O “escolhido
de Deus”, também conhecido por “querido líder”, foi, em campanha eleitoral, à
colónia angolana de Cabinda. Puxou dos galões e explicou que a escolha é entre
o MPLA e o dilúvio.
Eduardo dos
Santos nem precisava de fazer campanha. Mas, para não dar muito nas vistas, lá
vai fazendo uns discursos apologéticos da celestial capacidade do MPLA ajudar
os angolanos de primeira, o que até é verdade.
Pela razão
da força, o regime angolano estendeu as eleições do dia 31 também à sua colónia
de Cabinda. Embora os cabindas tenham a força da razão, ela vale muito menos do
que o petróleo de sangue que o MPLA usa para comprar a comunidade
internacional, desde logo Portugal.
Certo é que,
em ano de eleições, há cabindas que foram raptados, presos e mortos. Tudo
porque acreditaram que Portugal era um Estado de Direito.
Os 500 anos
de história colonial de Angola (1482-1975) ficam bem longe, apesar das teses
oficiais vigentes na actualidade, dos 90 anos de ocupação do Protectorado
Português de Cabinda (1885-1975). Embora com uma vertente comum – Portugal, a
trajectória de vida de Cabinda e de Angola não têm praticamente pontos comuns.
Assim, são
nações distintas e no caso de Cabinda ainda está por fazer a descolonização.
Por muito
que isso custe também à União Nacional para a Independência Total de Angola
(UNITA), o seu fundador e primeiro presidente, morto em combate pelo MPLA em
Fevereiro de 2002, Jonas Savimbi, reconheceu em várias intervenções públicas
que Cabinda nunca fez parte integrante de Angola, nem antes, nem durante, nem
depois da retirada do colonizador português.
Em oposição
a esta corajosa declaração de Jonas Savimbi, surge o único suporte ao qual se
agarra com unhas e dentes o regime angolano para justificar a sua apetência
expansionista sobre Cabinda: o Acordo de Alvor.
Acordo de
Alvor que permitiu a (in)dependência de Angola e a anexação por esta de
Cabinda, representa, segundo disse o
próprio Almeida Santos, um dos signatários, apenas "um pedaço de papel"
que "não valeu nada".
Almeida
Santos, tal como a restante equipa portuguesa, sabia à partida que o Acordo de
Alvor só valeria se o MPLA não ficasse no Poder. Como ficou...
O dirigente
socialista, que a 15 de Janeiro de 1975 era ministro da Coordenação
Interterritorial e integrava a delegação portuguesa que assinou com os líderes
dos três movimentos de libertação de Angola (MPLA, FNLA e UNITA) o Acordo de
Alvor, no Algarve, referiu que, assim que viu o documento, soube que
"aquilo não resultaria".
“Aquilo não
resultaria”, como não resultou, porque Portugal viciou as regras do jogo no
sentido de dar o Poder a uma das partes, o MPLA, sem esquecer que era
necessário correr à força com os portugueses de Angola e depois, como defendia
Vasco Gonçalves e Rosa Coutinho, entre outros, metê-los no Campo Pequeno já que
– dizia Mário Soares – eram um fardo pesado.
De facto, se
o valor do Povo português se medisse pelo nível dos políticos portugueses que
assinaram o Acordo de Alvor, não há dúvidas de que Portugal há muito era uma
província espanhola (a Ibéria tão desejada por José Saramago).
"Do
Acordo de Alvor sou apenas um escriba, não sou mais do que isso", diz
Almeida Santos (que foi Ministro da Coordenação Territorial em quatro governos
provisórios, ministro da Comunicação Social, da Justiça, ministro de Estado,
candidato a primeiro-ministro, presidente da Assembleia da República), mentindo
mais uma vez ao dizer que Portugal não teve outra alternativa, senão assinar
por baixo.
Se o Acordo
de Alvor não serviu para nada, importa ter a mesma coerência no sentido de
também o considerar inválido no que respeita à anexação de Cabinda por Angola.
Na véspera
da proclamação das independências de Angola (em 11 de Novembro de 1975, uma em
Luanda pelo MPLA e outra no Huambo pela UNITA e FNLA), tanto o
primeiro-ministro como o presidente da República reconheceram que não tinham
capacidade para controlar a situação, devendo esta constatação também
contribuir para a anulação do Acordo de Alvor.
Recorde-se
que foi no dia 1 de Agosto de 1975, três meses antes da independência da então República
Popular de Angola (país que ocupa desde então Cabinda), que os cabindas
começaram a sua difícil, mas não impossível, caminhada em prol dos seus
direitos.
Desde então
enfrentam dois grandes inimigos. Portugal que ao não honrar os seus até então
solenes e nobres compromissos, se transformou num inimigo político, e Angola
que é um inimigo militar que transformou Cabinda numa colónia onde, um pouco à
semelhança do que faz no resto de Angola, vigora o princípio de que até prova
em contrário todos são culpados.
Muitos se
recordam mas poucos têm a liberdade de consciência para o dizer. É por isso
que, um pouco por todo o lado – até mesmo em Portugal – os que se atrevem a
defender a causa de Cabinda são também culpados... até prova em contrário.
Recorde-se
que, a partir da revolução portuguesa de 1974, Cabinda entrou por direito
próprio na agenda internacional, especialmente na da então OUA (Organização de
Unidade Africana, hoje União Africana), onde a FLEC contava com o apoio de
alguns países africanos (Uganda, Zaire, Gabão, etc.).
Perante o
cenário juridicamente correcto, em face dos tratados assinados, de uma
descolonização separada dos dois territórios (Angola e Cabinda), o presidente
do MPLA, Agostinho Neto, desencadeou em 1974 uma actividade diplomática intensa
para persuadir os líderes africanos a retirarem da agenda da cimeira da OUA o
debate previsto sobre o problema de Cabinda.
Agostinho
Neto apresentava, aliás, todas as garantias de que as autoridades comunistas
portuguesas que dominavam o país iriam entregar exclusivamente ao MPLA os
destinos de Angola, apresentando mesmo documentos nesse sentido subscritos
pelos dirigentes do Movimento das Forças Armadas (MFA).
Com o apoio
do Presidente congolês, Marien Ngouabi, Agostinho Neto conseguiu que fosse
arquivado o dossier Cabinda (Cf. Memorandum – 4/07/75 – conversação entre
Agostinho Neto e o Embaixador soviético no Congo, Afanasenko).
O mesmo se
passou em relação ao Acordo de Alvor onde, com cumplicidade activa do Almirante
Vermelho, Rosa Coutinho, Alto Comissário em Angola, bem como de outras figuras
de destaque, caso de Almeida Santos e Agostinho Neto, afastou a FLEC de
qualquer discussão do caso de Cabinda, dando como adquirido que o protectorado
português era parte de Angola.
Foi todo
este cenário que levou o Presidente Luís de Gonzaga Ranque Franque a declarar a
independência de Cabinda.
Recorde-se
que, apesar dos esforços conjuntos do MPLA, Portugal, União Soviética e Cuba,
alguns países reconheceram Cabinda como um país independente. Foram os casos do
Togo, Gabão, República Centro Africana, Uganda e a R. D. Congo (ex-Zaire).
E, como
sempre disseram os cabindas, só é derrotado quem deixa de lutar. Não creio por
isso que alguma vez os cabindas deixem de lutar. Desde logo porque só aceitam
estar de joelhos perante Deus. Perante os homens, mesmo que armados até aos dentes,
estarão sempre de pé.
1 comentário:
vamos mobilizar os bons comando portugueses e tomar conta de cabinda e entregar cabinda aos cabindenses
CABINDA LIVRE
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