quarta-feira, agosto 29, 2012

Forças Armadas de Angola, supostamente apartidárias, apoiam o candidato do MPLA


O regime angolano do MPLA é, de facto e de jure, um exemplo de tudo quanto contraria a democracia. Não deixa, contudo, de satisfazer as verdadeiras democracias para quem é melhor, muito melhor, negociar com ditaduras.

Em alguma democracia séria, em algum Estado de Direito, se vê o Chefe do Estado Maior das Forças Armadas dizer, em plena campanha eleitoral, que um dos candidatos – mesmo que seja o actual presidente da República -  marcou a sua postura “por momentos de sacrifício e glória”, permitindo “a Angola preservar a independência e soberania nacionais, a consolidação da paz, o aprofundamento da democracia, a unidade e reconciliação entre os angolanos, a reconstrução do país, bem como a estabilidade em África e em particular nas regiões Austral e Central do continente"?

Não. Nas democracias seria impossível o  Chefe do Estado Maior das Forças Armadas ter manifestações públicas deste género, tomando partido por um dos candidatos. Em democracia, os militares são apartidários.

Mas como Angola não é uma democracia, muito menos um Estado de Direito, o Chefe Estado Maior das Forças Armadas, general Geraldo Sachipengo Nunda, resolveu fazer campanha em prol de um dos candidatos, no caso – obviamente – José Eduardo dos Santos.

E o que disse a Comissão Nacional Eleitoral? E o que disseram os observadores eleitorais? E o que disse a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP)? Nada. Ou seja, corroboraram pelo silêncio a partidarização das Forças Armadas de Angola em favor de um dos candidatos.

Recorde-se que Geraldo Sachipengo Nunda foi um dos militares que comandaram a caça, e posterior morte em combate, a Jonas Savimbi. Nunda foi, aliás, um dos generais das FALA (Forças Armadas de Libertação de Angola) a quem Savimbi ensinou tudo e que, por um prato de lagostas, o traíram.

Geraldo Nunda já no final do ano passado disse que com a promulgação e entrada em vigor da Constituição da República de Angola "o país entrou numa nova etapa histórica do seu desenvolvimento". Referia-se, recorde-se, à Constituição que aboliu a eleição presidencial.

É, aliás, admirável a forma como os militares angolanos estão sempre a falar da necessidade da preservação da paz (já cimentada há dez anos), da Constituição e do culto a José Eduardo dos Santos. Nunca pensei ver Geraldo Sachipengo Nunda a embarcar numa fantochada deste tipo em que, creio, nem ele próprio acredita. Mas…

"A reconstrução nacional tem permitido a normalização da vida em todo o território nacional", diz Geraldo Sachipengo Nunda, acrescentando que existem sinais visíveis de um país que renasce após longos anos de guerra.

Que a guerra em Angola, como qualquer outra, deu cabo do país é uma verdade incontestável. Também é verdade que o país está a crescer, embora esse crescimento só esteja a ser feito para um dos lados (para aquele que está com o regime).

Mas será que Geraldo Sachipengo Nunda se esqueceu da Angola profunda, daquela onde o povo, o seu povo, é gerado com fome, nasce com fome e morre pouco depois com fome?

Será que Geraldo Sachipengo Nunda se esqueceu que o seu actual presidente (Eduardo dos Santos), a sua Constituição, o seu regime, considera um crime contra o Estado ter opiniões diferentes das oficiais? Será por isso que teve de lamber as botas ao candidato José Eduardo dos Santos?

Não será altura de Geraldo Sachipengo Nunda  se interrogar das razões que levam a que em Angola uns poucos tenham muitos milhões, e muitos milhões não tenham nada?

Não deixa de ser curioso, pelo menos para mim, ver Geraldo Sachipengo Nunda a dizer que são prioridades das FAA a  preparação operativa, combativa e de educação patriótica, transmitindo a vontade e a determinação do Exército de vencer os obstáculos e constrangimentos para que os efectivos disponham de melhores condições e o processo da sua gradual renovação.

Segundo Geraldo Sachipengo Nunda, em declarações ao Semanário Angolense a propósito da morte de Jonas Savimbi, outros dois antigos coronéis das FALA, Kivo e Calado, também comprados pelo MPLA a troco da traição não só a Savimbi como a uma grande parte do povo angolano, estiveram na última linha de combate em perseguição de Savimbi, e viram-no a sucumbir aos disparos.

Uma hora depois do líder rebelde ter sido morto, já o general Geraldo Sachipengo Nunda (certamente com mais uma estrela nos ombros), que estava em permanência no posto de comando dessa operação no Luena, chegava ao local na companhia de outros altos responsáveis militares governamentais, entre os quais os generais Hélder Vieira Dias "Kopelipa" e Hanga, bem como o sub-comissário Panda.

Não se sabe ao certo, mas é curial pensar-se que Geraldo Sachipengo Nunda tenha manifestado a sua satisfação pela morte de Savimbi, não fosse o MPLA arrepender-se das mordomias que lhe dera.

Seja como for, Geraldo Sachipengo Nunda está muito bem onde está e terá sempre consigo os louros de ter traído Jonas Savimbi, a UNITA e o povo que ela representava.

E cesteiro que faz um cesto...

Sem comentários: