O comité de sanções do Conselho de Segurança da ONU para a Líbia, presidido por Portugal, inicia hoje os trabalhos, em Nova Iorque, sendo possível que analise imediatamente a questão do, citando José Sócrates, “líder carismático” da Líbia.
Numa altura em que Kadhafi vende caro a derrota (se é que vai sair derrotado), é estimulante ver como Portugal vai monitorizar as sanções contra Kadhafi, sabendo-se aliás da admiração (que em nada honram o líder líbio) do primeiro-ministro português pelo coronel que há dezenas de anos põe a razão da força acima da força da razão.
Seja como for, na sua constante procura de visibilidade, Portugal vai somando êxitos, mesmo quando (como acontece quase sempre) deixa a coluna vertebral no Largo do Rato e, de cócoras e mão estendida, vai pedindo ajuda por esse mundo, seja à Venezuela, à Tunísia, à Líbia ou a Angola.
Consta que, por deficiência de tradução, quando Muammar Kadhafi soube que Portugal iria presidir ao comité ficou satisfeito, devido à grande amizade que mantinha (e quer manter) com o “líder carismático” do governo português.
Muammar Kadhafi julgou que se tratava de um comité contras as sanções. Quando lhe explicaram que era ao contrário, o líder líbio ficou incrédulo e comentou baixinho: “esperava tudo menos isso do meu querido amigo José Sócrates”.
Consta, aliás, que uma lágrima socialista correu pela cara de Muammar Kadhafi enquanto olhava para uma foto onde os dois juravam amor eterno...
Recorde-se que os países do Norte de África, segundo o governo socialista, são para Portugal uma prioridade política e económica. Quem o disse foi José Sócrates, num discurso na capital da Tunísia em 22 de Março de 2010. E agora?
José Sócrates, que nessa altura discursava na cerimónia de encerramento do Fórum Económico Luso-Tunisino, esforçou-se por fazer passar a ideia de que a política externa portuguesa e a diplomacia económica têm na Tunísia, em Marrocos, na Líbia e na Argélia uma nova prioridade.
O primeiro-ministro justificou: “que fique claro a toda a opinião pública portuguesa que Portugal atribui à relação com os países do Norte de África uma prioridade política indiscutível”.
Mais tarde, Sócrates insistiu no tema, prometendo apelar aos empresários portugueses para que invistam na Tunísia, “uma economia que merece toda a confiança, com estabilidade política, com regras claras e, em particular, com um quadro regulatório que incentiva o negócio e que melhora as condições para desenvolver os negócios”.
“É altura para vos dizer que queremos transformar o Norte de África, e a Tunísia em particular, numa prioridade para a nossa economia”, acrescentou o primeiro-ministro, reiterando a confiança do Governo português “numa economia que tem ambição e que quer ser uma economia moderna e aberta”.
Lembrando que as empresas portuguesas empregam cerca de quatro mil pessoas na Tunísia - sobretudo nas unidades locais das cimenteiras Cimpor e Secil -, Sócrates destacou a melhoria das relações diplomáticas entre Lisboa e Tunes. Foi há um ano.
E agora, senhor primeiro-ministro? Eu sei, utilizando aliás as suas recentes palavras, que não basta ser jornalista para fazer perguntas bem educadas. Mas, já agora, era bom saber para onde se vai virar... durante o pouco tempo que lhe resta como chefe do Governo.
E mesmo sabendo, não é certamente para acreditar. Aliás quem é que pode acreditar num político que às segundas, quartas e sextas diz uma coisa, às terças, quintas e sábados outra completamente diferente?
Sem comentários:
Enviar um comentário