Como em tudo na vida, enquanto se é bestial não faltam seguidores. Quando se passa a besta, aí as coisas mudam de figura. Os servos viram-se contra o dono do reino. Nesta fase, José Sócrates ainda é bestial.
É claro que não falta no PS quem vote em Sócrates para liderar o partido e ser candidato a primeiro-ministro, mesmo que nos bastidores já estejam prontos para o apunhalar pelas costas.
Não faltam na história dos partidos portugueses exemplos disso. Dizem-me que a vida é mesmo assim. Vale tudo para chegar onde se não consegue chegar por mérito, lealdade, verticalidade, frontalidade e coerência.
Deve, aliás, ser por isso que há cada vez mais portugueses a nascer sem coluna vertebral e castrados. Creio até que a possibilidade de ter coluna vertebral amovível foi o maior contributo de genética para a criação, e proliferação, dos mais importante protagonistas portugueses: os políticos.
No caso do PS, até porque há gerações que não se renderam a quem se julga dono da verdade, de quando em vez lá aparece um histórico socialista que, por nada dever ao partido, diz umas tantas verdades.
É o caso de Henrique Neto que, em entrevista ao "Correio da Manhã", entende que José Sócrates deveria "demitir-se já da liderança do PS". Muitos outros há que pensam da mesma maneira, mas a estes – mesmo a alguns que têm coluna vertebral - falta-lhes os tomates. Vão, por isso, esperar que o líder caia para, então sim, recorrerem a tomates de plástico e dizerem que sempre estiveram contra.
Henrique Neto acusa Sócrates, como se isso fizesse algum sentido, de viver num "estado de negação da realidade" que o "obriga a mentir e a criar um mundo irreal".
Todos os socialistas, mesmo aqueles que como as marionetas só se aguentam de pé por terem alguém a segurá-los, sabem que o líder socialista se considera de uma casta rara e superior. Mesmo assim, não desgrudam da gamela.
Apesar de ter sido ministro de António Guterres, José Sócrates nada aprendeu com ele. Humildade? Honorabilidade? Não. Nada disso aprendeu com o então secretário-geral do PS e depois primeiro-ministro.
Quando António Guterres dizia que a verdade era a principal qualidade de um governante, certamente Sócrates entendia que isso era uma treta. E terá sido por isso que, quando se apanhou no poleiro, decretou que era o único dono da verdade e tratou de secar todos aqueles que pensavam, e pensam, de forma diferente.
Henrique Neto diz nesta entrevista que é "uma missão impossível" debater o futuro dentro do PS. É verdade. Mas, neste caso, José Sócrates tem razão. Desde quando se viu a plebe a debater os desígnios divinos do sumo pontífice do partido que, desde nascença, só sabe que tudo sabe?
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