Num texto,
mais um, digno de vencer o Prémio Pulitzer, o órgão oficial do regime angolano,
também conhecido por Jornal de Angola (JA), mostra o que é a democracia do MPLA
e ensina ao mundo o que é o jornalismo.
Diz o
pasquim do regime que os órgãos de informação privados nada mais são do que um
“Cavalo de Tróia que vomitava do seu seio a subversão dos mais elementares
valores que regem o jornalismo.”
Dando como
adquirido que tal como José Eduardo dos Santos está para os angolanos (e não
só) como Deus está para os cristãos, e que o JA está para o jornalismo como o
MPLA está para Eduardo dos Santos, todos os jornalistas do mundo são obrigados
a aceitar a superioridade moral, ética, deontológica e o que mais por aí houver
deste legítimo filho do Pravda, o principal jornal da União Soviética e órgão
oficial do Comité Central do Partido Comunista da União Soviética entre 1918 e
1991.
Diz o JA que
no seu reino, e certamente com o beneplácito do Comité Central do MPLA, que em
Angola “a liberdade de imprensa convive com abusos repugnantes e os novos
jornais até começaram a servir para crimes de chantagem e extorsão”, para além
de que ”quase sempre são palcos de intrigas, veículos de ataques pessoais,
mananciais de insultos, calúnias e difamações.”
Creio que um
desses crimes tem a ver com o 27 de Maio de 1977, uma purga que os jornais
privados dizem ter sacrificado milhares de angolanos mas que, na verdade e
certamente segundo a análise do JA, nem sequer existiu.
Diz o JA que
“o Presidente da República é o alvo privilegiado dos jornais privados. Há entre
eles uma competição estranha que consiste em ver qual deles fere mais a honra e
o bom-nome de José Eduardo dos Santos. O mais alto magistrado da Nação é
tratado como um pária ante a indiferença dos órgãos de Justiça, das
organizações dos jornalistas, das associações patronais e, pasme-se, do
Conselho Nacional da Comunicação Social.”
Mais um
ponto a favor do Pravda. Perdão, do Jornal de Angola. Estão todos conluiados para denegrir a
imagem do impoluto Presidente da República, não compreendendo que estar há 33
anos no poder sem nunca ter sido eleito é a mais sublime prova da vitalidade
democrática do regime angolano.
Da brilhante
(como sempre) análise do JA resulta que “de 2008 para cá as coisas melhoraram”.
Isto é, “os jornais privados que mais se destacavam na calúnia e no insulto ao
Chefe de Estado abandonaram esse caminho. Mas em compensação outros redobraram
os crimes de abuso de liberdade de imprensa. Sabe-se agora porquê.”
O jornal não
explica, certamente no cumprimento das maus puras e transparentes regras éticas
e deontológica, a razão pela qual alguns jornais abandonaram esse caminho.
Também não precisa de explicar. Todos sabem que foram comprados e ou
silenciados pelo regime.
Escreve o JA que “o “Folha 8” é o órgão
oficial da CASA-CE e dá uma mão à UNITA, nas suas investidas contra o Estado
Democrático e de Direito. O “Novo Jornal” é o suporte de “manifestantes” que
têm uma única mensagem à sociedade: insultos grosseiros ao Presidente da
República e o objectivo de derrubá-lo.”
Em cheio.
Não há dúvida. Nenhum jornal no mundo bate o Jornal de Angola. É que não só
analisa como dá notícias em primeiríssima mão. Então não é que Angola é um
Estado Democrático e de Direito? Ora tomem!
Ao fim e ao
cabo, todos os jornais “se encarregam de fazer alastrar a mancha da calúnia e
do insulto. Com mais ou menos competência. Mas seguramente com resultados
catastróficos para o jornalismo angolano.” Valha-nos ao menos a existência
desse paradigma de nobreza e altruísmo, verdadeira catedral do jornalismo, que
dá pelo nome de Jornal de Angola.
O JA
insurge-se contra algo que os políticos aprenderam com o MPLA e com o seu
Pravda, mas que – obviamente – só deve ser aplicado em relação aos outros.
Então não é que “com um sorriso próprio dos porcos”, os dirigentes do PRS “chamam
aos membros do Executivo mafiosos e ladrões” e “acusam instituições do Estado
de envenenarem e assassinarem cidadãos”?
Francamente.
Os políticos, mesmo em campanha eleitoral, deveriam saber que há verdades que
não devem ser ditas.
“A UNITA
segue o mesmo caminho mas com um pouco mais de compostura. Tem como mentor um
qualquer Rafael Marques. A CASA-CE faz dos tempos de antena sucursais do “Folha
8” mas um pouco mais primários. São violentíssimos ataques à inteligência dos
eleitores e golpes fatais contra a ética política. Se não havia ética no
“jornalismo” que faziam, muito menos existe agora, quando vivemos num período
em que os salteadores da política agem como se valesse tudo menos tirar olhos”,
escreve o JA.
Ficamos
também a saber, graças – corrobore-se – à honorabilidade do JA, que os leitores
têm inteligência e que Rafael Marques e William Tonet estão a desgraçar o país
e cometer crimes contra tudo, nomeadamente contra a segurança do Estado. E
estão mesmo, reconheço. É que ele pensam que Angola é mesmo um Estado de
Direito Democrático. E como não é, todos os que teimam em pensar de forma
diferente são culpado de tudo.
Para o
Comité Central do MPLA, via Jornal de Angola, “é muito claro que a aposta destes
concorrentes é na subversão das regras democráticas. Por isso estão a criar um
clima muito parecido com o das eleições de 1992, quando a intimidação e a
violência verbal faziam parte do quotidiano da disputa política. De tal forma
que tudo acabou numa longa guerra que destruiu Angola.”
Pois é. E o
Jornal de Angola ainda vai um dia destes divulgar que a UNITA, a CASA-CE, o
PRS, Rafael Marques e William Tonet tem verdadeiros arsenais bélicos debaixo da
cama e até disfarçados no disco duro dos computadores.
Num dos mais
dignos exemplos de imparcialidade, ética e deontologia o Jornal de Angola diz
que “cabe aos angolanos dar a resposta adequada. Savimbismo, nunca mais!.”
Perante tudo
isto, os angolanos têm de lançar uma petição, um amplo movimento mundial, para
que Nobel da Paz seja atribuído a Eduardo dos Santos e o Pulitzer ao Pravda do
regime, em português “Jornal de Angola”.
Legenda: À
esquerda Eduardo dos Santos recebe o Nobel da Paz. À direita, o dono do Jornal
de Angola recebe o Prémio Pulitzer.
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