quarta-feira, maio 07, 2008

Velho amigo de Kim Jong-Il
e, é claro, inimigo de Geldof

Se é normal, embora hipócrita, que as democracias se entendam bem com as ditaduras que lhes interessam (veja-se o caso de Lisboa e Luanda), mais normal é o entendimento entre ditaduras, sobretudo quando de complementam e não se ameaçam.

Não admira, por isso, que Kim Jong-Il seja íntimo de José Eduardo dos Santos. Recorde-se (apenas por uma questão de memória) que quando visitou Luanda, em Março de 2005, o vice-presidente da Coreia do Norte, Zeng Yang Hong, foi claro ao ressaltar a importância da cooperação bilateral, e ainda mais explícito quando disse tratar-se de algo histórico.

É bom que os angolanos saibam, ou não esqueçam, que a ditadura de Pyongyang tem relações históricas com a sua congénere de Luanda.

Para além dos laços históricos, nascidos na década de 70 com o apoio militar norte-coreano às FAPLA, é certo que Angola só tem a ganhar com o reforço da cooperação com Pyongyang. Então em matéria de democracia e direitos humanos, a Coreia do Norte parece continuar a ser (tal como Cuba) uma lapidar referência para o regime de Eduardo dos Santos.

Aliás, não é difícil constatar que a noção de democracia de Eduardo dos Santos se assemelha muito mais à vigente na Coreia do Norte do que à de qualquer outro país. E é natural. É que para além de uma longa convivência “democrática” entre ditadores, Luanda ainda tem de pagar a dívida, e os juros, da ajuda que Pyonyang deu ao MPLA. Amigos, amigos, contas à parte.

No que tange a direitos humanos, os princípios são os mesmos embora – reconheça-se – Luanda tenha sido obrigada a alargar o cordão que estrangula os angolanos. De qualquer modo continuam os milhões que têm pouco, ou nada, a trabalhar para os poucos que têm milhões. É assim em todas as ditaduras.

É claro que o Governo do MPLA (salpicado aqui e acolá por elementos indicados pela UNITA) escuda-se nas relações Estado a Estado para estar de bem com Deus e com o Diabo. E faz bem. Segue, aliás, a regra praticada por Portugal em relação a Angola. Praticada ontem, hoje e certamente amanhã. Lisboa nunca se importou com a ditadura, como nunca se importou com a sorte dos angolanos.

A regra é simples. Porque carga de chuva tenho de estar preocupado com os muitos angolanos que nem uma refeição têm por dia, se eu tenho pelo menos três?

Eduardo dos Santos pensa o mesmo. Kim Jong-Il também. Mas não são só eles, acrescente-se. São também os dirigentes das democracias ocidentais, da ONU, da CPLP etc. Para eles pouco importa que em Darfur tenham morrido em dois anos mais de 300 mil pessoas, ou que em Angola a grande maioria da população seja tratada abaixo de cão.

Sendo que já poucos cães existem em Angola. Foram quase todos comidos... pelos esfomeados angolanos.

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