José Ribeiro, o funcionário que o MPLA colocou como director do seu órgão oficial (o Jornal de Angola), descobriu a pólvora ao escrever hoje o que os propagandistas do regime já dizem há várias décadas. Ou seja que “Lisboa continua, infelizmente, a ser o centro das conspirações contra Angola”.
Para justificar os males da democracia portuguesa, José Ribeiro vira-se com as parcas armas e menos bagagens que o MPLA lhe faculta contra a imprensa portuguesa, acusando-a de (ainda) não se render aos dólares do seu patrão e, por isso, continuar “a propalar mentiras sobre a realidade angolana ou a injuriar e difamar os governantes angolanos”.
Governantes que, importa reconhece-lo, são impolutos e incólumes aos malefícios da corrupção que, dizem as más línguas, não consegue entrar no regime angolano.
José Ribeiro diz que “é um hábito que vem de longe e só se justifica pelo ódio ao MPLA, a organização política que derrotou o colonialismo e ajudou a derrubar o regime fascista português”.
Ficamos todos a saber que, embora só tenha ajudado a derrubar o regime fascista português, foi o MPLA “a organização política que derrubou o colonialismo”. Vamos lá todos reescrever a História e tirar dela todos os outros que, até agora, se pensava terem ajudado a derrubar o colonialismo. Só lá pode ficar o MPLA… pelo menos enquanto for ele a pagar ao José Ribeiro.
Escudado pela Sonangol ou por Isabel dos Santos, José Ribeiro diz que “chegou a hora de dizer basta porque, apesar de os racistas terem o direito a serem tratados como doentes, têm também de ser responsabilizados pelos seus actos, sobretudo se desempenham cargos de responsabilidade ou notoriedade pública”.
Nem mais. O MPLA (via Sonangol ou Isabel dos Santos, ou por ambos) vai comprar os principais órgãos de comunicação social de Portugal e mandar internar todos os racistas que neles trabalham. Um dias destes ainda vamos ver o José Ribeiro como director do Expresso ou da SIC.
Visando já a cadeira de Henrique Monteiro, director do Expresso, José Ribeiro escreve que “de tudo isto só nos ocorre dizer que é uma pena que, trinta e quatro anos depois do 25 de Abril, venha alguém como o senhor Henrique Monteiro levar o prestigiado semanário “Expresso” para os níveis que nos habituou “O Diabo”, de triste memória”.
“Só agora se compreende que os amigos do distribuidor (Jonas Savimbi) do dinheiro dos diamantes de sangue ainda continuam a chorar a morte de um dos maiores criminosos dos tempos modernos, só comparável a Hitler em maldade e brutalidade”, diz o moço de recados do MPLA, também sem grande originalidade, num visível esforço de reconciliação nacional.
“O Governo de Angola é constituído por gente tão honrada e tão séria como os governos de Portugal ou da Irlanda. O Presidente de Angola é tão honrado e tão sério como os presidentes de Portugal, da Irlanda ou de qualquer outro país da União Europeia. E os nossos dirigentes políticos merecem o mesmo respeito e a mesma consideração que os políticos de Portugal ou da Irlanda”, opina José Ribeiro, reproduzindo a mukanda que o MPLA lhe mandou debitar no pasquim que dirige.
E, de facto, dizer que José Eduardo dos Santos é tão honrado e sério como Cavaco Silva é como dizer que Kim Jong-Il é tão democrata como Mário Soares. Na comparação do Governo angolano com o seu congénere português, aí creio que não anda longe da verdade.
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