A “visão
estratégica” do Presidente da República de Angola, José Eduardo dos Santos,
perante a crise económica internacional, foi decisiva.
Decisiva?
Sim, decisiva para a manter a estabilidade macroeconómica e desenvolver acções
inseridas no processo de diversificação da economia nacional.
Ou seja,
também na economia, tal como em todas as outras vertentes da vida, e da morte,
dos angolanos, Deus tem um representante directo (ou será ele próprio?) no
país. Sem Eduardo dos Santos seria o fim.
E quem fez este
culto da personalidade ao soba foi, pois claro, o então ministro da Economia,
Manuel Nunes Júnior. Se calhar mais do que um culto era uma forma de lamber as
botas ao chefe de um clã que, bem vistas as coisas, representa quase 100 por
cento do Produto Interno Bruto de Angola.
O então ministro
dissertava durante a primeira jornada sócio-comunitária sobre “A visão
estratégica de Zedú para a superação dos efeitos da crise económica e
financeira mundial, em Angola”, no âmbito das comemorações do seu 67º
aniversário natalício, que se comemora depois de amanhã.
E porque se
trata de um aniversário, também eu me junto às louvaminhas dedicadas a José
Eduardo dos Santos.
É obra. 70
anos de vida e 33 como presidente, o que faz de Eduardo dos Santos um dos
políticos não eleitos (mas isso é irrelevante) há mais tempo no poder em todo o
mundo.
Será isso
sinal de ditadura? Não. Pelo contrário. É a democracia “made in petróleo” que
mantém o MPLA no poder desde 1975.
E se terça-feira
se festejam os 70 anos de vida, no próximo dia 21 de Setembro celebram-se os 33
da sucessão de Agostinho Neto.
José Eduardo
dos Santos tinha 37 anos quando, a 21 de Setembro de 1979, foi investido no
cargo, sucedendo a António Agostinho Neto, que tinha morrido poucos dias antes
em Moscovo na sequência de uma intervenção divulgada como cirúrgica... no
sentido clínico.
Nas únicas
eleições presidenciais realizadas no país depois das independências proclamadas
a 11 de Novembro de 1975 (uma em Luanda e outra no Huambo), José Eduardo dos
Santos venceu a primeira volta, mas o resultado obtido não foi suficiente para
a sua eleição. O que, em termos práticos, nada significou.
A segunda
volta, que deveria ter disputado com Jonas Savimbi, na altura líder da UNITA,
acabou por nunca se realizar depois do maior partido da oposição ter rejeitado
os resultados eleitorais, comprovadamente viciados. Viciação repetida, embora
com mais sofisticação, nas legislativas de 2008 e que deverá ter igual cenário
nas legislativas/presidenciais do próximo dia 31.
Na sequência
desse diferendo, o país voltou a mergulhar num conflito armado, que apenas
terminou com a morte em combate de Jonas Savimbi, em Fevereiro de 2002, o que
inviabilizou a conclusão do processo eleitoral iniciado dez anos antes.
No início de
2005, quando o MPLA começou a supostamente preparar a realização de eleições
livres de 2008, José Eduardo dos Santos quis esclarecer as dúvidas levantadas
por alguns políticos da oposição e solicitou ao Tribunal Supremo e à Assembleia
Nacional que se pronunciassem sobre a questão, definindo se existiam condições
para convocar as presidenciais ou se era necessário concluir o processo
anterior.
A opinião
dos dois órgãos, apoiada pela generalidade dos principais partidos da oposição
e dos comentadores políticos, defendeu a impossibilidade de realizar a segunda
volta das presidenciais de 1992, não só porque um dos candidatos morrera, mas
também porque o eleitorado sofreu profundas alterações.
Em Agosto de
2001, o Presidente angolano anunciou publicamente que não tencionava voltar a
candidatar-se ao cargo, remetendo-se depois ao silêncio sobre esta questão nos
anos seguintes.
Esse
silêncio apenas foi rompido em Abril de 2006, durante a visita a Angola do
primeiro-ministro português e grande apologista do MPLA, José Sócrates, quando
José Eduardo dos Santos admitiu que ainda não tinha tomado uma decisão final
sobre o assunto.
Para a
maioria dos analistas políticos angolanos não existia, no entanto, qualquer
dúvida, manifestando a convicção de que ele seria o candidato do MPLA nas
presidenciais, o que lhe permitiria ser legitimado no cargo pelo voto popular.
E a fazer fé
nos resultados das legislativas, nem valeria a pena haver eleições
presidenciais.
Há quem
diga, por falta de melhor argumento, que dar os parabéns adiantados dá azar. Se
calhar é por isso que o Alto Hama se adiantou, seja em relação ao aniversário
natalício seja quanto à posse como presidente....
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