Enquanto os generais
no activo, violando a própria Constituição de Angola, dão apoio público ao
MPLA, o ex-militares dão um ultimato ao regime. E assim vai o reino de José
Eduardo dos Santos.
Assim, o
presidente não eleito e há 33 anos no poder, até ao próximo dia 15 para
responder às reivindicações dos ex-militares que, durante uma vida, andaram a
matar-se uns aos outros na defesa de causas diferentes.
O ultimato
foi dado pelo coordenador da Comissão de Ex-Militares Angolanos (COEMA), general
na reforma Silva Mateus: "Até hoje mantivemos uma atitude de espera. A
partir deste momento, até ao dia 15 deste mês, nós aqui e agora acendemos um
intermitente de luz laranja. Do dia 15 para cima entraremos na linha vermelha e
não haverá mais conversa", frisou.
"Não
haverá mais conversa e nós iremos decidir o que fazer depois do dia 15 de Agosto.
Sairemos à rua a qualquer momento se o comandante-em-chefe, presidente da
República e chefe do Executivo não for sensível em atender a nossa
preocupação", acrescentou o general, mostrando que em tempo de paz a luta
continua, embora a vitória não seja certa.
Em causa
estão os pagamentos em atraso, nalguns casos desde 1992, a ex-militares. Por
outras palavras, os ex-militares percebem agora que, ao contrário do que dizia
Agostinha Neto, o importante não é resolver os problemas do Povo. Aliás, o
regime nem sequer sabe que existe Povo.
Segundo
Silva Mateus são cerca de 60 mil os ex-militares nestas condições, abarcando
cinco mil soldados, sargentos e oficiais que desde 1992 deixaram de receber os
vencimentos estabelecidos, e também os que foram desmobilizados depois daquele
ano, e que receberam as guias da Caixa Social das Forças Armadas mas que,
quando vão receber, são informados que não há dinheiro.
Mas há mais.
Também lá estão os que não tendo sido desmobilizados continuam a ser militares
e não recebem, mais os 250 efectivos do processo "27 de Maio", que
aguardam o pagamento da pensão de reforma, os 402 do Batalhão Comando Ex-Tigres, que lutaram na vizinha República Democrática
do Congo, que têm direito a subsídios desde 2007 e que só receberam o
correspondente a 2012.
Segundo
Silva Mateus, fazem também parte daquele total de 60 mil, os 32.600 antigos
militares dos antigos braços armados da UNITA (FALA) e da FNLA (ELNA), ainda 18
mil oficiais que passaram à reforma e os que integraram a chamada Defesa Civil,
então tutelados pelo Ministério da Defesa Nacional e integrados nos governos
provinciais na última guerra civil (1998/2002) e, finalmente, os que estavam
integrados na Segurança do Estado, nas chamadas Tropas Territoriais, na
Organização de Defesa popular e nas Brigadas Populares de Vigilância.
A exigência
da COEMA consiste na criação por parte do Estado de uma comissão conjunta
bilateral que avalie todas estas situações.
"Os actuais
dirigentes, tanto a nível do Ministério da Defesa Nacional como da Chefia do
Estado-Maior General das Forças Armadas Angolanas não conhecem, não têm
perceção da dimensão deste dossiê", acusou Silva Mateus.
"Será
que estas entidades não têm conhecimento da existência deste dossiê e desta
demanda dos militares ao Estado, e, se têm, porque não reagem? Estão à espera
de quê? Que os militares percam a paciência e saiam à rua para serem apelidados
de arruaceiros", questionou.
Silva Mateus
assegurou que "não serão meia dúzia de generais de barriga cheia" que
impedirão os ex-militares de sair à rua, caso estes continuem sem receber um
sinal de disponibilidade para o diálogo.
"Se nós
não quisermos, não haverá eleições. Se os dirigentes, nomeadamente o presidente
da República, continuarem a fingir que não nos ouvem, ele será o responsável de
tudo o que vai acontecer", concluiu o general.
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