O voto no
MPLA é a escolha certa para “não comprometer o futuro”. Quem disse? Vá, vamos
lá puxar um pouquinho pela cachimónia e adivinhar quem terá dito esta original
frase.
Cavaco
Silva? Passos Coelho? Miguel Relvas? Poderia ter sido qualquer um deles ou todos em conjunto. Se ainda
o não fizeram oficialmente só devem estar à espera que um qualquer
porta-microfones da praça apareça a questioná-los.
Creio,
aliás, que Portugal só espera que cheguem instruções de Luanda para,
publicamente, manifestar o seu apoio ao democrata, honorável, impoluto, soberbo
e divino líder do regime angolano.
Mas não, não
foi ainda nenhum deles que fez este panegírico ao regime. Quem o disse hoje, em
Saurimo, foi o impoluto líder do MPLA, partido que governa Angola deste 1975, e
Presidente da República, não eleito e há 33 anos no poder, José Eduardo dos
Santos.
Citado pela sua
agência de propaganda, a Angop, José Eduardo dos Santos disse já ter visto e
ouvido as propostas das restantes oito forças concorrentes ao escrutínio e concluiu
que o voto, no dia 31 de Agosto, no MPLA, é “a escolha certa para dirigir os
destinos da nação, rumo ao desenvolvimento”.
Quanto às
propostas dos outros partidos, depois de dizer que todos prometem (o que,
aliás, não é difícil) governar melhor que o MPLA e resolver todos os problemas,
destacou que se trata de uma "cantiga boa".
"Mas
quem é esperto não se deixa levar. Quem tem experiência é o MPLA. Quem tem mais
quadros capazes é o MPLA, este é o partido da verdade, ama o povo angolano e
luta pelo seu bem-estar", sublinhou o “querido líder”, o “escolhido de Deus”,
Eduardo dos Santos.
O que
Eduardo dos Santos não diz é que, no país que actualmente o maior produtor de
petróleo na África subsaariana, todos os
dias, a todas as horas, a todos os minutos há angolanos que morrem de barriga
vazia. 70% da população passa fome.
Nem ele nem
o MPLA dizem que 45% das crianças
angolanas sofrem de má nutrição crónica, uma em cada quatro (25%) morre antes
de atingir os cinco anos. Tal como não dizem que no “ranking” que analisa a
corrupção em 180 países, Angola está na posição 158.
Nem ele nem
o MPLA dizem que em Angola a dependência
sócio-económica a favores, privilégios e bens, ou seja, o cabritismo, é o
método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos, o silêncio de muitos,
ou omissão, deve-se à coação e às ameaças do partido que está no poder desde
1975.
Nem ele nem
o MPLA dizem que em Angola, a corrupção
política e económica é, hoje como ontem, utilizada contra todos os que querem
ser livres, ou que o governo disponibiliza apenas 3 a 6% do seu orçamento para
a saúde dos seus cidadãos, dinheiro que não
chega sequer para atender 20% da população, o que torna o Serviço Nacional de
Saúde inoperante e presa fácil de interesses particulares.
Nem ele nem
o MPLA dizem que em Angola 76% da
população vive em 27% do território, que mais de 80% do Produto Interno Bruto é
produzido por estrangeiros, que mais de 90% da riqueza nacional privada foi
subtraída do erário público e está concentrada em menos de 0,5% de uma
população de cerca de 18 milhões de angolanos.
Nem ele nem
o MPLA dizem que em Angola o acesso à
boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das
seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está
limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder.
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