José Eduardo
dos Santos tinha mesmo anulado a sua
deslocação eleitoral ao Huambo porque, na verdade, nem tudo o que tinha
previsto inaugurar, como foi o caso dos centros culturais no Huambo e no
Bailundo, estava pronto.
À última
hora, por força do marketing brasileiro que dirige a campanha e pela garantia
de que o MPLA levaria para o Huambo, a tempo de aplaudir o presidente, “contratados”
do Bié, Kuanza-Sul e Benguela, Eduardo dos Santos aceitou ir, apostando tudo na
inauguração da barragem do Gove na Caála.
E enquanto o
MPLA começa a requisitar doses industriais de aspirinas perante as dores de
cabeça que as más perspectivas eleitorais criam, como é o caso do Huambo, a sua sucursal Comissão Nacional Eleitoral
(CNE) mostra que não sabe como descalçar a bota da batotice.
Pelos
vistos, estão inscritos 9.757.671 eleitores. Quem garante a veracidade deste
número? Ninguém. São esses, diz o governo do MPLA. Se o governo diz que são
esses, a CNE aceita e assina por baixo.
De acordo
com uma auditoria de Delloitte, a identificação de alguns eleitores – apenas 6.500.000,
seis milhões e meio - não pode ser
autenticada.
Diz a
CNE/MPLA que existem 1.704 eleitores na povoação da Txamba, comuna do Luachimo,
município do Chitato. Será? É que nessa localidade vivem catangueses que, em
princípio, são estrangeiros e como tal não são eleitores.
Somam-se,
contudo, os milagres de multiplicação de eleitores. A CNE garante que na povoação
de Bumba Tembo Lóvua, no Município do Chitato, na Lunda Norte, existem 992
eleitores. Fontes locais, que até não precisam de se descalçar para contar até
12, garantem que só lá vivem 200 eleitores. No mesmo município, Chilondo tem
323 eleitores. Mas a CNE diz que são 841.
Para além de
haver muitos eleitores correctamente inscritos que não aparecem registados, a
CNE/MPLA conseguiu outros não raros fenómenos típicos do regime angolano. Povoações
como Sachimica, Alegria, Ngongo, Nguji, Muleleno, no Moxico, foram pura e
simplesmente banidas e deixaram de existir.
No Moxico mais
de 70% dos eleitores, em todos os municípios fora da capital, terão de votar em
locais fora da sua residência, em alguns casos, em outros municípios, e até fora
da sua província!
Os eleitores
da Chivunda, no Liangongo, Município do Léua, por exemplo, terão de votar na
Caianda, município do Alto Zambeze, a mais de 300 quilómetros de distância.
Eleitores de Macondo, Alto Zambeze, terão de votar no Bailundo, província do
Huambo, a mais de 500 quilómetros de distância. De facto a CNE/MPLA não brinca
em serviço.
Embora se
esteja na recta final, há cerca de um milhão e meio de cartões eleitorais por
entregar. O que irá acontecer? Os seus legítimos titulares não poderão votar,
mas não há a garantia de que eventuais ilegítimos titulares não o façam.
Embora se
saiba que, tal como em 2008, milhares de eleitores que já morreram mas que
constam dos cadernos eleitorais serão chamados a votar - desde que o façam no
MPLA, há também muito milhares que estando vivos e inscritos foram banidos.
São, com certeza, cidadãos suspeitos e originários de áreas problemáticas (as
mais afectas à UNITA).
Apenas por
curiosidade registe-se que todo o Ficheiro Informático Central do Registo
Eleitoral (FICRE) está nas mãos, certamente limpas, dos igualmente impolutos
cidadãos que geram a empresa privada contratada para esse efeito, a SINFIC. O
facto de esta empresa estar ligada ao MPLA é apenas mera coincidência.
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