O Presidente da República de Portugal, Cavaco Silva, defendeu hoje que a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), coisa que em consciência ele sabe que é um elefante branco, e outras “instituições e organizações” da comunidade internacional podem “dar um contributo da maior importância” para ultrapassar a crise na Guiné-Bissau.
Num dircurso politicamente correcto, que serve para tudo e para todos, Cavaco Silva continua a não dizer o que sabe e, é claro, a dizer apenas o que dá para agradar a gregos e troianos, no caso a civis e militares guineenses.
É, aliás, uma das características da Lusofonia. Dar uma no cravo e outra na ferradura de modo a que, seja qual for a solução, há sempre margem de manobra para se dizer que não houve nenhum compromisso.
“Nós depositamos neste momento grande confiança no acompanhamento da situação guineense que está a ser feito no âmbito da CEDEAO, da CPLP, da UE e das Nações Unidas. Consideramos que a comunidade internacional, em particular através destas instituições e organizações, podem dar um contributo da maior importância para fortalecer aquelas que são frágeis instituições constitucionais do país”, disse Cavaco, à margem da sua visita de Estado a Cabo verde.
Uma das traduções destas afirmações diz que Cavaco Silva entende que António Indjai não deveria ser o chefe militar. O presidente português deixa, contudo, uma ambiguidade típica que lhe permite, um dia destes, receber em Lisboa o novo líder militar guineense. E se dúvidas existirem, poderá sempre dizer que nunca ninguém o ouviu dizer que era contra...
Em declarações à imprensa após um encontro com o seu homólogo cabo-verdiano, no qual o assunto foi abordado, Cavaco Silva realçou a “grande convergência de pontos de vista” existente entre os dois países sobre o assunto.
Mais directo, e não sei se satisfeito por ser o único a assumir de forma clara o assunto, Pedro Pires diz que “a Guiné tem poderes legítimos eleitos (…) e há um outro poder, que se manifesta e interfere frequentemente na vida política, que é a instituição militar”.
Havendo, como disse Cavaco, “grande convergência de pontos de vista”, porque carga de água o presidente português não falou, como Pedro Pires, na interferência dos militares nas questões políticas?
Cá para mim, Portugal continua a estar sempre do lado de quem está no poder, independentemente de serem ditadores civis ou militares. Sempre assim foi desde as independências das ex-colónias e, pelos vistos, sempre assim será.
Veja-se que, perante a apatia da Comunidade de Países de Língua Petrolífera, a União Europeia, os EUA e a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental criticaram a nomeação de António Indjai para chefe das Forças Armadas da Guiné-Bissau.
Eles criticam. A CPLP cala-se. Portugal mete o rabinho entre as pernas e lá vai cantando e rindo na vertiginosa aproximação aos países mais desenvolvidos do norte de... África.
Na sequência da nomeação de António Indjai, os EUA anunciaram que não vão apoiar a reforma do sector de defesa e segurança e a União Europeia disse hoje que vai rever os acordos de cooperação com a Guiné-Bissau.
Quanto aos países lusófonos, o melhor é esperar para ver. Desde logo porque, fazendo fé na tradição guineense, o mais certo é em breve Malam Bacai Sanhá deixar de ser presidente e António Indjai de ser chefe das Forças Armadas...
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