Longe vai o tempo em que, no bairro de S. João, aos bandos, inspirados nos filmes do cinema americano que passavam no Ruacaná ou no S. José, todo o ano, não por necessidade, mas por brincadeira, tomavamos de assalto a mangueira do vizinho da escola, o Lacerda:
«Ah gaiatagem de merda, qualquer dia vou buscar a caçadeira e mato um, seus desgraçados; não é pelo que comem, é pelos frutos que deixam estragados por ainda não estarem maduros».
Nós, inseguros, fugiamos aos bandos, depois de ouvido o aviso muito temido, receando ser apanhados, para não levarmos umas pauladas, sempre com medo de que o caçador fizesse queixa ao professor, o que dava muitas reguadas quando não sabiamos as tabuadas, ou nas redacções e ditados, que naquele tempo se escrevia, cometiamos erros de ortografia.
Agora é diferente, existe no computador o corrector para toda a gente e à criança já não se pode dar porrada, mesmo que seja muito endiadrada ou cometa erros e não saiba a tabuada.
Os frutos mais desejados compram-se nos hiperpermercados mas, diga-se a verdade, essa fruta é merda comparada com as mangas roubadas na mangueira do Lacerda.
José Filipe Rodrigues
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