Ao que
parece, o direito à indignação virou lei da selva e há quem julgue que Portugal
já é (se calhar é mesmo) um país onde vale tudo. Todos se esquecem que se criticar
é um direito, ofender é um crime.
Por muitas
razões que tenham (e têm) os membros da Comissão de Utentes da Via do Infante
(A22) deveriam manifestar-se contra as políticas do primeiro-ministro,
abstendo-se de o fazer quando ele se desloca com a mulher e a filha para a
praia.
Admitindo
que os membros da Comissão de Utentes da Via do Infante não são responsáveis
pela eleição de Pedro Passos Coelho, se calhar a filha do primeiro-ministro
também não é responsável nem culpada do pai que tem.
Pelos
vistos, os portugueses sabem que é muito bom pensar e agir com liberdade.
Esquecem-se, contudo, que é muito melhor agir com rectidão.
O respeito é
muito bonito e, creio, todos gostamos. No que ao primeiro-ministro de Portugal
respeita, enganou-me uma vez que foi a primeira e a última. Isso não me dá direito
de o ofender e de, esquecendo as mais elementares regras de civismo, entrar pelo
insulto soez, torpe e ordinário. E, muito menos, de o fazer quando ele está acompanhado
pela filha de cinco anos.
Criticar Passos
Coelho? É claro que sim. Tenho-o feito, continuarei a fazê-lo, de forma
incisiva e por vezes violenta mas, é claro, levando em conta que se a liberdade
dele termina onde começa a minha, a minha termina onde começa a dele.
Aliás, as
ideias de poder (tão típicas do actual primeiro-ministro) só se devem combater
com o poder das ideias. E este não passa por ofender o pai na presença de uma
filha criança, não passa por – como fizeram no dia 8 de Julho de 2009 os estivadores junto à Assembleia da
República – dizer: "Sócrates, escuta, és um filho da p..." e "O
Sócrates não cumpriu, vai para a p... que o pariu".
A melhor
forma de se defender a democracia, a liberdade, a justiça social e a
alternância democrática num estado de direito não é, creio, entrar no sistema
de vale tudo… até mesmo fazer chorar a filha do primeiro-ministro.
Assim não.
Não basta dizer o que se pensa, é preciso pensar no que se diz.
2 comentários:
Orlando de Castro já me habituara a textos bem conseguidos, portanto não é surpresa mais uma óptima lição de como através do texto se consegue ser Jornalista de eleição. Parabéns, Amigo Orlando. Ser um Homem sério e honesto,já é uma grande virtudenos tempos que atravessamos. Ser um Jornalista exemplar na arte de escrever, na garra e no sonho da Verdade, é a melhor herança que o Jornalismo pode arrecadar para todo o sempre. Abração. Jaime de Saint Maurice
Ah. Mas nao foi esse cometário a elogiar o jornalista que escrevi...
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