Recordam-se
que os jornalistas do diário Le Figaro denunciaram no dia 17 de Julho de 2009 a
publicação em 2008 de sondagens "encomendadas", segundo eles, pela
presidência francesa?
Acrescente-se
que, na altura, a deputada socialista Delphine Batho, porta-voz da ex-candidata
às presidenciais Ségolène Royal, denunciou "um sistema de
instrumentalização da opinião e de conivência entre o poder, um instituto de
sondagem e alguns órgãos de comunicação".
Na
comunicação social portuguesa começam a circular informações sobre sondagens relativas
às eleições do próximo dia 31 em Angola e que, obviamente, dão a vitória
folgada ao partido que está no poder desde 1975, o MPLA.
Em Maio
deste ano a empresa de sondagens Gallup divulgou que o presidente de Angola, há
33 anos no poder sem nunca ter sido
eleito, José Eduardo dos Santos, era o
dirigente menos popular na África subsaariana, sendo que apenas 16% dos
angolanos aprovam o seu desempenho.
Obviamente
que não acredito. Como é que só 16% dos angolanos aprovam José Eduardo dos
Santos quando todos sabem, sobretudo pelos ensinamentos dados pela barriga
vazia, que ele é não só o sumo pontífice do país como o mais alto representante
de Deus na terra?
A sondagem,
levada a cabo o ano passado em 34 países da África subsaariana, indica ainda
que 78% desaprovam da sua actuação como presidente do MPLA e de Angola (é tudo
a mesma coisa).
A Gallup não
deveria, na minha opinião, divulgar estes dados. É que se, por qualquer acaso,
o dono de Angola levar a sério a sondagem, lá vai fazer com que a sua vitória
seja superior a 80%, valor mínimo aceitável para quem herdou dos portugueses um
deserto e em 37 anos o transformou num país como é aquele que hoje é sono de
Portugal.
Diz a Gallup
que em relação ao governo do MPLA, também só 16% aprovam o seu trabalho. Nem
poderia ser de outra forma. José Eduardo dos Santos é sinónimo de tudo;
partido, governo, presidência, petróleo, economia, Portugal etc. Assim sendo, o
país é só ele e o resto é paisagem.
É claro que
se os angolanos fossem livres, certamente que Eduardo dos Santos não teria
muito mais que os tais 16% de votos. Mas não são. E entre comer peixe podre,
fuba podre e ter direito a 50 angolares
e nada ter para alimentar a barriga, os angolanos escolhem o MPLA, mesmo
que apanhem porrada se refilarem.
Em Angola,
mais de 68% da população vive em pobreza extrema e a taxa estimada de
analfabetismo é de 58%. A dependência sócio-económica a favores, privilégios e
bens, ou seja, o cabritismo, é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os
angolanos. O silêncio de muitos, ou omissão, deve-se à coação e às ameaças do
partido que está no poder desde 1975.
Em Angola, a
corrupção política e económica é, hoje como ontem, utilizada contra todos os
que querem ser livres. O acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital
accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações
dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias
ligadas ao regime no poder.
Por muito
que nos areópagos da CPLP (bem comidos e bebidos) se diga o contrário, a
verdade é que pela “Constituição” do
MPLA (dizer que é de Angola é o mesmo que dizer que é o povo quem manda na
Sonangol), o Presidente da República é o “cabeça de lista” (ou seja o deputado
colocado no primeiro lugar da lista), do partido mais votado, eleito pelo
círculo nacional nas eleições para a Assembleia Nacional.
Não é uma
eleição indirecta, feita pelo parlamento (como acontece por exemplo na
República da África do Sul), mas uma vigarice típica dos regimes a quem não
basta ser totalitário.
Assim, o
futuro presidente (José Eduardo dos Santos) é o primeiro deputado da lista do
partido mais votado, mesmo que esse partido tenha apenas 25% dos votos
expressos. Por outras palavras, para ter a certeza de que não vai perder as
eleições presidenciais, José Eduardo dos Santos pura e simplesmente acabou com
elas.
Sobre os
contrastes que existem em Angola, ou seja, a de país rico em recursos naturais
como petróleo e diamante e os seus altos níveis de pobreza, questão colocada
por uma jornalista alemã na altura da visita de Ângela Merkel a Luanda, o dono
de Angola disse “só pode chegar a esta conclusão quem não conheceu Angola antes
da independência e o percurso até agora”.
Nem mais. Só
faltou dizer aos portugueses para continuarem como até aqui, quietos, calados e
de cócoras para não obrigarem José Eduardo dos Santos a fazer com mais
veemência o que está a ser feito por Passos Coelho: pô-los a peixe podre, fuba
podre, cinquenta angolares e, é claro, também sujeitos a porrada se refilarem…
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