O líder da
UNITA, Isaías Samakuva, continua a acreditar – apesar das evidências que até os
cegos vêem – que Angola é o que não é: um Estado de Direito democrático.
Então não é
que hoje, em Luanda, quando falava a milhares de apoiantes (o MPLA garante que
não chegaram a mil) que participaram na manifestação de protesto, Samakuva disse estranhar a ausência de observadores da
União Europeia (UE) nas eleições gerais em Angola?
Francamente.
A esmagadora maioria dos observadores, a começar pelos da UE, estão ou estarão
em Angola para subscrever as teses do regime do MPLA, sejam elas quais forem. E
para isso, convenhamos, não precisam de estar no país. Já hoje podem dizer que as
eleições do dia 31 de Agosto foram justas e transparentes.
Como se isso
não fosse bastante, Isaías Samakuva
voltou a acusar o Governo angolano de recusar a emissão de vistos a
observadores estrangeiros. e referiu-se
à ausência da União Europeia.
Há muito
tempo que Isaías Samakuva mostrou ao mundo que as democracias ocidentais estão
a sustentar um regime corrupto e um partido que quer perpetuar-se no poder. E
de que lhe valeu isso?
Embora
reconheça que o 4 de Abril de 2002 representou "o início de uma nova etapa
do processo político angolano", a UNITA lamenta que continuem por se
cumprir "os objetivos políticos preconizados no âmbito da democratização e
da reconciliação nacional".
Para o maior
partido da oposição, as reformas previstas nos vários Acordos de Paz, para a
criação de "um verdadeiro Estado de Direito Democrático em Angola e para o
estabelecimento de um sistema de Governo realmente democrático, apenas
conheceram passos muito tímidos".
Pois é. As
liberdades fundamentais dos angolanos, constitucionalmente consagradas,
continuam coartadas com a intensificação, nos últimos tempos, de actos de
intolerância política praticados em quase todo o país, de forma coordenada, por
elementos afectos ao partido no poder que, perante o silêncio conivente das
autoridades do país, destroem propriedades, símbolos partidários e causam
desaparecimentos, ferimentos e perda de vidas humanas entre militantes e
membros de partidos na oposição, sobretudo os da UNITA.
Creio que
pouco, ou nada, adianta hoje continuar a defender que a UNITA deve ser salva
pela crítica e não assassinada pelo elogio. Apesar disso, tenho um compromisso
moral com o que Jonas Savimbi me disse, em 1975, no Huambo: “a UNITA, tal como
Angola, não se define – sente-se”. Por isso...
Alguém se
lembra de que, como estão as coisas, nunca será resgatado o compromisso de
Muangai?
A UNITA
mostrou até agora, é verdade, que sabe o que é a democracia e adoptou-a, embora
nem sempre da forma mais transparente. Tê-lo-á feito de forma consciente? Tenho
algumas dúvidas, sobretudo depois das manipulações e vigarices eleitorais de
que foi vítima, que já não esteja arrependida.
Depois da
hecatombe eleitoral de 2008, provocada também pela ingenuidade da UNITA
acreditar que Angola caminha para a democracia, Samakuva alterou os jogadores,
a forma de jogar e prometeu pôr o Galo Negro a voar.
Creio,
contudo, que o líder da UNITA conseguiu juntar alguns bons jogadores mas
esqueceu-se que não bastam bons jogadores para fazer uma boa equipa. Dia 31
ver-se-á quem tem razão.
Muitos
desses craques, tal como queria o MPLA, não conseguem olhar para além do umbigo, do próprio
umbigo. Ou seja, olham para o mensageiro e não para a mensagem. Habituaram-se à
lagosta e esqueceram a mandioca.
Em 2008 o
mundo ocidental esteve de olhos fechados (nem sequer vale a pena falar de
Portugal porque esse só vê o que o MPLA deixa) para o enorme exemplo que a
UNITA deu. Em 2003, abriu bem os olhos porque esperava o fim do partido. Em
2012 adoptou as leis do MPLA: só os cegos podem manifestar-se sobre o que vêem
em Angola.
Agora
estamos a ver que ao Ocidente basta uma UNITA com 10% dos votos para dar um ar
democrático à ditadura do MPLA. Aliás, por alguma razão o Ocidente não reagiu
às vigarices, às fraudes protagonizadas pelo MPLA. E não reagiu porque não lhe
interessa que a democracia funcione em Angola. É sempre mais fácil negociar com
as ditaduras.
A
democracia, quando existe, tem parâmetros que a definem. E esses não existem em
Angola. Alguém vê os tribunais a julgar? Não. Alguém vê o Parlamento a
legislar? Não. Alguém vê o Governo a governar? Não.
Quem manda,
quem se substitui aos tribunais, à Assembleia Nacional e ao Governo é uma
entidade não eleita que dá pelo nome de Presidente da República.
Segundo a
UNITA, o Presidente da República “é apenas um dos vários poderes constituídos
da República”. Errado. Seria assim se, de facto e de jure, Angola fosse o tal
Estado de Direito Democrático.
Como não é,
o Presidente (da República e do MPLA) é o único poder existente. Ele tem o
poder absoluto que, aliás, tem a cobertura da comunidade e instituições
internacionais, mau grado não ter sido eleito.
Ao acreditar
na democracia, ao querer para Angola um Estado de Direito, a UNITA dá um bom
exemplo que, contudo, não tem impacto interno e muito menos externo.
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