O bispo de Cabinda, Filomeno Vieira Dias, diz que a situação social da colónia angolana registou um "retrocesso" desde 2008, com a falta de serviços básicos para a população, especificando que falta água, luz, assistência médica e medicamentosa e a construção de infraestruturas.
Se, para o regime angolano, os cabindas são uma sub-espécie de gente, se mesmo em Angola existe um mundo de miséria, porque razão haveria de Cabinda ter aquilo que é basilar em qualquer país?
De vez em quando, Filomeno Vieira Dias lembra-se que deve dar voz a quem a não tem. Recordo-me, por exemplo, que o bispo levou muito tempo a descobrir os excessos do regime colonial em relação aos cidadãos – supostamente envolvidos nos ataques de Janeiro do ano passado - e que foram detidos logo no início do ano.
De facto, só em Junho (2010) Filomeno Vieira Dias enviou uma carta ao Procurador-Geral da República, João Maria de Sousa, para mostrar preocupação em relação ao excesso de prisão preventiva de activistas e deplorar o adiamento indefinido do julgamento dos acusados.
Antes, a 3 de Maio de 2010, Filomeno Vieira Dias disse que a liberdade de informar e de ser informado é um direito fundamental que não deve ser subalternizado.
Ser o Bispo de Cabinda a falar de liberdade de informar quando, exactamente em Cabinda (colónia de Angola) se é detido por ter ideias diferentes, sendo que em muitos casos se é preso só porque as autoridades coloniais angolanas pensam que alguém tem ideias diferentes, é algo macabro.
Dom Filomeno Vieira Dias disse então que a informação joga um papel fundamental na vida da sociedade, por isso os comunicadores devem fazê-lo com responsabilidade.
Será a responsabilidade a que alude Filomeno Vieira Dias dizer apenas a verdade oficial do regime? Será ser-se livre para ter apenas a liberdade de concordar com as arbitrariedades do regime colonial? Será não se poder em Cabinda consultar, por exemplo e entre muitos outros, o Notícias Lusófonas ou o Alto Hama?
“A liberdade de imprensa é um direito ligado às liberdades fundamentais do homem”, sublinhou na altura o prelado, falando a propósito do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, proclamado pela UNESCO em 1993.
É um direito mas, note-se, apenas nos Estados de Direito, coisa que Angola não é de facto, embora de jure o queira parecer. Aliás, nenhum Estado de Direito viola os direitos humanos de forma tão soez e execrável como faz o regime angolano na sua colónia de Cabinda.
“Quando celebramos esse dia, devemos olhar para o seguinte: que é uma grande responsabilidade informar e informar sempre com verdade,” destacou Dom Filomeno Vieira Dias, certamente pedindo de imediato perdão a Deus por ele próprio não contar a verdade toda.
Dom Filomeno Vieira Dias deverá, creio, também pedir perdão por se pôr de joelhos perante os donos do poder em Angola, contrariando os ensinamentos, como recordou em Bruxelas o Padre Jorge Casimiro Congo, de que perante os homens deve estar sempre de pé, e de joelhos apenas perante Deus.
“Devemos fazer um percurso para uma comunicação social cada vez mais plural, cada vez mais isenta, mais global e mais equilibrada,” defendeu o Bispo de Cabinda , acrescentando que “os diversos actores da vida política, económica e social possam ter vez, ter voz, visibilidade na nossa comunicação social”.
Pois é. E se uma das principais tarefas dos Jornalistas é dar voz a quem a não tem, também a Igreja Católica tem a mesma missão devendo, aliás, ser ela a dar o exemplo. O que não acontece.
Frei João Domingos afirmou numa homilia em Setembro de 2009, em Angola, que Jesus viveu ao lado do seu povo, encarnando todo o seu sofrimento e dor. E acrescentou que os nossos políticos e governantes só estão preocupados com os seus interesses, das suas famílias e dos seus mais próximos.
Como os angolanos e os cabindas gostariam que tivesse sido Dom Filomeno Vieira Dias a dizer estas verdades.
"Não nos podemos calar mesmo que nos custe a vida", disse Frei João Domingos, acrescentando "que muitos governantes que têm grandes carros, numerosas amantes, muita riqueza roubada ao povo, são aparentemente reluzentes mas estão podres por dentro".
Como os angolanos e os cabindas gostariam que tivesse sido Dom Filomeno Vieira Dias a dizer estas verdades.
Por tudo isso, Josão Domingos chamou atenção dos angolanos para não se calarem, para "que continuem a falar e a denunciar as injustiças, para que este país seja diferente".
Como os angolanos e os cabindas gostariam que tivesse sido Dom Filomeno Vieira Dias a dizer estas verdades.
É que a verdade pode doer muito, mas que cura... isso cura.
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