quinta-feira, agosto 02, 2012

Louvado seja o soba maior de Angola!




O primeiro-ministro do reino lusófono da Europa confirma que, em Novembro de 2011,  aproveitou uma ida a despacho junto do reino maior de Angola para rogar que o regime, via BIC, tomasse conta do BPN.

A confirmação consta das respostas que Passos Coelho enviou hoje aos deputados da Comissão Parlamentar de Inquérito ao BPN, a que a Lusa teve acesso, a propósito da compra do BPN (nacionalizado em 2008) pelo Banco BIC, o que viria a acontecer já este ano, na época de saldos, por 40 milhões de euros.

O sumo pontífice luso disse que teve duas reuniões com responsáveis do BIC, a 23 e 28 de Novembro de 2011 e que na reunião de 23 de Novembro com Mira Amaral, realizada a pedido do primeiro-ministro, o representante do BIC relatou o desinteresse dos accionistas do banco luso-angolano em comprarem o BPN.

Ora, mesmo que em saldo, era importante que o BPN tivesse novo dono, se possível saído do leque de velhos amigos. E foi então que, puxando dos galões de “africanista de Massamá”, Passos Coelho teve uma reunião com o presidente do BIC Angola, Fernando Teles.

Mesmo tendo o estatuto (por equivalência ou não) de primeiro-ministro, Passos Coelho socorreu-se de Carlos Feijó, ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do soba maior para conseguir a anuência de Fernando Teles.

“O contacto com o senhor ministro Carlos Feijó ocorreu no quadro das boas relações existentes entre os dois Governos e pretendeu, face à delicadeza e urgência da matéria de Estado, recorrer aos bons ofícios do Executivo angolano para apurar, tão rapidamente quanto possível, a eventual disponibilidade do investidor angolano para concretizar a negociação ou, caso contrário, para assegurar a sua indisponibilidade para reatar as negociações”, disse Passos Coelho em resposta às questões do Partido Comunista Português.

Já em resposta ao Bloco de Esquerda, Passos Coelho concretizou que “pouco tempo depois” o ministro angolano informou da “disponibilidade do investidor para se deslocar com rapidez a Lisboa para conversar directamente com o Governo português”, o que aconteceu a 28 de Novembro.

Questionado, isto é como quem diz, pela maioria PSD e CDS sobre porque não contactou directamente Fernando Teles e preferiu a via do Governo angolano, Passos Coelho remete para a resposta anterior ao PCP, em que refere as “boas relações existentes entre os dois Governos”.

Nas respostas dadas aos partidos, Passos Coelho recusou ainda que a venda do BPN ao BIC tenha feito parte das conversas mantidas em Angola aquando da visita ao país a 17 de Novembro, referindo, em resposta ao PS, que nessa data “não tinha ainda conhecimento de que tivesse ocorrido uma ruptura das negociações”.

E assim vai, num único sentido, o reino lusitano. E vai a caminho do Norte de África, tendo como objectivo solidificar o estatuto de protectorado de um outro reino mais a Sul.

Mas que Mira Amaral tem a escola toda, isso tem. Recordam-se que, no dia 8 de Maio de 2008, ele considerou  que as afirmações do músico e activista irlandês Bob Geldof sobre os governantes angolanos eram "totalmente irresponsáveis" e "profundamente desconhecedoras" da realidade angolana?

"São afirmações que além de serem totalmente irresponsáveis, são profundamente desconhecedoras da realidade angolana", disse Mira Amaral, questionado sobre o assunto pelos jornalistas no dia em que o BIC se instalou em Lisboa com o objectivo de se tornar no "pivot" de operações de financiamento mais complexas para o mercado angolano.

Na altura, Mira Amaral sublinhou ainda que as afirmações "não mostravam a mínima sensibilidade para o esforço enorme que um país que viveu em guerra tantos anos estava a fazer para se reconstruir". "Há dois tipos de pessoas: os gestores que sabem do que falam e os artistas de rock e pop que serão competentes na sua área, mas se calhar noutras áreas não têm competência nem o conhecimento para falar" acrescentou o empregado de Isabel dos Santos.

Segundo o antigo ministro de Cavaco Silva, "qualquer pessoa que seja gestor executivo sabe o que custa fazer as coisas na prática e o tempo que levam a fazer. Quem canta músicas e depois tenta falar sobre coisas sérias, se calhar esta não é sua área específica de competência". E explicou que "são três transições que Angola está a fazer ao mesmo tempo. Portugal não as fez ao mesmo tempo e sabemos as dificuldades que tivemos e se calhar ainda temos".

Bob Geldof afirmou, recorde-se, que "Angola é gerida por criminosos" numa conferência sobre Desenvolvimento Sustentável, organizada pelo Banco Espírito Santo e semanário Expresso, dedicando uma intervenção de cerca de vinte minutos ao tema "Fazer a diferença".

"As casas mais ricas do mundo estão [a ser construídas] na baía de Luanda, são mais caras do que em Chelsea e Park Lane", apontou, estabelecendo como comparação os dois bairros mais caros de Londres, capital do Reino Unido.

Mira Amaral diz bem. Cada macaco deve estar no seu galho. Mas, ao que parece, tanto em Portugal como em Angola só os macacos do regime têm direito a um galho, sendo que quem os escolhe é “querido líder”, também conhecido como “o escolhido de Deus”, José Eduardo dos Santos.

Mas, verdade seja dita, a questão dos galhos não preocupa o actual governo português, tal como não preocupava o anterior. Para Passos Coelho e companhia e um diferente ter um galho ou andar a saltar pelas copas das árvores.

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