Ao que
parece a Lusa tem como principais accionistas o Estado Português (50.14%), a
Controlinveste Media SGP, S.A. (23.36%) e a Impresa (22.35%).
Ao que
parece, os estatutos da Lusa dizem que a Lusa “assegurará condições para uma
efectiva cobertura informativa nacional e regional do País, dos acontecimentos
relacionados com a União Europeia, com os países de língua oficial portuguesa,
com as comunidades de cidadãos portugueses
residentes em outros países ou com outros espaços de relevante interesse para
Portugal”.
Ao que
parece, a Lusa tem como objectivos, entre outros, “afirmar a importância
nacional e internacional da Lusa, ajustando qualitativamente os seus serviços e
a sua presença no território nacional e no espaço lusófono, no âmbito da
circulação democrática e plural da informação noticiosa e no da defesa dos
interesses estratégicos externos do Estado Português.”
Ao que
parece, as obrigações do serviço público obrigam a Lusa a “manter delegações,
delegados, ou correspondentes em todos os distritos e regiões autónomas de
Portugal, em todos os países de língua portuguesa, nos países onde residam
comunidades numerosas de cidadãos portugueses e também nos países com os quais
se verifiquem mais intensas relações históricas, culturais, diplomáticas ou
comerciais com Portugal”.
Ou seja: “Delegações
ou delegados no Porto, Coimbra, Évora, Faro e nas regiões autónomas dos Açores
e da Madeira; correspondentes em todos os distritos do país; delegados ou
correspondentes em todos os países de língua portuguesa e nos territórios de
Macau, na República Popular da China, e de Goa, na Índia; Delegação em
Bruxelas; Delegados ou correspondentes nos países com os quais Portugal mantém
mais intensas relações políticas, diplomáticas ou comerciais, nomeadamente em
Espanha, França, Reino Unido, Alemanha, Itália, Rússia, China, EUA, Marrocos e
Argélia”,
E ainda, “correspondentes
nos países onde residam comunidades portuguesas de maior dimensão, nomeadamente
em Espanha, França, Reino Unido, Alemanha, EUA, Canadá, Venezuela, África do
Sul e Austrália.”
Ao que
parece, o Código Deontológico dos Jornalistas da Lusa diz:
“1. O
jornalista deve relatar os factos com rigor e exactidão e interpretá-los com
honestidade. Os factos devem ser comprovados, ouvindo as partes com interesses
atendíveis no caso. A distinção entre notícia e opinião deve ficar bem clara
aos olhos do público.
2. O
jornalista deve combater a censura e o sensacionalismo e considerar a acusação
sem provas e o plágio como graves faltas profissionais.
3. O
jornalista deve lutar contra as restrições no acesso às fontes de informação e
as tentativas de limitar a liberdade de expressão e o direito de informar. É
obrigação do jornalista divulgar as ofensas a estes direitos.
4. O
jornalista deve utilizar meios leais para obter informações, imagens ou
documentos e proibir-se de abusar da
boa-fé de quem quer que seja. A identificação como jornalista é a regra e
outros processos só podem justificar-se por razões de incontestável interesse
público.
5. O
jornalista deve assumir a responsabilidade por todos os seus trabalhos e actos profissionais,
assim como promover a pronta rectificação das informações que se revelem inexactas
ou falsas. O jornalista deve também recusar atos que violentem a sua
consciência.
6. O
jornalista deve usar como critério fundamental a identificação das fontes. O
jornalista não deve revelar, mesmo em
juízo, as suas fontes confidenciais de informação, nem desrespeitar os
compromissos assumidos, excepto se o tentarem usar para canalizar informações
falsas. As opiniões devem ser sempre atribuídas.
7. O
jornalista deve salvaguardar a presunção de inocência dos arguidos até a
sentença transitar em julgado. O jornalista não deve identificar, directa ou
indiretamente, as vítimas de crimes sexuais e os delinquentes menores de idade,
assim como deve proibir-se de humilhar as pessoas ou perturbar a sua dor.
8. O
jornalista deve rejeitar o tratamento discriminatório das pessoas em função da
cor, raça, credos, nacionalidade ou sexo.
9. O
jornalista deve respeitar a privacidade dos cidadãos excepto quando estiver em
causa o interesse público ou a conduta do indivíduo contradiga, manifestamente,
valores e princípios que publicamente defende. O jornalista obriga-se, antes de
recolher declarações e imagens, a atender às condições de serenidade, liberdade
e responsabilidade das pessoas envolvidas.
10. O
jornalista deve recusar funções, tarefas e benefícios susceptíveis de
comprometer o seu estatuto de independência e a sua integridade profissional. O
jornalista não deve valer-se da sua condição profissional para noticiar
assuntos em que tenha interesse.”
O meu amigo
António Veríssimo, no seu (e nosso) Página Global, revolta-se com o facto de a
Lusa não ter dado uma linha sobre o ataque que, em Timor-Leste, feriu
gravemente um repórter da Rádio Rakambia, durante um serviço.
Além disso,
diz que “a Agência Lusa terá de explicar a razão da nefasta ausência de
notícias em português quando dispõe de uma delegação em Timor-Leste, em Díli”,
acrescentando que a Lusa “deverá uma vez mais experimentar vergonha é pela sua
falta de solidariedade neste caso do ataque a um colega de profissão.”
“Se a
vergonha não assola os responsáveis da Agência Lusa pelo seu tão mau desempenho
– agravado ultimamente – e não repõe o
exercício do seu dever naquele país, para com as centenas de milhões da
comunidade da lusofonia então o melhor será de uma vez por todas sair de
Timor-Leste, anunciando-o em vez de cobardemente se alapar na indiferença e no
silêncio”, escreve – e bem – António Veríssimo.
Mas para
tudo há uma explicação. Recordemos, por exemplo, que quando foi falar à
Comissão de Ética, Sociedade e Cultura do Parlamento português, a propósito do
encerramento das delegações da Lusa, Afonso Camões (presidente do Conselho de
Administração) foi taxativo ao afirmar: "Não fechámos, mas vamos fechar. É
assim que eu quero e é assim que vai ser".
É por estas
e por outras que, no reino lusitano, a liberdade de imprensa está em vias de
extinção (eu sei que sou optimista). Aliás, Afonso Camões continua a ser
coerente com a sua filosofia profissional: “É assim que eu quero e é assim que
vai ser". Antes da Lusa foi assim que desempenhou a sua função no Jornal
de Notícias, tendo dado um decisivo contributo para que esse diário solidificasse
a sua posição de primeiro… entre os últimos.
Se os donos
dos meios de comunicação, se os donos dos donos, assim querem “é assim que está
a ser, é assim que vai continuar a ser”. Nem que pelo meio tenham de contar
quem anda a comer quem, quem anda a ser comido por quem.
Para além da
minha débil experiência profissional (só ando nisto do jornalismo há quase 40
anos), faço contas aos jornalistas desempregados, aos que mudaram de profissão,
aos que estando no activo estão na prateleira, aos que tendo emprego estão
desempregados, aos que adoptaram uma coluna vertebral amovível, aos que se
filiaram no partido para garantir o emprego, aos que em vez de erectos andam de
cócoras, aos que por um prato de lentilhas dizem ámen a tudo, aos que aceitam
ser comidos.
E como em
qualquer democracia, em qualquer Estado de Direito, se o presidente de uma
empresa pública pode sempre dizer “é assim que eu quero e é assim que vai
ser", porque carga de chuva, meu caro António Veríssimo, deveria ser
diferente o que se passa em Timor-Leste ou em Angola?
É assim que
eles querem, é assim que foi e é assim que será.
Nunca como agora ser imbecil e criminoso é condição
sine qua non para ser “jornalista” mas, sobretudo, para ser director e até
administrador. Isto já para não falar em ser deputado, assessor, especialista
ou membro do Governo.
Por alguma
razão, quando em 2004 chegou à liderança do PS, José Sócrates jurou a pés
juntos que a liberdade de imprensa era para si sagrada... Por alguma razão Pedro
Passos Coelho, Miguel Relvas e companhia juraram a mesma coisa. Chegados lá, a
regra passou a ser: “é assim que eu quero e é assim que vai ser".
Por outras
palavras, o poder quer que os jornalistas perguntem não o que o
Estado/país/bordel pode fazer por eles, mas sim o que eles podem fazer pelo
bordel/país/Estado. E quando o governo os manda deitar…
E o que
melhor podem fazer é aceitar que para serem um dia directores ou
administradores de um jornal têm de ser criados do poder.
Também penso
que uma imprensa livre é um dos grandes pilares da democracia. Mas se assim é,
a dita está, no reino lusitano, coxa. Muito coxa. Até porque não basta dizer
que existe democracia porque “é assim que eu quero e é assim que vai ser".
Em Portugal
é não só legal como nobre o facto de o servilismo ser regra para bons empregos,
garantindo que esses servos vão estar depois a assessorar o partido, ministros
empresas ou políticos.
Sempre, é
claro, levando em conta que uma imprensa livre é um dos grandes pilares da
democracia. E quando alguém contesta, está sujeito a ouvir, com todo o espírito
democrático: “É assim que eu quero e é assim que vai ser".
Sem comentários:
Enviar um comentário