sábado, março 19, 2011

O socialismo democrático do MPLA
e a pobreza crónica dos angolanos!

Perante os ventos da mudança, que mais cedo ou mais tarde também vão chegar a Angola, o MPLA (partido no poder desde 1975) vai procurando perpetuar-se e agora diz-se defensor do “socialismo democrático”.

O vice-presidente do MPLA, Roberto Victor de Almeida, diz – e bem – que “o socialismo democrático defende a justiça social, o humanismo, a liberdade, a igualdade e a solidariedade”. Apenas se esqueceu de acrescentar: “olhai para o que dizemos e não para o que fazemos”.

Numa das habituais sessões de reeducação do povo (uma velha tese do tempo do partido único), o dirigente do MPLA disse que o socialismo democrático “tem como fundamento a garantia da harmonia entre o desenvolvimento individual e o colectivo, a preservação dos valores nacionais e a defesa dos direitos, liberdades e interesses de todos os cidadãos”, e “visa obter a igualdade de direitos para as raças, grupos étnicos, tribos, nações e confissões”.

Ou seja, visa obter tudo aquilo que é negado pelo mesmo MPLA ao povo do seu país e ao da sua colónia de Cabinda. Aliás, em Angola todos são livres de pensar... como pensa o regime, todos são iguais desde que aceitem as regras de quem está no poder e que, cada vez mais, se assume não só como dono do país como, igualmente, proprietário dos escravos que devem obediência cega e divina ao líder supremo, não eleito e há 32 anos no poder, no caso José Eduardo dos Santos.

Roberto de Almeida fala da necessidade de se consolidar os ideais do partido, resgatando muitos dos valores morais e éticos perdidos, sublinhando que a perda de valores não elimina apenas a solidariedade, como também deforma o futuro da pessoa humana.

Nesta tentativa de vender gato por onça, o MPLA esquece-se que só se pode perder o que se tem ou o que se teve. Ora os valores referidos nunca foram uma característica de um partido cuja única divisa é: quero, posso e mando.

Numa outra dissertação sobre "socialismo democrático e a acção económica e social", o secretário do Bureau Político para a Esfera Económica, Manuel Nunes Júnior, declarou que o socialismo democrático é a via para o alcance da verdadeira independência económica de Angola e a elevação do bem-estar e da qualidade de vida do povo angolano.

Com cada vez mais angolanos de barriga vazia, falar do bem-estar e da qualidade de vida do povo angolano, ou do povo amordaçado da colónia de Cabinda, é não só gozar com a chipala de quem é gerado com fome, de quem nasce com fome e de quem morre pouco depois com... fome, como aviltar a inteligência dos que sabem que o regime angolano é, mesmo sendo benevolente, autocrático.

"Alcançado o programa mínimo com a proclamação, a 11 de Novembro de 1975, da independência nacional, a grande tarefa é a satisfação dos anseios do povo angolano, quanto ao bem-estar e a qualidade de vida, mediante um sistema em que o Estado assume o papel de agente regulador e coordenador de toda actividade económica e social", declarou Manuel Nunes Júnior, recitando a teoria política da sua família, a Internacional Socialista.

Se dúvidas existissem sobre o socialismo democrático do MPLA, basta ver – por exemplo - o perfil do cliente angolano em Portugal (país igualmente rendido ao socialismo democrático), que representa 30% do mercado de luxo português. Trata-se sobretudo de homens, 40 anos, empresários do ramo da construção, ex-militares ou com ligações ao governo. Vestem Hugo Boss ou Ermenegildo Zegna. Compram relógios de ouro Patek Phillipe e Rolex.

Basta ver – por exemplo - o perfil do povo angolano, que representa 70% da população, é pé descalço, barriga vazia, vive nos bairros de lata, é gerado com fome, nasce com fome e morre pouco depois com... fome.

Basta ver – por exemplo – que esses angolanos de primeira (todos adeptos certamente do socialismo democrático) não olham a preços, procuram qualidade e peças com o logo visível, sendo comum uma loja de luxo facturar, numa só venda, entre 50 e 100 mil euros, pagos por transferência bancária ou cartão de crédito.

Por outro lado, de acordo com a vida real dos angolanos (de segunda), 45% das crianças sofrem de má nutrição crónica e uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos.

É assim o socialismo democrático de que fala o regime. É esse mesmo que limita a um número muito restrito de famílias ligadas ao poder o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos.

É assim o socialismo democrático que entre milhões que nada têm, permite a vilanagem daqueles que vestem Hugo Boss ou Ermenegildo Zegna, compram relógios de ouro Patek Phillipe e Rolex, ou que dão 120 mil euros por uma pulseira.

É assim o socialismo democrático que permite que a casta superior e divina que dirige o país desde 1975 tenha ementas do tipo: Trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e uma selecção de queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas, com cinco vinhos diferentes, entre os quais um Château-Grillet 2005...

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