O ministro da Educação de Angola, Burity da Silva, considerou hoje, em Mombaça, Quénia, que “a construção da angolanidade e da africanidade deve ser edificada com a participação de todas as culturas existentes, sem critérios estereotipados de exclusão”.
Fica-me, contudo, uma dúvida: deveremos olhar para o que se diz ou para o que se faz?
De acordo com o governante, que discursava durante um encontro promovido pela Associação para o Desenvolvimento da Educação em África (ADEA), Angola é um país multicultural e plurilingue, daí defender que o sistema educativo esteja voltado à preservação dos valores culturais e ao respeito mútuo.
E a multiculturalidade, creio eu, não é algo que deva ser imposto e que tenha de seguir as regras de alguns manuais que nos dizem quem são os protagonistas e enquadram politica e partidariamente a multiculturalidade.
“A interiorização de um espírito de angolanidade, como garante do primado da Paz e da Reconciliação Nacional, e a formação de recursos humanos necessários à reconstrução e desenvolvimento do país são duas das principais preocupações do Governo angolano", expressou.
A teoria é boa. Mas será que na prática não há factores que querem condicionar a angolanidade, dizendo-nos que ela só existe ser for seguido determinado caminho?
O ministro explicou que hoje torna-se necessária uma maior aproximação entre a Educação e a Cultura, pois é também, através dela, que as novas gerações poderão recuperar muitos dos valores perdidos pela actual conjuntura económica.
É verdade que a conjuntura económica de um país em que a maioria do povo vive na pobreza, não ajuda. Mas, se calhar, é a conjuntura política de carácter segregacionista que está a impor a (mono) cultura, a cultura oficial.
Para Burity da Silva, paralelamente à educação para o trabalho e para a cidadania, terá de existir igualmente uma educação para a cultura, que leve em conta a identidade e a diversidade dos diferentes grupos sociais.
Exactamente. Que leve em conta o fantástico mosaico cultural de Angola e que, inclusive, tem muitas das suas paletas já espalhadas pelo mundo.
O Ministério da Educação pretende, segundo o seu titular, conceber “um cancioneiro de canções tradicionais e populares e um manual de jogos tradicionais para servirem de apoio às aulas de música, educação física e actividades extra-escolares, com o propósito de divulgar e valorizar os diferentes aspectos culturais do povo angolano”.
Do seu ponto de vista, esta parece ser uma estratégia de Educação para a Paz, que, no futuro, viabilize a elevação da baixa auto-estima dos angolanos, a edificação da democracia e da unidade nacional e o esforço para o desenvolvimento sustentado.
Se, de uma vez por todas, deixar de haver angolanos de primeira e de segunda (ou até, talvez, de terceira), o caminho para a coesão social estará aberto, bem como será usado o cimento da multicultaralidade para unir todos os angolanos e, dessa forma, dar corpo e alma à angolanidade.
1 comentário:
Um grande obstáculo à realização desta boa intenção é a mentalidade reinante, de racismo - diríamos oficioso...
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