As críticas à nomeação para a chefia das Forças Armadas da Guiné-Bissau de António Indjai, responsável pela intervenção militar de 1 de Abril, foram hoje assumidas por alguns políticos portugueses, sustentando que as instituições democráticas do país não devem estar condicionadas.
O Partido Socialista, através de José Lelo, e o CDS-PP, através de Ribeiro e Castro, foram peremptórios na crítica à escolha feita, mas mostraram preocupação pelo facto de poderem faltar à Guiné-Bissau os apoios de que precisa para o seu desenvolvimento e para a luta contra problemas como o narcotráfico.
E, para bem dos guineenses – sendo que dois em cada três vivem na pobreza absoluta - , é mesmo necessário, diria mais do que urgente, que alguém (UE, EUA, CEDEAO) dê um murro na mesa e obrigue os poucos que têm cada vez mais milhões a trabalhar para os “milhões” que têm cada vez menos.
Esse murro na mesa deveria ser dado pela CPLP (Comunidade de Países de Língua Petrolífera... ou Portuguesa), mas essa “coisa” é a prova provada de que quem nada faz... nunca erra.
Quando se sabe, e a CPLP sabe-o bem, que a Guiné-Bissau regista a terceira taxa mais elevada de mortalidade infantil no mundo, fica a ideia de que afinal todos se estão nas tintas para os guineenses.
Pena é que os deputados portugueses não digam uma outra verdade, como seja a da CPLP, com Portugal à cabeça, tardar em perceber a porcaria que anda a fazer em muitos países lusófonos.
De facto, sempre que alguém tem coragem de falar verdade (nunca é o caso de Portugal ou da CPLP), fica a saber-se que para além de envergonharem as autoridades guineenses – mostram a hipocrisia que reina nos areópagos das principais capitais da CPLP, a começar por Lisboa.
Será que a CPLP aceita calma e serenamente, como até agora, que a esperança de vida à nascença para um guineense seja de "apenas" de 45 anos?
Será que a CPLP aceita calma e serenamente, como até agora, que apesar da miséria os líderes guineenses continuem a saborear várias refeições por dia, esquecendo que na mesma rua há gente que foi gerada com fome, nasceu com fome e morre com fome?
Será que a CPLP aceita calma e serenamente, como até agora, que é possível enganar toda a gente durante todo o tempo?
Sei que Portugal, tal como outros, continua a aliviar a consciência (se é que a tem) mandando toneladas de peixe para a Guiné-Bissau. No entanto, o que os guineenses precisam é tão só de quem os ensine a pescar.
Sei que Portugal continua, tal como outros, a mandar montes de antibióticos para a Guiné-Bissau. Esquece-se, sobretudo porque tem a barriga cheia, que esses medicamentos só devem ser tomados depois de uma coisa essencial que os guineenses não têm: refeições.
Os deputados portugueses bem podem exigir, como fez Ribeiro e Castro, a "reposição completa da normalidade constitucional", porque "nenhum povo escolhe ser um Estado falhado”.
Pena é que não estejam interessados, nem os deputados nem o governo, em acabar com a tentativa também praticada em Portugal de ensinar os guineenses a viver sem comer. É que um dias destes vão constatar que quando eles estavam quase, quase mesmo, a saber viver sem comer... morreram.
Portugal, já que a CPLP é uma miragem flutuante nos luxuosos areópagos da política de língua portuguesa, deveria dar força à única tese viável e que há muito foi defendida por Francisco Fadul e que aponta, enquanto é tempo, para “o envio de uma força multinacional, de intervenção que garantisse aquilo que é protegido pela Carta da ONU, que é a democracia e os Direitos Humanos".
Ao que parece, tanto os políticos guineenses como os donos do poder na comunidade internacional (CPLP, Portugal e similares) continuam pouco ou nada preocupados com o facto de os pobres guineenses (a esmagadora maioria) só conhecerem uma forma de deixarem de o ser.
E essa forma é usar, não um enxada, uma colher de pedreiro ou um computador, mas antes uma AK-47. E enquanto assim for...
Mas o que é que isso importa? Nada, como é óbvio. Aliás, depois da aprovação por unanimidade dos dois votos de condenação do atentado à ordem constitucional na Guiné-Bissau em 1 de Abril, os deputados portugueses foram para um fausto repasto num qualquer bom restaurante de Lisboa. A bem da Nação, é claro!
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