“Apoiantes
da juventude do MPLA (JMPLA) protagonizaram ontem actos de violência contra
jovens da UNITA (JURA) no Largo da Independência, em Luanda”.
“Agentes da
Polícia Nacional dispersaram, à bastonada e com o auxílio da brigada canina,
uma aglomeração de jovens da UNITA, que se havia concentrado no Largo da
Independência, em sinal de protesto contra os actos de violência ocorridos
durante a madrugada”.
Estas
informações, divulgadas pelo Maka Angola, não constam de nenhum órgão de comunicação
social do protectorado angolano no sul da Europa (Portugal).
Tal ausência
(por noma justificada pelos dólares oriundos de Luanda) só é estranha aos
ingénuos que ainda pensam que os jornalistas existem para dar voz a quem a não
tem.
Por regra, não
existe nas fábricas portuguesas de montagem de textos de linha branca nenhuma
autonomia editorial e, ou, independência. E não existe sobretudo, mas não só,
por culpa dos jornalistas que, sob a conveniente (sinónimo de bem remunerada)
capa da cobardia se deixa(ra)m transformar em autómatos ao serviço dos mais
diferentes protagonistas, sejam políticos, partidários, sindicais ou
empresariais.
Basta ver
quantos são os supostos jornalistas que, nomeadamente na blogosfera, dizem quem
são e mostram a chipala. São muito poucos. A grande maioria prefere o cómodo e
barato anonimato. Para que se não saiba que têm as meias rotas… nunca se
descalçam.
Habituados a
viver na selva supostamente civilizada onde, com o patrocínio e cobertura dos
poderes instituídos, vale tudo, os chefes de posto das linhas de produção de
textos de linha branca entendem que a razão da força, dada por alguns milhares
de euros/dólares de avenças ou similares, é a única lei. E, digo eu, dos Jornalistas
esperar-se-ia que lutassem pela força da razão. Não acontece. Não é de agora,
mas agora tem mais força e seguidores.
Força da
razão? Claro que não. Até porque em Portugal não existem Jornalistas a tempo
inteiro. Na maior parte do tempo útil são cidadãos como quaisquer outros e que,
por isso, não precisam de ser sérios nem de o parecer. Nas horas de expediente,
sete ou oito por dia, exercem o jornalismo, tal como poderiam exercer o
enchimento de latas de salsichas.
Como para
mim existe uma substancial diferença entre exercer jornalismo e ser Jornalista,
entre ser operário de um órgão de comunicação social e ser Jornalista, tal como
exercer medicina e ser médico, continuo a dizer que nesta profissão quem não
vive para servir não serve para viver.
E é por isso
que incidentes que envolvam o regime angolano raramente são notícia. Uma
bitacaia (insecto que se instala sobretudo debaixo das unhas dos pés) no
presidente do MPLA, chefe do governo e presidente da República há 33 anos sem
nunca ter sido eleito, tem muito maior cobertura do que o facto de as
autoridades do regime entenderem que quem não for do MPLA é culpado até prova
em contrário.
É por isso
que os operários portugueses dos órgãos de comunicação social lá estão para se
servir, para servir os seus capatazes, e não para servir o público, para dar
voz a quem a não tem.
Infelizmente
os media estão cada vez mais superlotados de gente que apenas vive para se
servir, utilizando para isso todos os estratagemas possíveis: jornalista
assessor, assessor jornalista, jornalista cidadão, cidadão jornalista,
jornalista político, político jornalista, jornalista sindicalista, sindicalista
jornalista, jornalista lacaio, lacaio jornalista e por aí fora.
Como diz Gay
Talese, cabe ao jornalista procurar incessantemente a verdade e não se deixar
pressionar pelo poder público ou por quem quer que seja. Não interessa se as
opiniões são do Secretário-Geral da ONU, da Rainha de Inglaterra, do Presidente
da República de Portugal ou do “dono” de Angola, de seu nome José Eduardo dos
Santos.
Ou, segundo
o jornalista inglês Paul Johnston, o jornalismo sério, objectivo e imparcial
sabe "distinguir entre a opinião pública, no seu mais amplo sentido, que
cria e molda uma democracia constitucional, e o fenómeno transitório, volátil,
da opinião popular".
Falar hoje da
campanha eleitoral em Angola é algo que desagrada aos poderes políticos dos
regimes irmãos de Eduardo dos Santos e
Passos Coelho/Cavaco Silva, bem como ao poder económico que se entende em
dólares de sangue, tal como outrora se entendia em diamantes de sangue.
Mesmo assim,
há coisas a que nem todos podem fugir. Antevendo a eventualidade remota, muito
remota, de o poder do MPLA cair e Angola caminhar para uma coisa que nunca foi,
um Estado de Direito, uma parte da comunicação social portuguesa lá vai dando
uma no cravo outra na ferradura.
Há pouco mais
de um ano os jornalistas simpatizantes de José Sócrates e do PS eram mais do
que as mães. O homem perdeu e, do dia para a noite, os montadores de textos de
linha branca passaram todos a amar Passos Coelho e o PSD.
Nesta altura
o regime angolano é bajulado pelos políticos portugueses e, claro, pelos seus sipaios
em serviço na comunicação social. Eduardo dos Santos é por isso um ditador
bestial.
Se as coisas
mudarem lá vamos ver os mesmos políticos e sipaios a dizer que ele era, afinal,
uma besta.
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