O ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal lamentou hoje que “não se dê mais atenção no país ao que se passa no mundo”, considerando que o debate político em Portugal sobre as questões internacionais é de “uma pobreza chocante”.
Creio que Luís Amada não queria dizer “debate político” mas, isso sim, debate entre políticos. Isto porque, maldita ingenuidade, penso eu que o debate político não está exclusivamente reservado aos políticos.
Concordando que em termos de questões internacionais em geral e lusófonas em particular, a pobreza é chocante, acrescento que a culpa também é dos políticos, sejam eles deputados, ministros, secretários de Estado, adjuntos, presidentes de institutos ou gestores (eles estão em todo o lado).
Luís Amado, tal como o Governo e restante companhia parlamentar, entende que são os políticos (seres onde a existência de coluna vertebral é opcional) os donos da verdade. Creio, por isso, que o ministro deveria estar caladinho.
Quando, por exemplo, Luís Amado realiza uma visita ao Uzbequistão, a convite do seu homólogo para aprofundar as relações bilaterais ao nível político e económico, tudo se torna mais claro...
Há muito que eu desconfiva (e só desconfiava porque sou ingénuo) que o Uzbequistão é bem mais importante para este Portugal, deste Partido Socialista, do que, por exemplo, a Guiné-Bissau.
Até no aspecto linguístico, os portugueses estão muito mais próximos do Uzbequistão. É bem mais fácil os portugueses pronunciarem Tashkent do que Bissau, ou Shavkat Iromonovich Mirziyoev do que Carlos Gomes Júnior.
E quem diz o Uzbequistão diz o Tajiquistão.
Recordo-me que numa dessas visitas, 15 de Abril de 2009, foi dito à plebe que a deslocação cumpria um objectivo enunciado por Luís Amado, em Paris, quando participou no I Fórum União Europeia-Ásia Central, consagrado às questões de segurança, sendo que este é, sempre foi, um tema completamente pacífico no âmbito da Comunidade de Países de Língua Portuguesa.
Na altura, Luís Amado manifestou interesse em visitar a região para “promover o relacionamento de Portugal com uma das regiões mais importantes para a Europa e uma região com um grande potencial para o aprofundamento de relações no plano económico e político”.
E viva tudo quanto termine em “tão”, seja Uzbequistão ou Tajiquistão. Aliás, com o Uzbequistão, Portugal só tem a aprender.
Por alguma razão, em matéria de dificuldade de trabalho para os jornalistas, a tabela é liderada pela Coreia do Norte, seguida de Mianmar (antiga Birmânia), Cuba, Líbia, Turquemenistão, Uzbequistão, Bielorússsia, Zimbabué e Guiné-Equatorial.
Mas, é claro, a culpa não é só dos políticos. Também é dos donos dos jornalistas e dos donos dos donos. Ou seja, do poder político-governativo.
Basta ver que a Imprensa do reino de Luís Amado dá mais importância ao Quirguistão do que a Angola, ao Iraque do que à Guiné-Bissau, ao Cazaquistão do que a Moçambique.
Venha a ordem de onde vier, a Comunicação Social lusitana (também nela a coluna vertebral é opcional) está a contribuir não só para assassinar a Lusofonia mas, importa dizer, para o seu próprio fim. Não serão, creio, os quirguizes, os iraquianos ou os cazaques que vão comprar os jornais, ouvir as rádios ou ver as televisões portuguesas.
Ao contrário do que aparentam quando há cimeiras da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, como aconteceu agora em Angola, os políticos e os jornalistas não entendem, nunca entenderão, que a Lusofonia deveria ser um desígnio nacional. E não entendem porque, de facto e cada vez mais de jure, já nem tirando os sapatos conseguem contar até 12.
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