Só depois de ser deposto do cargo de
primeiro-ministro é que Carlos Gomes Júnior passou a defender, como voltou a
dizer hoje, o envio para a Guiné-Bissau de uma força multinacional “sob o
chapéu das Nações Unidas” para evitar as “barbaridades” cometidas pela
Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).
De acordo
com a Lusa, Carlos Gomes Júnior falava aos jornalistas à saída de um encontro
com o presidente da Comissão Europeia, em Lisboa, durante o qual agradeceu a
posição de Durão Barroso e da União Europeia sobre a crise na Guiné-Bissau.
A reunião
surge dias depois de Durão Barroso ter exigido (como se a sua exigência fosse
além de um “porreiro, pá!”) o respeito pela ordem constitucional e afirmado, na
abertura da IX conferência da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
(CPLP), a 20 de Julho em Maputo, que a União Europeia não tolerará mais golpes
na Guiné-Bissau.
“A UE é um
parceiro muito importante para a Guiné-Bissau. Temos de mantê-lo informado e
trocar opiniões”, disse o primeiro-ministro deposto, que saiu da reunião
acompanhado do ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo deposto no golpe
de Estado de 12 de Abril, Mamadu Djaló Pires, e do embaixador da Guiné-Bissau
em Portugal, Fali Embaló.
Questionado
sobre qual a mensagem de Durão Barroso na reunião de hoje, Carlos Gomes Júnior
disse que o presidente da Comissão Europeia “tem recomendado o diálogo das
partes para tentar arranjar uma solução, mas condenando sempre o golpe”.
Para Carlos
Gomes Júnior, a CEDEAO “não se pode arrogar sozinha a resolver o problema da
Guiné-Bissau”, já que há outros organismos, como a União Africana e a CPLP que
“têm uma palavra a dizer para, conjuntamente, tentar arranjar uma solução”.
A Guiné-Bissau
tem um Governo e um Presidente de transição, mas a maioria da comunidade
internacional não reconhece as actuais autoridades saídas do golpe. A CEDEAO é
a única instância internacional que apoia as actuais autoridades de transição.
Será que
Carlos Gomes Júnior se recorda que em 19
de Dezembro de 2007, António Maria Costa afirmava, em Lisboa, que “a
Guiné-Bissau está à beira do colapso, com o Estado incapaz de assegurar a
soberania do território face ao narcotráfico e ao crime organizado”?
Dando mais
um relevante exemplo de perspicácia, mesmo que eventualmente sustentado por
informações dos serviços (pouco) secretos de Portugal, o ministro de Estado e
dos Negócios Estrangeiros português, Paulo Portas, disse recentemente que a
questão do narcotráfico também é a chave do golpe de Estado de 12 de Abril na
Guiné Bissau.
Foi uma
conclusão brilhante. Aliás, quase desde que se tornou independente que todo o
mundo (talvez com a excepção de Portugal) sabe que o narcotráfico é uma forma
de vida de muitos militares e políticos
guineenses.
Creio que as
informações que Paulo Portas recebeu quentinhas são, afinal, requentadas e não
passam de uma cópia fiel do que se tem passado desde que, por exemplo, Nino
Vieira chegou ao poder, também através de um golpe de Estado. Os relatórios são
sempre os mesmos, apenas mudando a data e o nome dos protagonistas.
É pena que
ninguém tenha dito a Paulo Portas e, já agora, a Carlos Gomes Júnior, que, já
no dia 24 de Junho de 2009, um relatório
do director executivo do Escritório das Nações Unidas sobre a Droga e o Crime
(UNODC), António Maria Costa, dizia com todas as letras que o narcotráfico era
uma das causas da violência e da instabilidade políticas na Guiné-Bissau.
Já antes, em
19 de Dezembro de 2007, António Maria Costa afirmava, em Lisboa, que “a
Guiné-Bissau está à beira do colapso, com o Estado incapaz de assegurar a
soberania do território face ao narcotráfico e ao crime organizado”.
Tal como o
poder político, entre outros, em Portugal é permeável à corrupção, o poder
militar na Guiné-Bissau “é permeável ao narcotráfico”.
O grau de
permeabilidade depende, obviamente, de se saber se os golpistas são ou não
amigos do governo português. No tempo de Nino Vieira a situação era a mesma mas
o então presidente era, digamos, visita de casa dos donos de Portugal. Por isso
tinha carta branca para negociar a branquinha. Os de agora não agradam a Lisboa
e, por isso, são os maus da fita.
“Eu não
tenho nenhuma dúvida. Todas as informações de que Portugal dispõe apontam para
que, claramente, na origem deste golpe de Estado também está o narcotráfico e,
ou a Guiné-Bissau tem condições para ser um Estado de Direito, ou a
Guiné-Bissau fica sequestrada a um certo poder militar que é permeável ao
narcotráfico”, disse Paulo Portas.
Mas será que
nenhum dos frequentadores dos areópagos da política do reino lusitano se lembra
que Nino Vieira esteve metido até ao pescoço em crimes de sangue e de corrupção
mais do que activa? Que Nino Vieira usou todo o género de truques, de golpes,
para se perpetuar no poder, afastando política ou fisicamente quem lhe fez
sombra, sejam eles Kumba Ialá ou Carlos Gomes Júnior, líder do PAIGC e
primeiro-ministro deposto que em tempos disse que Nino teria sido o mentor do
assassinato do Comodoro Lamine Sanha?
Mas há mais.
Recorde-se que o mesmo Carlos Gomes Júnior
afirmou no dia 25 de Outubro de 2008 que "há dinheiro do
narcotráfico na campanha eleitoral" para as legislativas de 16 de Novembro”.
"Só não
vê quem não quer. Há dinheiro do narcotráfico nesta campanha eleitoral",
acusou Carlos Gomes Júnior, no seu discurso de abertura da campanha do PAIGC em
Bissau, dizendo que "nós não somos tolos, sabemos que há dinheiro da droga
na campanha eleitoral. Se formos governo, vamos acabar com o banditismo e o
crime organizado neste país, podem ter a certeza disso".
Carlos Gomes
Júnior dizia nesse dia que se fosse eleito primeiro-ministro no dia 16 de
Novembro, com foi, iria promover uma ampla reforma no país, dotando as forças
de defesa e segurança de meios para combater "todos os crimes" na
Guiné-Bissau.
Pois é.
Agora é preciso repor a ordem. Quando o primeiro-presidente da Guiné-Bissau,
Luís Cabral, foi deposto por um golpe de Estado liderado por “Nino” Vieira, em
1980, onde andavam todos estes arautos da legalidade e da reposição da ordem?
Um ano antes
de morrer, em 9 de Julho de 2008, Luís de Almeida Cabral considerou que a
existência de tráfico de droga no seu país natal constitui uma
"vergonha", apelando às autoridades de Bissau para combaterem o
fenómeno: "É uma situação muito má. Desejo que as autoridades e o povo
guineenses possam combater esta vergonha que não traz nada de bom".
Pois é. Mas
nessa altura, também nessa altura, tudo ficou na mesma. E ficou assim, calculo,
porque ainda não existiam a ONU, a CPLP, Portugal, Angola ou Cavaco Silva.
Alguém ainda
se lembra que, em 18 de Maio de 2009, o
Procurador-Geral da República da Guiné-Bissau, Luís Manuel Cabral, disse
que a instituição estava sem dinheiro para continuar o processo de investigação
aos assassínios do Presidente 'Nino' Vieira e do general Tagmé Na Waié?
Será que
Kumba Ialá tinha razão quando, em 17 de Junho de 2009, acusou o PAIGC de ser
responsável pela morte de Amílcar Cabral,
"Nino" Vieira, Tagmé Na Waié, Hélder Proença e Baciro Dabó?
"Carlos
Gomes Júnior tem que responder no Tribunal Penal Internacional pelas
atrocidades que está a cometer", no país, defendeu nesse dia Kumba Ialá,
acrescentando que "há pessoas a quererem vender a Guiné-Bissau", mas
esclarecendo que "serão responsáveis pelas turbulências que terão lugar no
futuro".
Durão
Barroso e companhia estão preocupados
com Carlos Gomes Júnior, exigindo o regresso à normalidade institucional.
Quando os EUA, por exemplo, avisaram as autoridades da Guiné-Bissau que o novo
chefe das Forças Armadas não poderia estar implicado nos acontecimentos de 1 de
Abril (2010), como era o caso do major-general António Indjai, o que fez Gomes
Júnior?
Escolheu (e
o presidente Balam Bacai Sanhá aceitou) para chefiar as Forças Armadas, nem
mais nem menos do que... António Indjai.
Recorde-se
que Indjai foi o protagonista dos acontecimentos militares de 1 de Abril e que
chegou (embora depois tenha pedido desculpa) a ameaçar de morte o
primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior.
2 comentários:
O grande e eterno problema da Guiné-Bissau não é de Carlos Gomes, nem de Amilcar Cabral e do irmão, e até nem do "inverosímel" Nino Vieira, nem do PAIGC ou de Spínola.
O grande problema é a fronteira Norte e os vizinhos Casamancinos.
E a França e Senegal já há muitos anos que chegaram à conclusão que têm que diluir aquela fronteira para dominar a Casamance.
E para isso só desestabilizando permanentemente a Guiné-Bissau até esta e os casamancinos se "renderem".
Isto enquanto não aparecer o petróleo na costa marítima onde as fronteiras ainda estão indefinidas, aí vai ser o fim.
Dizia Sekou Touré que Guiné só há uma.
E dentro da Guiné há muitos guineenses a pensar o mesmo, porque as fronteiras geográficas não criaram fronteiras étnicas até aos dias de hoje.
Comentar nomes apenas, é zero, é só atirar achas para a fogueira.
O que Durão, Paulo Portas, Amílcar, e a CPLP significam para a Guiné-Bissau é e foi salvar um PALOP.
Um português que não compreenda isto, é melhor não falar no assunto
ESSE CADUCADO JUNIOR NÃO DESISTE MESMO??? OLHA, A FILISOFIA DELE " VOU SER PRESIDENTE A QUALQUER CUSTO OU MATO TODOS OS GUINEENSES" AMBICIOSO, GANANCIOSO, E EGOISTA.
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