«O povo não pode esperar da imprensa o que a imprensa já não pode dar: independência. Devido à obsolescência tecnológica e social, motivada pela tendência da desintermediação, e à asfixia financeira da gratuidade dos conteúdos e meios e da falta de adaptação estrutural, a imprensa tornou-se o tapete do poder», escreveu em tempos, com toda a razão – diga-se, António Balbino Caldeira.
Na minha banda diria “Ise okufa, etombo livala” (prefiro a morte à escravatura), aqui na banda de José Sócrates direi que só é derrotado quem deixa de lutar. E, como vêem, o Alto Hama continua a acreditar que dizer o que pensa ser a verdade é uma das mais importantes qualidades dos Homens erectos. Seja em que banda for.
Continuo, por muito que isso custe a alguns, a ficar virado do avesso quando, e em Portugal isso é mais do que comum, africano é sinónimo de negro e angolano é sinónimo de empregado da construção civil ou de mulher da limpeza.
Cada vez que falo deste assunto, explicam-me que não é uma questão de racismo mas, talvez, de ignorância. Na melhor das hipóteses admito que seja uma simbiose das duas.
De qualquer modo chateia ver (e chateia que se farta!), por exemplo, alguma Comunicação Social, supostamente nada racista e intelectualmente válida, confundir a vida nas esquinas com as esquinas da vida.
Estou farto de, entre dois eventuais autores – um negro e outro branco - de um qualquer crime, o suspeito principal ser sempre o negro. Estou farto dos discursos e das práticas racistas que, depois de tantos anos de democracia, associam a população negra a toda a criminalidade.
Para além de os dados estatísticos da população prisional portuguesa não permitirem tão leviana conclusão, os problemas devem ser analisados não em função da cor mas sobretudo da realidade social, económica, política e cultural em que se inserem.
Curiosamente, a dita Imprensa de referência em Portugal só há pouco tempo descobriu (mais vale tarde...) que, por exemplo, há angolanos que são brancos. Levou tempo...
Por alguma razão, Portugal está na cauda Europa e, com a sua manifesta mas não assumida ignorância, contribui para que Angola (por exemplo) esteja (ainda esteja) no estado em que se encontra.
Ao passar a imagem de que africanos só são negros, de que os culpados são quase sempre negros, Portugal corre o sério risco de arcar com o rótulo de – para além de último descolonizador – ser um país racista. E se não é... às vezes parece.
Mas, em Angola passa-se algo de semelhante. Em Portugal sou angolano, em Angola sou português. Ou seja, esteja onde estiver nunca sou o que, de facto e de alma, sou: Angolano.
Quando digo, e digo sempre que posso, que sou angolano (branco por circunstâncias que nada têm de opção pessoal...), não o faço por inferioridade de qualquer tipo nem por superioridade de qualquer espécie. Digo-o porque o sou e o sinto, sem que isso constitua uma maior ou menor valia.
Será difícil entender isso?
Vem tudo isto a propósito de um aviso, apenas mais um (se calhar é bem mais do que isso e estará próximo de ser uma ameaça), em segunda mão que acaba de me chegar, numa reedição que já tresanda.
Segunda mão porque não me foi feito directamente, tendo por isso passado por alguém com real capacidade para me aconselhar (pelo menos isso) a diminuir o ímpeto das minhas opiniões.
E também mais uma vez, tendo como ponto fulcral três questões sobre as quais opino regularmente e que são consideradas de lesa-pátria: Partido Socialista/Portugal, MPLA/Angola e Cabinda.
Quanto ao PS, sei que alguns dos seus responsáveis “salivam” contra todos aqueles que pensam de maneira diferente. Sei e já senti, e continuo a sentir, o veneno que usam para anular todos aqueles que têm, que ainda têm, coluna vertebral.
No que respeita ao MPLA/Angola e Cabinda, a situação é semelhante, desde logo porque a escola da Internacional Socialista é a mesma, as amizades e os negócios são comuns.
Tal como o PS transformou muitos jornalistas em criados do poder, também o MPLA faz o mesmo. O problema está em que os donos de Angola fazem em Portugal, com a ajuda do seu congénere socialista, o que se tornou regra no reino de José Eduardo dos Santos: jornalista bom é jornalista calado, faminto, desempregado ou – melhor ainda – morto.
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