O Director Adjunto do Jornal de Angola, Filomeno Manaças, garante que “o eleitor já sabe em quem votar”. É verdade. Quer queira, quer não, vai votar no MPLA.
Num compreensível panegírico ao patrão, Filomeno Manaças explica – como se isso fosse necessário – que Angola é o MPLA e o MPLA é Angola, relegando os outros partidos para o papel de figurantes que com a sua presença até passam a ideia de que o país é um Estado de Direito democrático.
Diz o funcionário do partido, casualmente nas funções de suposto jornalista, que “quando a envolvente é positiva é claro que o que assistimos é o candidato a arrastar multidões onde quer que vá”.
E para exemplificar assume que “é o que está a acontecer com o MPLA e o seu candidato às eleições gerais de 31 de Agosto”. E acrescenta: “José Eduardo dos Santos esteve na Cidadela e em Viana, em Luanda, e não restam dúvidas do imenso apoio de que goza. Já esteve na Lunda-Norte e foi a confirmação de que é, nestas eleições, a figura de maior prestígio político. Esteve em Saurimo e de seguida no Moxico e em ambas as ocasiões a aprovação pública que obteve mostra que o MPLA e o seu candidato estão em maré alta, com banho de multidão que lhes confere estatuto de favoritos.”
A explicação que Manaças encontra, e que lhe garante o ordenado, é que “a envolvente psicológica positiva criada está traduzida nos tempos de antena tranquilos que o MPLA e a sua figura de proa desenvolvem na RNA e na TPA”. E isso passa, diz, pelo “recurso constante aos ganhos da paz e da reconstrução nacional infundem a sensação de tranquilidade, de segurança.”
Diz o Director Adjunto do JA, que “tem sido praticamente uma campanha suave, a que José Eduardo dos Santos e o MPLA têm sabido fazer, recusando enveredar pelo caminho da resposta aos insultos e às ofensas, para não baixar o discurso ao nível dos pronunciamentos dos seus adversários.”
Embora o saiba, Manaças (ainda) não diz que José Eduardo dos Santos é o mais lídimo representante de Deus em Angola. Pelo menos, e por enquanto, só em Angola.
Filomeno Manaças também escreve sobre a UNITA mas omite o nome de Isaías Samakuva, certamente porque a espinha que tem, desde há muito, atravessada na garganta o impede. Se calhar as listas dos nomes dos que colaboravam com a UNITA, e que foram encontradas no bunker de Jonas Savimbi no Andulo, expliquem alguma coisa…
Apesar dessa alergia ao líder da UNITA, Manaças diz que “fica a ideia de desnorte face às acusações infundadas de fraude que tem proferido, quando se sabe que todos os partidos e coligações de partidos políticos têm delegados de lista, que vão funcionar nas assembleias de voto com amplos poderes para fiscalizar o processo de votação e de escrutínio a partir da mesa de voto.”
“Mais grave – escreve Filomeno Manaças - é o facto de a UNITA revelar de forma clara que não se dissociou do gene da violência que sempre a caracterizou – evidenciada de modo dramático para os angolanos nas eleições de 92 -, pois não se coibiu de, no seu tempo de antena alardear as manifestações promovidas em Março em Angola no “embalo das primaveras árabes”, esquecendo-se das suas obrigações enquanto partido que deve procurar alcançar o poder por via do voto nas urnas, como ditam as regras em democracia, e mandando às urtigas o sentido de Estado com que se deve posicionar face aos acontecimentos políticos internos e externos.”
Apostando na teoria de que a melhor defesa é o ataque, Filomeno Manaças, procura esquecer que um dia se saberá quem consta dessas listas de assalariados de Savimbi que estavam no bunker do Andulo, sejam oficiais das FAPLA e depois das FAA, políticos do MPLA, alguns com altos cargos no Governo, e jornalistas (portugueses e angolanos).
Manaças considera que “a ameaça de realização de uma manifestação no dia 25, e com tudo o que atrás foi dito, a UNITA empresta à campanha eleitoral uma envolvência psicológica negativa.”
Tem razão. Manifestações são coisas normais em sistemas políticos que dão pelo nome de democracias. E como isso é coisa que não existe em Angola, a UNITA deveria estar quieta e caladinha.
Por tudo isto, não é de estranhar que o Jornal de Angola, órgão oficial do regime do “querido líder”, nome herdado do velho amigo e aliado Kim Jong-il, volte a escolher este ano, como fez em 2011, José Eduardo dos Santos como a figura africana do ano.
Importa dizer, desde logo porque nem todas fomos (pelo menos por enquanto) comprados pelo regime, que o JA não tem jornalistas ao seu serviço. Tem, apenas isso, funcionários do partido que escrevem o que lhes mandam e que, em muitos casos, não assinam os textos porque ficaria mal em vez do nome colocar a impressão digital.
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