O regime
angolano do MPLA é, de facto e de jure, um exemplo de tudo quanto contraria a
democracia. Não deixa, contudo, de satisfazer as verdadeiras democracias para
quem é melhor, muito melhor, negociar com ditaduras.
Em alguma
democracia séria, em algum Estado de Direito, se vê o Chefe do Estado Maior das Forças
Armadas dizer, em plena campanha eleitoral, que um dos candidatos – mesmo que
seja o actual presidente da República - marcou
a sua postura “por momentos de sacrifício e glória”, permitindo “a Angola
preservar a independência e soberania nacionais, a consolidação da paz, o
aprofundamento da democracia, a unidade e reconciliação entre os angolanos, a
reconstrução do país, bem como a estabilidade em África e em particular nas
regiões Austral e Central do continente"?
Não. Nas
democracias seria impossível o Chefe do Estado
Maior das Forças Armadas ter manifestações públicas deste género, tomando
partido por um dos candidatos. Em democracia, os militares são apartidários.
Mas como
Angola não é uma democracia, muito menos um Estado de Direito, o Chefe Estado
Maior das Forças Armadas, general Geraldo Sachipengo Nunda, resolveu fazer
campanha em prol de um dos candidatos, no caso – obviamente – José Eduardo dos
Santos.
E o que
disse a Comissão Nacional Eleitoral? E o que disseram os observadores
eleitorais? E o que disse a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP)?
Nada. Ou seja, corroboraram pelo silêncio a partidarização das Forças Armadas
de Angola em favor de um dos candidatos.
Recorde-se
que Geraldo Sachipengo Nunda foi um dos militares que comandaram a caça, e
posterior morte em combate, a Jonas Savimbi. Nunda foi, aliás, um dos generais
das FALA (Forças Armadas de Libertação de Angola) a quem Savimbi ensinou tudo e
que, por um prato de lagostas, o traíram.
Geraldo
Nunda já no final do ano passado disse que com a promulgação e entrada em vigor
da Constituição da República de Angola "o país entrou numa nova etapa
histórica do seu desenvolvimento". Referia-se, recorde-se, à Constituição
que aboliu a eleição presidencial.
É, aliás,
admirável a forma como os militares angolanos estão sempre a falar da
necessidade da preservação da paz (já cimentada há dez anos), da Constituição e
do culto a José Eduardo dos Santos. Nunca pensei ver Geraldo Sachipengo Nunda a
embarcar numa fantochada deste tipo em que, creio, nem ele próprio acredita.
Mas…
"A reconstrução
nacional tem permitido a normalização da vida em todo o território
nacional", diz Geraldo Sachipengo Nunda, acrescentando que existem sinais
visíveis de um país que renasce após longos anos de guerra.
Que a guerra
em Angola, como qualquer outra, deu cabo do país é uma verdade incontestável.
Também é verdade que o país está a crescer, embora esse crescimento só esteja a
ser feito para um dos lados (para aquele que está com o regime).
Mas será que
Geraldo Sachipengo Nunda se esqueceu da Angola profunda, daquela onde o povo, o
seu povo, é gerado com fome, nasce com fome e morre pouco depois com fome?
Será que
Geraldo Sachipengo Nunda se esqueceu que o seu actual presidente (Eduardo dos
Santos), a sua Constituição, o seu regime, considera um crime contra o Estado
ter opiniões diferentes das oficiais? Será por isso que teve de lamber as botas
ao candidato José Eduardo dos Santos?
Não será
altura de Geraldo Sachipengo Nunda se
interrogar das razões que levam a que em Angola uns poucos tenham muitos
milhões, e muitos milhões não tenham nada?
Não deixa de
ser curioso, pelo menos para mim, ver Geraldo Sachipengo Nunda a dizer que são
prioridades das FAA a preparação
operativa, combativa e de educação patriótica, transmitindo a vontade e a
determinação do Exército de vencer os obstáculos e constrangimentos para que os
efectivos disponham de melhores condições e o processo da sua gradual
renovação.
Segundo
Geraldo Sachipengo Nunda, em declarações ao Semanário Angolense a propósito da
morte de Jonas Savimbi, outros dois antigos coronéis das FALA, Kivo e Calado,
também comprados pelo MPLA a troco da traição não só a Savimbi como a uma
grande parte do povo angolano, estiveram na última linha de combate em
perseguição de Savimbi, e viram-no a sucumbir aos disparos.
Uma hora
depois do líder rebelde ter sido morto, já o general Geraldo Sachipengo Nunda
(certamente com mais uma estrela nos ombros), que estava em permanência no posto
de comando dessa operação no Luena, chegava ao local na companhia de outros
altos responsáveis militares governamentais, entre os quais os generais Hélder
Vieira Dias "Kopelipa" e Hanga, bem como o sub-comissário Panda.
Não se sabe
ao certo, mas é curial pensar-se que Geraldo Sachipengo Nunda tenha manifestado
a sua satisfação pela morte de Savimbi, não fosse o MPLA arrepender-se das
mordomias que lhe dera.
Seja como
for, Geraldo Sachipengo Nunda está muito bem onde está e terá sempre consigo os
louros de ter traído Jonas Savimbi, a UNITA e o povo que ela representava.
E cesteiro
que faz um cesto...
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