Em 26 de
Junho de 2008, o então ministro das Obras Públicas de Angola, Higino Carneiro,
disse que o governo do MPLA iria construir ou reconstruir cerca de 1.500 pontes
e reabilitar mais de 12 mil quilómetros da rede nacional de estradas até 2012.
Fazendo
contas, dia 26 de Junho de 2008 até ao dia 31 de Dezembro de 2012 vão 1.650
dias (contando feriados e fins de semana). Dividindo esses dias pelas 1.500
pontes temos 0,9 pontes por dia.
Se
dividirmos os tais 12.000 quilómetros de estradas pelos 1650 dias dá uma média
de 7,27 quilómetros ao dia. Portanto é simples, a cada dez dias o MPLA deveria presentar
9 novas pontes e 72,7 quilómetros de estradas.
Falando em
Junho deste ano no Comité Central do MPLA, José Eduardo dos Santos recuou até às
promessas para as eleições de 2008, confortavelmente vencidas (até com os votos
dos mortos) pelo MPLA, que obteve cerca de 80% dos votos, considerando que o
balanço é positivo, dando como exemplo as "realizações e os
empreendimentos inaugurados quase todas as semanas".
"O país
está de facto a mudar para melhor e há avanços e crescimento em todos os
domínios", mas para o MPLA, defendeu, importa que "o desenvolvimento
social seja tão dinâmico como tem sido o crescimento económico".
Ou não se
estivesse em campanha eleitoral, o dono do país
diz que "muito ainda está
por se fazer", mas mostrou-se convicto da "nova Angola" que está
a surgir, "pronta para iniciar uma nova etapa da sua história, na qual
todos os nossos esforços estarão voltados para os mais desfavorecidos, aqueles
que mais sofrem porque têm pouco ou quase nada".
Por outras
palavras e porque o MPLA é Angola e Angola é o MPLA, o partido só precisa de
estar no poder aí mais uns 30 anos para que, como dizia Agostinho Neto, o
importante volte a ser a resolução dos problemas do Povo.
Sem se
comprometer com metas (assim recomendam os seus assessores brasileiros e
portugueses), como sucedeu nas promessas de criação de empregos ou a construção
de um milhão de casas, feitas em 2008, José Eduardo dos Santos diz agora algo
mais vago mas dentro das bitolas dos estados de direito (coisa que Angola não
é). Isto é, o futuro passa por um
Programa de Estabilidade, Crescimento e Emprego.
"Através
dele vamos unir, ampliar e acelerar as iniciativas destinadas a garantir mais
empregos, aumentar a oferta de água e energia, melhorar os serviços de Educação
e Saúde, a estimular a produção nas zonas rurais e a incentivar a criação e o
fortalecimento das micro, pequenas e médias empresas angolanas", explicou
Eduardo dos Santos.
E, como não
poderia deixar de ser, o presidente garantiu que o MPLA "fará a sua parte
para a manutenção de um clima de paz, tolerância, harmonia e confiança" no
processo eleitoral em curso.
E fará com
certeza. Ninguém duvida que os mortos vão voltar a votar no MPLA, ou que em
algumas secções vão aparecer mais votos do que eleitores inscritos. Tal como
ninguém duvida que na maioria dos areópagos políticos mundiais, começando por
Lisboa, o discurso de felicitações pela vitória do MPLA já está escrito.
Creio,
sinceramente, que o MPLA só não resolveu os problemas do Povo porque os oitenta
e tal por cento conseguidos nas eleições anteriores foram insuficientes. Será
preciso o quê? 110%? Se é isso basta agora esperar pelos resultados de 31 de
Agosto.
José Eduardo
dos Santos disse no dia 6 de Outubro de... 2008 que o Governo ia aplicar mais
de cinco mil milhões de dólares num programa de habitação que inclui a
construção de um milhão de casas.
A construção
de um milhão de casas para as classes menos favorecidas de Angola e jovens foi,
aliás, uma das promessas da então campanha eleitoral mais enfatizadas pelo
Presidente da República de Angola e do MPLA.
José Eduardo
dos Santos admitia, modesto como é, que "não seria um exercício
fácil", tendo em conta que o preço médio destas casas, então calculado em
cerca de 50 mil dólares. Apesar de tudo, com a legitimidade eleitoral de quem
só não passou os 100% de votos porque não quis, assegurou que "já se
estava a trabalhar" nesse sentido.
No seu
discurso de então, Eduardo dos Santos observou que a escolha de Luanda para
acolher o acto central do Dia Mundial do Habitat tinha a ver com o
reconhecimento pela mais alta instância internacional (ONU) da filosofia e
estratégias definidas pelo Governo angolano no seu programa habitacional para o
período 2000/2012 e que já estava, disse, a ser aplicado.
“O objectivo
dessa estratégia é proporcionar melhor habitação para todos, progressivamente,
num ambiente cada vez mais saudável", disse Eduardo dos Santos. Não sei se
ainda alguém se recorda disso... Mas se não se recorda, aí está agora a mesma
história.
Nesta
perspectiva considerou que o executivo de Luanda estava em "sintonia"
com as preocupações e a "visão" da organização das Nações Unidas,
quando coloca como questão central, como necessidade básica do ser humano,
fundamental para a construção de cidades e sociedades justas e democráticas, a
questão da habitação.
Ora nem
mais. A habitação como barómetro de uma sociedade justa e democrática.
Segundo
Eduardo dos Santos, "em Angola, como em quase todo o mundo, o fenómeno da
urbanização veio acompanhado de grandes problemas ambientais, tais como a
produção de resíduos domésticos e industriais, a poluição, o aumento do consumo
da energia e água e o surgimento de águas residuais".
"Para
evitar ou minimizar-se esses problemas impõe-se a adopção de uma política
ambiental rigorosa e abrangente", apontou o presidente, garantindo que o
combate ao caos urbanístico que se instalou nas cidades e no território em
consequência da prolongada guerra civil, está a ser feito através de modelos
integradores, geográficos, económicos e ambientais.
A atenção
estava, ainda segundo o dono do país, centrada na "construção ilegal e não
autorizada" e também numa política que procura "evitar assimetrias
regionais e o abandono do interior".
Eduardo dos
Santos frisou ainda que as "linhas de força" traçadas pelo Governo
estavam orientadas para uma "cooperação activa" entre a administração
central e local do Estado, entre o sector público e o privado, com vista à
execução de uma nova política que contribua para "a geração de empregos,
para o desenvolvimento harmonioso dos centros urbanos, para a eliminação da
pobreza e da insegurança, e para a eliminação também das zonas degradadas e
suburbanas".
Em termos de
discurso é caso para dizer que nem Ben Ali, Hosni Mubarak, Robert Mugabe, Hugo
Chávez, Muammar Kadhafi ou Passos Coelho diriam melhor.
O presidente
anunciou igualmente na altura (2008) que será "cada vez mais
acentuada" a preocupação com a urbanização das cidades angolanas e que serão
"incentivadas políticas que diminuam a circulação automóvel nos centros dos
grandes aglomerados urbanos.
Foi bonito,
não foi? É quase poesia. Tão bem escrita e declamada que conseguiu embalar os
68% de angolanos que vivem na miséria.
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