre a participação de membros da sua casa civil na elaboração do programa do PSD", facto que, segundo o presidente, era mentira".

“Destacadas personalidades do partido do Governo” que, contudo, parecem não ter nome. Será que cairiam à lama os parentes do presidente caso ele desse o nome às coisas? Se calhar não, mas Portugal é mesmo assim, ao estilo do não, sim, talvez.

Os objectivos destas declarações eram, continua Cavaco Silva, "puxar o Presidente para a luta político-partidária, encostando-o ao PSD apesar de todos saberem que eu, pela minha maneira de ser, sou particularmente rigoroso na isenção em relação a todas as forças partidárias" e "desviar as atenções do debate eleitoral das questões que realmente preocupavam os cidadãos".

E assim foi. Essas “destacadas personalidades do partido do Governo” desviaram a atenção do essencial para o acessório com a óbvia conivência do Presidente. E, também graças a esse silêncio, continuam no poder.

Referindo-se à publicação no Diário de Notícias de um e-mail ("velho de 17 meses", afirmou o presidente), de um jornalista do Público que dava conta das preocupações de Fernando Lima, assessor de Cavaco, com uma alegada vigilância do Governo sobre o Palácio de Belém, Cavaco Silva declarou desconhecer "totalmente a existência e o conteúdo do referido e-mail", afirmando ter "sérias dúvidas quanto à veracidade das afirmações nele contidas".

Sérias dúvidas que, contudo, assim vão ficar porque o que importa é mudar algumas moscas para que o resto fique na mesma, mesmo quando o cheiro já é mais do que putrefacto.

Cavaco considerou ainda que "foram ultrapassados os limites do tolerável e da decência" e por isso viu-se "forçado" a partilhar em público a interpretação" que fez sobre "um assunto que inundou a comunicação social durante vários dias sem que alguma vez a ele eu me tenha referido, directa ou indirectamente", apelidando de "graves manipulações"

Os portugueses devem sentir-se bem com esta partilha feita pelo Presidente. Se calhar os limites de tolerância e da decência, que Cavaco diz terem sido ultrapassados, terão menos gravidade quando partilhados com os cidadãos. Se calhar.

A partilha até terá tido efeitos na passagem das “graves manipulações” para “pequenas manipulações”. Se calhar.

E com o lixo varrido para debaixo do tapete, o país lá continua na saga socialista de José Sócrates, abrilhantada de quando em vez pela sisudez do Presidente da República.

5 comentários:

Anónimo disse...

Ó Orlando, se o Presidente desconhece totalmente a existência do email e do seu conteúdo, como pode ter sérias dúvidas, quanto á veracidade das afirmações nele contidas?!
alguém me pode explicar a noção e o sentido, destas frases?!

Anónimo disse...

Agora que acabei de ler, digo-lhe... isto vai cá uma barracada, que não digo mais nada!! :))
É de atirar ao chão, de tanto riso :)) e o Orlando, fez aí, uma desmontagem na perfeição! ehehehehehehehehehehe

Calcinhas de Luanda disse...

Quando da visita do JES ao Muene Puto deve ter havido qualquer transmissão de um vírus do tipo "Ébola à moda de Angola".
O resultado está à vista.

ELCAlmeida disse...

Ainda bem que em Portugal os deputados não têm tomates e "bolas" superiores para pedir a sua destituição por "mania da pereguição" que já vem do tempo quando era PM. Recordemos que foi o primeiro líder governamentel a exigir uma viatura à prova de bala.
Agora ficámos tamém a saber que ninguém fala nada em seu nome o que acaba-se com as "fontes próximas da presidência" (ou é o presidente pu um dos Chefes da Casa).
Como também ficámos a saber que além de ter deixado de perder os seus 5 minutos com a imprensa pelos vistos não lê os portais dos seus mais próximos, no caso o portal do PSD que parece (até prova em contrário, mesmo que visível é falso, mas ainda assim é de reestruturar o portal...) que foi quem divulgou a presença dos assessores na elaboração do programa. O que é perfeitamente natural dado não haver qualquer incompatibilidade jurídica nem política.
Quer dizer, penso eu de que...
Santa paciência para tanto disparate. Ninguém o obriga a "comer" (salvo seja) o senhor Sócrates, nem a Constituição, mesmo que tenha sido o perdedor que mais ganhou.
Se não o quer convide outro para liderar o Governo.
Assim como assim, parece que o senhor Cavaco não quer uma segunda magistratura. A reforma já está garantida!
abraços
EA

Anónimo disse...

Li hoje um seu post de Janeiro e felicitei-o pela premunição: "Cavaco Silva sabe o que diz, mas não diz (tudo) o que sabe". Pacheco Pereira fez-lhe hoje um apelo para dizer tudo o que sabe. Penso o mesmo: Cavaco não disse, erradamente, tudo o que sabe. E esta não é a altura de poupar munições, já que o contra-ataque de Sócrates foi violentíssimo.
Pedro C.