domingo, agosto 26, 2012

Sem Eduardo dos Santos será o fim
(como diz o general “Black Power”)


A “visão estratégica” do Presidente da República de Angola, José Eduardo dos Santos, perante a crise económica internacional, foi decisiva.

Decisiva? Sim, decisiva para a manter a estabilidade macroeconómica e desenvolver acções inseridas no processo de diversificação da economia nacional.

Ou seja, também na economia, tal como em todas as outras vertentes da vida, e da morte, dos angolanos, Deus tem um representante directo (ou será ele próprio?) no país. Sem Eduardo dos Santos seria o fim.

E quem fez este culto da personalidade ao soba foi, pois claro, o então ministro da Economia, Manuel Nunes Júnior. Se calhar mais do que um culto era uma forma de lamber as botas ao chefe de um clã que, bem vistas as coisas, representa quase 100 por cento do Produto Interno Bruto de Angola.

O então ministro dissertava durante a primeira jornada sócio-comunitária sobre “A visão estratégica de Zedú para a superação dos efeitos da crise económica e financeira mundial, em Angola”, no âmbito das comemorações do seu 67º aniversário natalício, que se comemora depois de amanhã.

E porque se trata de um aniversário, também eu me junto às louvaminhas dedicadas a José Eduardo dos Santos.

É obra. 70 anos de vida e 33 como presidente, o que faz de Eduardo dos Santos um dos políticos não eleitos (mas isso é irrelevante) há mais tempo no poder em todo o mundo.

Será isso sinal de ditadura? Não. Pelo contrário. É a democracia “made in petróleo” que mantém o MPLA no poder desde 1975.

E se terça-feira se festejam os 70 anos de vida, no próximo dia 21 de Setembro celebram-se os 33 da sucessão de Agostinho Neto.

José Eduardo dos Santos tinha 37 anos quando, a 21 de Setembro de 1979, foi investido no cargo, sucedendo a António Agostinho Neto, que tinha morrido poucos dias antes em Moscovo na sequência de uma intervenção divulgada como cirúrgica... no sentido clínico.

Nas únicas eleições presidenciais realizadas no país depois das independências proclamadas a 11 de Novembro de 1975 (uma em Luanda e outra no Huambo), José Eduardo dos Santos venceu a primeira volta, mas o resultado obtido não foi suficiente para a sua eleição. O que, em termos práticos, nada significou.

A segunda volta, que deveria ter disputado com Jonas Savimbi, na altura líder da UNITA, acabou por nunca se realizar depois do maior partido da oposição ter rejeitado os resultados eleitorais, comprovadamente viciados. Viciação repetida, embora com mais sofisticação, nas legislativas de 2008 e que deverá ter igual cenário nas legislativas/presidenciais do próximo dia 31.

Na sequência desse diferendo, o país voltou a mergulhar num conflito armado, que apenas terminou com a morte em combate de Jonas Savimbi, em Fevereiro de 2002, o que inviabilizou a conclusão do processo eleitoral iniciado dez anos antes.

No início de 2005, quando o MPLA começou a supostamente preparar a realização de eleições livres de 2008, José Eduardo dos Santos quis esclarecer as dúvidas levantadas por alguns políticos da oposição e solicitou ao Tribunal Supremo e à Assembleia Nacional que se pronunciassem sobre a questão, definindo se existiam condições para convocar as presidenciais ou se era necessário concluir o processo anterior.

A opinião dos dois órgãos, apoiada pela generalidade dos principais partidos da oposição e dos comentadores políticos, defendeu a impossibilidade de realizar a segunda volta das presidenciais de 1992, não só porque um dos candidatos morrera, mas também porque o eleitorado sofreu profundas alterações.

Em Agosto de 2001, o Presidente angolano anunciou publicamente que não tencionava voltar a candidatar-se ao cargo, remetendo-se depois ao silêncio sobre esta questão nos anos seguintes.

Esse silêncio apenas foi rompido em Abril de 2006, durante a visita a Angola do primeiro-ministro português e grande apologista do MPLA, José Sócrates, quando José Eduardo dos Santos admitiu que ainda não tinha tomado uma decisão final sobre o assunto.

Para a maioria dos analistas políticos angolanos não existia, no entanto, qualquer dúvida, manifestando a convicção de que ele seria o candidato do MPLA nas presidenciais, o que lhe permitiria ser legitimado no cargo pelo voto popular.

E a fazer fé nos resultados das legislativas, nem valeria a pena haver eleições presidenciais.

Há quem diga, por falta de melhor argumento, que dar os parabéns adiantados dá azar. Se calhar é por isso que o Alto Hama se adiantou, seja em relação ao aniversário natalício seja quanto à posse como presidente....

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