O presidente
do Comité Olímpico de Portugal (COP), Vicente Moura, defendeu hoje uma “mudança
de paradigma” no desporto português, para evitar resultados “residuais” nos
Jogos do Rio de Janeiro, em 2016.
Porque carga
de chuva se deve mudar o paradigma do desporto português se, de facto, o
próprio país não tem qualquer paradigma?
Aliás,
Portugal nem sequer precisa de desportistas olímpicos nem de ganhar medalhas.
Que melhor recorde poderá querer do que ter um milhão e duzentos mil
desempregados, 20% da população a aprender a viver sem comer e outro tanto
prestes a entrar na mesma onda.
O relevante
é que, no dia 11 de Junho de 2009, o Real Madrid ofereceu ao Manchester United
93 milhões de euros pela transferência de Cristiano Ronaldo. Isso vale mais do
que qualquer medalha, do que qualquer utopia de alma são em corpo são.
“Acompanho
aquilo que foi dito sobre esta matéria. Pagar quase 100 milhões de euros pela
transferência de um jogador, nunca me passou pela cabeça”, afirmou na altura
Cavaco Silva em Nápoles, Itália, à margem do encontro dos Chefes de Estado do
Grupo de Arraiolos, acrescentando que “gostaria que Portugal fosse mais
conhecido pela inovação, pela modernização e pela sua competitividade”. Tretas
cavaquistas, obviamente.
O presidente
do COP disse também que a responsabilidade pela definição da política
desportiva do país “é do Governo”, que vai ter que decidir “o que quer fazer”.
Provavelmente o ministro Miguel Relvas vai propor o fim deste tipo de desporto,
devendo Vítor Gaspar sugerir a privatização total dos atletas, eventualmente a
favor dos pobres e desgraçados portugueses cujo paradigma é António Mexia.
Para Vicente
Moura, “é indispensável”, entre outras coisas, “aumentar o número de
praticantes”. Não. Não creio que seja essa solução. O que Portugal precisa é de
melhorar as remunerações de outros atletas olímpicos que, esses sim, são
recordistas nacionais e mundiais.
Exemplos? Cavaco
Silva, Joaquim Pina Moura, Jorge Coelho, Armando Vara, Manuel Dias Loureiro,
Fernando Gomes, António Vitorino, Luís Parreirão, José Penedos, Luís Mira
Amaral, António Castro Guerra, Joaquim Ferreira do Amaral, Filipe Baptista,
Ascenso Simões, António Mexia, Faria de Oliveira ou Eduardo Catroga.
Como pode um
atleta olímpico como António Mexia trazer medalhas se, cito a Comissão de Mercado de Valores Mobiliários, só auferiu o ano passado 1,04 milhões de euros, sendo cerca de 712 mil
euros de remuneração fixa, enquanto que a variável atingiu os 331,4 mil euros?
É claro que tudo
vai ficar na mesma e, tal como o desporto olímpico, também o país vai ficar
como algo residual no contexto das nações.
Os donos do
país sabem que os portugueses são – citando Guerra Junqueiro – “um povo
imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de
carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de
misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que
nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas”.
Os donos do
país sabem que os portugueses são – citando Guerra Junqueiro – “um povo em
catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para
onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na
noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional,
reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta”.
Os donos do
país sabem que em Portugal existe – citando Guerra Junqueiro – “uma burguesia,
cívica e politicamente corrupta até à medula, não discriminando já o bem do
mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na
vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes
de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao
roubo, donde provém que na política sucedam, entre a indiferença geral,
escândalos monstruosos”.
Os donos do
país sabem que em Portugal existe – citando Guerra Junqueiro – “um poder
legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do
moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do
País”.
Entretanto,
alguns portugueses (não tantos quanto o necessário) sabem que – citando Guerra
Junqueiro – Portugal tem “partidos sem ideias, sem planos, sem convicções,
incapazes, vivendo do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas
palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo
zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no
parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar”.
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