O Aristides
é um velho amigo que vive, sempre viveu, no Huambo. Sempre foi do MPLA. Hoje
fartou-se de ganhar dinheiro com as eleições.
Explicou-me
que ganha um tanto (“mesmo muito”, segundo diz) por cada vez que vai votar.
Recebeu uma lista (“e como eu há muitos mais”, acrescenta) com os locais onde
deve votar, em nome de quem deve votar, não sendo necessário – é claro – dizer em
quem deve votar.
- Mas então
como é que resolves essa questão da tinta no dedo?, perguntei com a minha
habitual ingenuidade.
- Essa
questão, explicou-me, não se coloca aos que votam neste sistema. Nos locais
escolhidos não tenho que pôr o dedo no tinteiro. Voto e vou-me embora para nova
votação.
- Mesmo
assim, e como é que te identificas? Não podes dar sempre o teu nome porque só
votas num local. Certo?
- Certo.
Nesses locais, tal como acontece com a tinta, digo apenas o meu suposto nome,
eles dão baixa, eu voto e vou embora.
- Seja. E se
depois aparece o verdadeiro cidadão pelo qual tu votaste?
- Não. Esse
não aparece de certeza. É que eu voto em todos aqueles que já wafa (morreram).
- Boa. E
para além de votares em nome dos mortos, nesse esquema também se pode votar em
nome de outros cidadãos?
- É claro
que pode. Há muita gente que vive no Lubango e que deveria votar no Huambo.
Estás mesmo a ver esse pessoal a fazer centenas de quilómetros para votar?
É a
democracia do MPLA no seu melhor!
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