sábado, agosto 11, 2012

Comunicação social portuguesa só fala daquilo que o regime angolano autoriza!




“Apoiantes da juventude do MPLA (JMPLA) protagonizaram ontem actos de violência contra jovens da UNITA (JURA) no Largo da Independência, em Luanda”.

“Agentes da Polícia Nacional dispersaram, à bastonada e com o auxílio da brigada canina, uma aglomeração de jovens da UNITA, que se havia concentrado no Largo da Independência, em sinal de protesto contra os actos de violência ocorridos durante a madrugada”.

Estas informações, divulgadas pelo Maka Angola,  não constam de nenhum órgão de comunicação social do protectorado angolano no sul da Europa (Portugal).

Tal ausência (por noma justificada pelos dólares oriundos de Luanda) só é estranha aos ingénuos que ainda pensam que os jornalistas existem para dar voz a quem a não tem.

Por regra, não existe nas fábricas portuguesas de montagem de textos de linha branca nenhuma autonomia editorial e, ou, independência. E não existe sobretudo, mas não só, por culpa dos jornalistas que, sob a conveniente (sinónimo de bem remunerada) capa da cobardia se deixa(ra)m transformar em autómatos ao serviço dos mais diferentes protagonistas, sejam políticos, partidários, sindicais ou empresariais.

Basta ver quantos são os supostos jornalistas que, nomeadamente na blogosfera, dizem quem são e mostram a chipala. São muito poucos. A grande maioria prefere o cómodo e barato anonimato. Para que se não saiba que têm as meias rotas… nunca se descalçam.

Habituados a viver na selva supostamente civilizada onde, com o patrocínio e cobertura dos poderes instituídos, vale tudo, os chefes de posto das linhas de produção de textos de linha branca entendem que a razão da força, dada por alguns milhares de euros/dólares de avenças ou similares, é a única lei. E, digo eu, dos Jornalistas esperar-se-ia que lutassem pela força da razão. Não acontece. Não é de agora, mas agora tem mais força e seguidores.

Força da razão? Claro que não. Até porque em Portugal não existem Jornalistas a tempo inteiro. Na maior parte do tempo útil são cidadãos como quaisquer outros e que, por isso, não precisam de ser sérios nem de o parecer. Nas horas de expediente, sete ou oito por dia, exercem o jornalismo, tal como poderiam exercer o enchimento de latas de salsichas.

Como para mim existe uma substancial diferença entre exercer jornalismo e ser Jornalista, entre ser operário de um órgão de comunicação social e ser Jornalista, tal como exercer medicina e ser médico, continuo a dizer que nesta profissão quem não vive para servir não serve para viver.

E é por isso que incidentes que envolvam o regime angolano raramente são notícia. Uma bitacaia (insecto que se instala sobretudo debaixo das unhas dos pés) no presidente do MPLA, chefe do governo e presidente da República há 33 anos sem nunca ter sido eleito, tem muito maior cobertura do que o facto de as autoridades do regime entenderem que quem não for do MPLA é culpado até prova em contrário.

É por isso que os operários portugueses dos órgãos de comunicação social lá estão para se servir, para servir os seus capatazes, e não para servir o público, para dar voz a quem a não tem.

Infelizmente os media estão cada vez mais superlotados de gente que apenas vive para se servir, utilizando para isso todos os estratagemas possíveis: jornalista assessor, assessor jornalista, jornalista cidadão, cidadão jornalista, jornalista político, político jornalista, jornalista sindicalista, sindicalista jornalista, jornalista lacaio, lacaio jornalista e por aí fora.

Como diz Gay Talese, cabe ao jornalista procurar incessantemente a verdade e não se deixar pressionar pelo poder público ou por quem quer que seja. Não interessa se as opiniões são do Secretário-Geral da ONU, da Rainha de Inglaterra, do Presidente da República de Portugal ou do “dono” de Angola, de seu nome José Eduardo dos Santos.

Ou, segundo o jornalista inglês Paul Johnston, o jornalismo sério, objectivo e imparcial sabe "distinguir entre a opinião pública, no seu mais amplo sentido, que cria e molda uma democracia constitucional, e o fenómeno transitório, volátil, da opinião popular".

Falar hoje da campanha eleitoral em Angola é algo que desagrada aos poderes políticos dos regimes irmãos de Eduardo  dos Santos e Passos Coelho/Cavaco Silva, bem como ao poder económico que se entende em dólares de sangue, tal como outrora se entendia em diamantes de sangue.

Mesmo assim, há coisas a que nem todos podem fugir. Antevendo a eventualidade remota, muito remota, de o poder do MPLA cair e Angola caminhar para uma coisa que nunca foi, um Estado de Direito, uma parte da comunicação social portuguesa lá vai dando uma no cravo outra na ferradura.

Há pouco mais de um ano os jornalistas simpatizantes de José Sócrates e do PS eram mais do que as mães. O homem perdeu e, do dia para a noite, os montadores de textos de linha branca passaram todos a amar Passos Coelho e o PSD.

Nesta altura o regime angolano é bajulado pelos políticos portugueses e, claro, pelos seus sipaios em serviço na comunicação social. Eduardo dos Santos é por isso um ditador bestial.

Se as coisas mudarem lá vamos ver os mesmos políticos e sipaios a dizer que ele era, afinal, uma besta.

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