Discursando
este fim-de-semana no Estádio Nacional de Ombaka (Benguela) o ministro dos Antigos Combatentes e Veteranos
da Pátria, general Kundi Paihama, disse que os que lutarem contra o MPLA e
contra José Eduardo dos Santos “vão ser varridos”.
E se Kundi
Paihama o diz é porque vai mesmo fazer isso. O regime angolano, ou seja o MPLA,
há muito que começou –embora de forma mais subtil - a pôr a razão da força acima
da força da razão, mostrando que só é possível haver paz e democracia em Angola
se tudo continuar na mesma.
Ao que
parece, e ao contrário do que aconteceu em 2008, o regime tem indicações fidedignas
de que, desta vez, os mortos se recusem a votar no MPLA. Isso não é, reconheço,
impeditivo de uma solução alternativa, testada com êxito nas anteriores
eleições, em que em alguns círculos eleitorais apareçam mais votos do que
votantes.
Se se
estivesse a falar de um Estado de Direito e de uma comunidade internacional
honesta, seria criticável que o partido que governa Angola desde 11 de Novembro
de 1975, que tem como seu líder carismático e presidente da República alguém
que está no poder há 33 anos, sem ter sido eleito, sentisse necessidade de usar
a intimidação violenta para ganhar eleições.
Mas como nada disso se passa, tudo vai
continuar a ser feito por medida e à medida do MPLA. É para isso que o petróleo
existe.
E porque o
regime só reconhece a existências de um único deus, Eduardo dos Santos, não
admite que existam dúvidas, não aceita que a sua liberdade termine onde começa
a do Povo. Vai daí, intimida, ameaça, espanca, rapta e mata quem tiver a
veleidade de contrariar o “querido líder”.
Como dizia o
bispo emérito de Cabinda, Paulino Madeca, “quando um político entra em conflito
com o seu próprio povo, perde a sua credibilidade, torna-se um eterno ditador”.
É o caso de Eduardo dos Santos.
Por alguma
razão Kundi Paihama, tal como os restantes “Bentos Bentos” do regime, continua
a pedir aos militantes do seu partido para que controlem
"milimetricamente" todas as acções da oposição, para não serem
"surpreendidos".
Na senda do
que tem feito ao longo dos anos, o MPLA acusa a Oposição de enveredar por
"manifestações violentas e hostis, provocando vítimas, inventando vítimas,
incentivando a desobediência civil, greves e tumultos, provocando esquadras e
agentes e patrulhas da polícia com pedras, garrafas e paus".
Certamente
graças ao árduo trabalho de Kundi Paihama, o MPLA diz que tem em seu poder
“informações secretas que apontam que a UNITA e outros opositores estão prestes
a levar a cabo um plano B".
Plano que prevê,
segundo os etílicos delírios dos dirigentes da ditadura angolana, "uma insurreição a nível nacional, tipo
Líbia, Egipto, Tunísia e Síria", sendo as províncias de Luanda, Huambo,
Huíla, Benguela e Uíge as visadas.
Sempre que
no horizonte se vislumbra, mesmo que seja uma hipótese remota, a possibilidade
de alguma mudança, o regime dá logo
sinais preocupantes quanto ao medo de perder as eleições e de ver a UNITA, só e
ou em coligação, a governar o país.
Para além do
domínio quase total dos meios mediáticos, tanto nacionais como estrangeiros, o
MPLA aposta forte numa estratégia que tem dado bons resultados. Isto é, no
clima de terror e de intimidação. E para esse papel, reconheça-se, não ninguém
melhor do que Kundi Paihama.
Aliás, um
dia destes vamos ver por aí Kundi Paihama afirmar que todos aqueles que têm,
tiveram, ou pensam ter qualquer tipo de armas são terroristas da UNITA que devem
“ser varridos”.
E, na
ausência de melhor motivo para aniquilar os adversários que, segundo o regime,
são isso sim inimigos, o MPLA poderá sempre jogar a cartada que tem na primeira
linha das suas opções e que é tão do
agrado das potências internacionais, e que é a de que há perigo de terrorismo, de guerra civil.
Kundi
Paihama não tardará (por ele já o teria feito) a redescobrir mais uns tantos
exércitos espalhados pelas terras onde a UNITA tem mais influência política,
para além de já ter dito que quem falar contra o MPLA vai para a cadeia,
certamente comer farelo.
Tal como
mandam os manuais, o MPLA começa a subir o dramatismo para, paralelamente às
enxurradas de propaganda, prevenir os angolanos de que ou ganha ou será o fim
do mundo.
Além disso,
nos areópagos internacionais vai deixando a mensagem de que ainda existem por
todo o país bandos armados que precisam de ser neutralizados.
Aliás, como
também dizem os manuais marxistas, se for preciso o MPLA até sabe como armar
uns tantos dos seus “paihamas” para criar a confusão mais útil. E, como também
todos sabemos, em caso de dúvida a UNITA e os seus aliados serão culpados até
prova em contrário.
Numa
entrevista à LAC - Luanda Antena Comercial, no dia 12 de Fevereiro de 2008, era
então ministro da Defesa, Kundi Paihama, levantou a suspeita de que a UNITA
mantinha armas escondidas e que alguns dos seus dirigentes tinham o objectivo
de voltar à guerra.
Kundi
Paihama, ao seu melhor estilo, esclareceu, contudo, que os antigos militares do
MPLA, "se têm armas", não é para "fazer mal a ninguém" mas
sim "para ir à caça". Ora aí está. Tudo bons rapazes.
Quanto aos
antigos militares da UNITA, Kundi Paihama disse que a conversa era outra e
lembrou que mais cedo ou mais tarde seria preciso falar sobre este assunto. Na
entrevista à LAC disse textualmente: "Ainda hoje se está a descobrir
esconderijos de armas".
Razão tinha,
aliás, Kundi Paihama quando, no dia 12 de Janeiro de 2008, “botou faladura” num
comício na Sede do Município da Matala e disse: “Durmo bem, como bem e o que
restar no meu prato dou aos meus cães e não aos pobres”.
E por que
não vai para os pobres?, perguntam vocês, eu também, tal como os milhões (ou
serão só meia dúzia?) que todos os dias passam fome. Não vai porque não há
pobres em Angola. E se não há pobres, mas há cães… é preciso alimentá-los bem.
E se todos
fizessem como Kundi Paihama, não haveria cães com raiva. Continuaria a haver, é
claro, angolanos a morrer à fome. Mas entre morrer à fome e morrer contaminado
com raiva...
“Eu
semanalmente mando um avião para as minhas fazendas buscar duas cabeças de
gado; uma para mim e filhos e outra para os cães”, disse Paihama.
Não admira,
por isso, que todos os angolanos procurem, afinal, ter a mesma sorte que os
cães de Kundi Paihama. Tiveram, contudo, pouca sorte. Os cães que lhes tocaram
em sorte estão cheios de raiva.
É claro que,
embora reconhecendo a legitimidade que os cães do ministro do MPLA e do regime
para reivindicar uma boa alimentação, não posso deixar de dar um conselho aos
milhões, os tais 68%, de angolanos que são gerados com fome, nascem com fome e
morrem pouco depois com fome.
Não. Não se
transformem em cães para ter um prato de comida. Reivindiquem o direito tão
simples de comer como os cães de Kundi Paihama.
Legenda:
Kundi Paihama durante uma visita à Coreia do Norte, não se sabe se para comprar
alguns cães do clã Kim Jong-il.
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