segunda-feira, agosto 13, 2012

Tem a filha culpa do pai que tem?




Ao que parece, o direito à indignação virou lei da selva e há quem julgue que Portugal já é (se calhar é mesmo) um país onde vale tudo. Todos se esquecem que se criticar é um direito, ofender é um crime.

Por muitas razões que tenham (e têm) os membros da Comissão de Utentes da Via do Infante (A22) deveriam manifestar-se contra as políticas do primeiro-ministro, abstendo-se de o fazer quando ele se desloca com a mulher e a filha para a praia.

Admitindo que os membros da Comissão de Utentes da Via do Infante não são responsáveis pela eleição de Pedro Passos Coelho, se calhar a filha do primeiro-ministro também não é responsável nem culpada do pai que tem.

Pelos vistos, os portugueses sabem que é muito bom pensar e agir com liberdade. Esquecem-se, contudo, que é muito melhor agir com rectidão.

O respeito é muito bonito e, creio, todos gostamos. No que ao primeiro-ministro de Portugal respeita, enganou-me uma vez que foi a primeira e a última. Isso não me dá direito de o ofender e de, esquecendo as mais elementares regras de civismo, entrar pelo insulto soez, torpe e ordinário. E, muito menos, de o fazer quando ele está acompanhado pela filha de cinco anos.

Criticar Passos Coelho? É claro que sim. Tenho-o feito, continuarei a fazê-lo, de forma incisiva e por vezes violenta mas, é claro, levando em conta que se a liberdade dele termina onde começa a minha, a minha termina onde começa a dele.

Aliás, as ideias de poder (tão típicas do actual primeiro-ministro) só se devem combater com o poder das ideias. E este não passa por ofender o pai na presença de uma filha criança, não passa por – como fizeram no dia 8 de Julho de 2009  os estivadores junto à Assembleia da República – dizer: "Sócrates, escuta, és um filho da p..." e "O Sócrates não cumpriu, vai para a p... que o pariu".

A melhor forma de se defender a democracia, a liberdade, a justiça social e a alternância democrática num estado de direito não é, creio, entrar no sistema de vale tudo… até mesmo fazer chorar a filha do primeiro-ministro.

Assim não. Não basta dizer o que se pensa, é preciso pensar no que se diz. 

2 comentários:

Unknown disse...

Orlando de Castro já me habituara a textos bem conseguidos, portanto não é surpresa mais uma óptima lição de como através do texto se consegue ser Jornalista de eleição. Parabéns, Amigo Orlando. Ser um Homem sério e honesto,já é uma grande virtudenos tempos que atravessamos. Ser um Jornalista exemplar na arte de escrever, na garra e no sonho da Verdade, é a melhor herança que o Jornalismo pode arrecadar para todo o sempre. Abração. Jaime de Saint Maurice

Anónimo disse...

Ah. Mas nao foi esse cometário a elogiar o jornalista que escrevi...