O bastonário da Ordem dos Advogados de Portugal afirmou hoje que "não é só na justiça que as coisas vão mal", observando que "ao longo dos anos a corrupção alastrou a todos os níveis do aparelho de Estado".
Tirando a questão da corrupção, que não existe em Portugal, tal como não existe – por exemplo – em Angola, concordo que "não é só na justiça que as coisas vão mal". Aliás, no reino socialista de José Sócrates o que é difícil de descobrir é o que vai bem. Se é que alguma coisa vai bem.
Falando na abertura do ano judicial, António Marinho Pinto frisou que "pessoas houve que acumularam fortunas gigantescas no exercício exclusivo das mais altas funções públicas, durante anos" e que "bancos foram saqueados em milhares de milhões de euros e os principais beneficiários continuam impunes".
Bem que o bastonário da Ordem dos Advogados poderia aproveitar a ocasião para dizer alguma coisa, por pequena que fosse, que os portugueses não soubessem. Como se diz para as bandas do Futungo de Belas (Angola), é normal que o dono do país e os seus acólitos tenham comparticipação nos negócios. Portanto...
Assim, com ou sem robalos, já se sabe que numa democracia como a portuguesa, criminosos só são os pilha-galinhas. Todos os outros, os que roubam o aviário, são gestores que merecem ainda mais do que aquilo que roubam.
No discurso, o bastonário criticou o atraso no pagamento por parte do Estado aos advogados oficiosos, a crescente privatização da Justiça (desjudicialização) e acusou o Estado de estar mais preocupado em "pacificar os tribunais e os magistrados" do que com a "administração da Justiça e pacificação social", em detrimento das pessoas e das empresas.
Tudo treta. Todo o sistema e todos aqueles que fazem justiça estão bem e recomendam-se. É verdade que entre fazer justiça e ser justo vai uma abissal distância, mas esse é claramente um problema dos injustiçados (os tais pilha-galinhas) e não dos peritos dos peritos que geram a coisa pública.
Neste último capítulo, Marinho Pinto insurgiu-se por em Portugal se deixar "aos juízes a escolha sobre se querem ou não decidir este ou aquele processo", acrescentando que "a força normativa da lei foi substituída pela vontade dos juízes".
E porque carga de chuva não deveria ser assim? O que conta é a vontade de quem manda e a submissão de quem é mandado. E se já há gerações que nascem sem coluna vertebral, o melhor é deixar o tempo passar e tudo ficará na santa paz do sumo pontífice do reino socialista.
A actual crise "financeira e moral", cuja única responsabilidade é da Oposição, foi também escalpelizada pelo bastonário que acusou o Estado de "asfixiar o povo com impostos", parte dos quais para pagar "os défices de empresas cujos gestores auferem principescas remunerações".
É verdade que os portugueses estão a ficar asfixiados. Mas a culpa não é do Estado socialista. A culpa é exclusivamente dos portugueses que teimam em não querer viver sem comer. Se o fizessem, como recomenda o Governo, já não seria necessário asfixiá-los.
"O país e o povo empobrecem, enquanto outros enriquecem escandalosamente", enfatizou o bastonário. Terá razão? Não. Não tem. Como em qualquer reino que se preze, as castas superiores têm todo o direito a viver escandalosamente melhor do que a plebe.
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