O candidato à presidência da República portuguesa, Fernando Nobre, defendeu hoje que o Governo de Luanda conceda a Cabinda parte dos recursos financeiros retirados daquela colónia (província segundo ele) que deve encontrar autonomia administrativa e financeira no quadro da unidade de Angola.
Embora pudesse recordar que cerca de 70% do petróleo exportado por Angola é extraído em Cabinda, Fernando Nobre - que recentemente se rendeu à tese de que Angola vai de Cabinda ao Cunene – ficou-se pela referência à autonomia financeira.
“Acredito que Cabinda tem que encontrar a sua autonomia administrativa e financeira no quadro da unidade de Angola e que o Governo Angolano tem que conceder exactamente uma parte significativa dos recursos financeiros que são retirados de Cabinda para fazer desta uma província angolana com o desenvolvimento económico, social e cultural que sirva as populações”, disse hoje à Lusa o candidato presidencial Fernando Nobre.
Candidato que, ainda não há muito tempo, dizia: “Que o povo português nunca esqueça, apoiando-os, os povos irmãos angolano e cabinda com o qual partilha tantos laços de sangue e de História. Eles merecem”?
Co-fundador da Associação do Tratado de Simulambuco, Fernando Nobre defende, agora que mudou de opinião, que “Cabinda poderia ter sido um país independente” se “no momento da independência de Angola os fundamentos do tratado de Simulambuco tivessem sido bem entendidos”.
Mas, “como assim não aconteceu”, acrescenta, “o quadro de uma unidade nacional angolana é hoje inquestionável em termos internacionais” pelo que apela “a que as pessoas [governo angolano e a Frente de Libertação do Estado de Cabinda (FLEC)] se possam sentar à mesa das negociações e chegar por consenso a um acordo”.
E como, nessa altura (1975), Portugal resolveu varrer para debaixo do tapete todos os acordos que não interessavam ao MPLA, a rendição é – segundo Fernando Nobre – a única solução.
O apelo surge um dia depois de o “presidente” interino da FLEC, Alexandre Builo Tati, que encabeça o auto-denominado “movimento renovador” dessa organização, ter defendido o “diálogo entre angolanos e cabindas”, como via para resolver o conflito de Cabinda.
O conflito opõe os naturais de Cabinda ao resto de Angola, país ocupante desde 1975, ano da independência de Angola, com a aceitação, da parte de Portugal, de anexar Cabinda ao território angolano, rasgando todos os acordos que o MPLA entendeu necessários.
Recorde-se que alguns dos responsáveis pela entrega em saldo de Angola e de Cabinda ao MPLA ainda por aí andam, como são os casos de Mário Soares e Almeida Santos.
Fernando Nobre sublinha que “a população angolana está hoje sedenta de paz, estabilidade e desenvolvimento” e acredita na disponibilidade do governo para desenvolver negociações que ponham fim ao conflito e que permitam à população de Cabinda “olhar para o seu futuro, com confiança, sem medo e que possa alcançar o progresso que merecem, tendo em conta as riquezas fabulosas daquele território, nomeadamente o petróleo e as madeiras”.
A ser verdade que Fernando Nobre “sempre defendeu uma autonomia de Cabinda no quadro institucional angolano, como não poderia deixar de ser, tendo em conta a situação vigente”, estanha-se – no mínimo – que as autoridades angolanas tenham, em Novembro de 2007, manifestado um vivo e agressivo protesto contra diversas personalidades portuguesas como Maria Antónia Palla, Fernando Nobre, João Soares, Maria Barroso e Maria João Sande Lemos.
Tudo porque, a conferência "Caminhos para a paz" teve o apoio da "Associação Tratado de Simulambuco" e contou também com a presença do então líder parlamentar da UNITA, Alcides Sakala, bem como com os deputados Filomeno Vieira Lopes e Luís Araújo, ambos do partido Frente Para a Democracia, FPD, e do economista Justino Pinto de Andrade.
A ser verdade que Fernando Nobre “sempre defendeu uma autonomia de Cabinda no quadro institucional angolano, como não poderia deixar de ser, tendo em conta a situação vigente”, estranha-se (estanho eu) que o regime angolano tenha dito que os organizadores "pretenderam apagar ou ignorar muitos factos que demonstram a atitude dialogante e reconciliadora desde há muito assumida pelo Governo angolano, incluindo no tratamento da questão de Cabinda".
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