A quinta
região académica de Angola, com sede na cidade do Huambo, vai contar,
brevemente, com uma cidade universitária com a capacidade de albergar mais de 40
mil estudantes e que se localizará no Cambiote.
Como é
hábito, o lançamento da primeira pedra para a construção da cidade
universitária deu-se estrategicamente durante a campanha eleitoral e coube ao
ministro do Urbanismo e Construção, Fernando da Fonseca.
E, como em
qualquer democracia que privilegia o culto do chefe, a cidade universitária vai
chamar-se José Eduardo dos Santos, um presidente há 33 anos no poder sem ser
eleito, reconhecido vulto da cultura, da democracia, do estado de direito do
país e, é claro, figura querida nas terras do planalto central, região maioritariamente
habitada por um subespécie de angolanos que o regime chama de kwachas.
"O país
está de facto a mudar para melhor e há avanços e crescimento em todos os
domínios", mas para o MPLA, defende José Eduardo dos Santos, importa que
"o desenvolvimento social seja tão dinâmico como tem sido o crescimento
económico".
Ou não se
estivesse em campanha eleitoral, o dono do país
diz que "muito ainda está
por fazer", mas mostra-se convicto da "nova Angola" que está a
surgir, "pronta para iniciar uma nova etapa da sua história, na qual todos
os nossos esforços estarão voltados para os mais desfavorecidos, aqueles que
mais sofrem porque têm pouco ou quase nada".
Por outras
palavras, e porque o MPLA é Angola e Angola é o MPLA, o partido só precisa de
estar no poder aí mais uns 30 anos para que, como dizia Agostinho Neto, o
importante volte a ser a resolução dos problemas do Povo.
Sem se
comprometer com metas (assim recomendam os seus assessores brasileiros e
portugueses), como sucedeu nas promessas de criação de empregos ou a construção
de um milhão de casas, feitas em 2008, José Eduardo dos Santos diz agora algo
mais vago mas dentro das bitolas dos estados de direito (coisa que Angola não
é). Isto é, o futuro passa por um
Programa de Estabilidade, Crescimento e Emprego.
"Através
dele vamos unir, ampliar e acelerar as iniciativas destinadas a garantir mais
empregos, aumentar a oferta de água e energia, melhorar os serviços de Educação
e Saúde, a estimular a produção nas zonas rurais e a incentivar a criação e o
fortalecimento das micro, pequenas e médias empresas angolanas", explicou
Eduardo dos Santos.
E, como não
poderia deixar de ser, o presidente vitalício garantiu que o MPLA "fará a
sua parte para a manutenção de um clima de paz, tolerância, harmonia e
confiança" no processo eleitoral em curso.
E fará com
certeza. Ninguém duvida que os mortos vão voltar a votar no MPLA, ou que em
algumas secções vão aparecer mais votos do que eleitores inscritos. Tal como
ninguém duvida que na maioria dos areópagos políticos mundiais, começando por
Lisboa, o discurso de felicitações pela vitória do MPLA já está escrito.
Creio,
sinceramente, que o MPLA só não resolveu os problemas do Povo porque os oitenta
e tal por cento conseguidos nas eleições anteriores foram insuficientes. Será
preciso o quê? 110%? Se é isso basta agora esperar pelos resultados do próximo
dia 31.
José Eduardo
dos Santos disse, no dia 6 de Outubro de... 2008, que o Governo ia aplicar mais
de cinco mil milhões de dólares num programa de habitação que inclui a
construção de um milhão de casas.
A construção
de um milhão de casas para as classes menos favorecidas de Angola e jovens foi,
aliás, uma das promessas da então campanha eleitoral mais enfatizadas pelo
Presidente da República de Angola e do MPLA.
José Eduardo
dos Santos admitia, modesto como é, que "não seria um exercício
fácil", tendo em conta que o preço médio destas casas, então calculado em
cerca de 50 mil dólares. Apesar de tudo, com a legitimidade eleitoral de quem
só não passou os 100% de votos porque não quis, assegurou que "já se
estava a trabalhar" nesse sentido.
O presidente
anunciou igualmente na altura (2008) que seria "cada vez mais acentuada" a
preocupação com a urbanização das cidades angolanas e que serão
"incentivadas políticas que diminuam a circulação automóvel nos centros
dos grandes aglomerados urbanos.
Foi bonito,
não foi? É quase poesia. Tão bem escrita e declamada que conseguiu embalar os 70%
de angolanos que viviam na miséria. Viviam e, quatro anos depois, continuam a
viver na miséria.
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