Só ao fim de 78 mil mortos, 56 mil desaparecidos e 2,5 milhões de desalojados é que a Junta Militar que governa Myanmar (antiga Birmânia) decidiu decretar três dias de luto nacional. Paralelamente o regime diz que abriu as portas à assistência humanitária internacional, mas a Assistência Médica Internacional (AMI) não foi autorizada a ajudar, facto inédito em 24 anos de actividade, lamenta Fernando Nobre.
Enquanto Fernando Nobre considera que as autoridades birmanesas não querem a presença de ajuda ocidental para não divulgarem a verdadeira extensão da tragédia provocada pelo ciclone "Nargis", que ocorreu há mais de duas semanas, e, ainda, porque temem o contacto do seu povo com organizações ocidentais, o ministro dos Negócios Estrangeiros de França, Bernard Kouchner, chama "cobardes" aos países membros do Conselho de Segurança da ONU que não concordam em pressionar Myanmar a abrir as portas à ajuda internacional.
A revolta de Paris deve-se ao facto de França não ter convencido o Conselho de Segurança de que a ONU tinha autoridade para, ao abrigo da "responsabilidade de proteger", reconhecida numa resolução de 2005, sobre conflitos armados, permitir a violação da soberania de Myanmar. China, Rússia, Vietnam e África do Sul opuseram-se à iniciativa francesa, considerando que este caso, ao contrário da resolução citada, era uma questão humanitária e não política.
Irritado, Kouchner, que foi um dos fundadores dos Médicos Sem Fronteiras, diz que a França "denuncia a morte iminente de milhares de civis" e não aceita "ser acusada de intromissão nos assuntos internos de um Estado soberano".
Kouchner diz que se a resolução de 2005 não se aplica, "aplica-se com certeza a de 1988, que diz que deixar as vítimas de um desastre natural sem assistência humanitária constitui uma ameaça à vida humana e uma ofensa à dignidade humana".
A ONU, apesar do drama e do atraso na ajuda, ainda procura convencer os generais de Myanmar, razão pela qual o seu secretário-geral, Ban Ki-Moon, vai deslocar-se amanhã ao país.
Ontem Myanmar disse que aceitava que a Associação de Nações do Sudeste Asiático coordene a ajuda estrangeira às vítimas e aos estragos materiais avaliados em 7,35 mil milhões de euros.
Segundo a televisão pública birmanesa, a China tem no país uma equipa médica, composta por 50 membros, para além de ter enviado 32 toneladas de alimentos, água e medicamentos. Também estão no país mais 77 médicos e enfermeiros tailandeses e indianos.
Fonte: Jornal de Notícias (Portugal)/Orlando Castro
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