domingo, março 27, 2011

Muita parra mas pouca, ou nenhuma, uva

José Sócrates, com 26.713 votos que correspondem a 93,3%, foi reeleito secretário-geral do PS. Nada de novo, portanto. Passos Coelho diz que o PSD votou contra o PEC IV porque não ia "suficientemente longe" para resolver o problema da dívida pública.

É a política portuguesa ao seu melhor nível (isto é como quem diz!). Em entrevista à agência Reuters, o líder do PSD esclareceu o que é importante para os portugueses saberem, de facto, o que os espera. Depois não digam, como habitualmente, que ninguém os avisou.

"Votámos contra o pacote de austeridade, não porque foi longe demais, mas porque não vai suficientemente longe para obter resultados na dívida pública", esclareceu o presidente do PSD.

Não terá sido isso que, até agora, foi percebido pelos portugueses. De qualquer modo, ainda estão a tempo de, nas próximas e antecipadas eleições, dizerem o que agora diz Sócrates (depois de mim virá quem de mim bom fará), ou aferirem que – afinal – quando a fuba é do mesmo saco, o pirão sai (quase) sempre igual.

"O que aconteceu é que os mercados não acreditam que o Governo tem credibilidade e legitimidade suficientes para cumprir as suas metas", sustentou Passos Coelho na entrevista à Reuters.

Talvez por isso, com o PSD os mercados passem a acreditar na credibilidade e legitimidade do novo governo. Só falta é saber se os portugueses darão ao PSD a tal credibilidade e legitimidade que Passos Coelho diz que Sócrates não tinha.

O PSD acredita que as eleições serão favas contadas. Se calhar vai-lhe sair o tiro pela culatra, mesmo que se descalce para contar até 12.

Os portugueses começam a ver que é muita a parra mas pouca a uva.

Sublinhando que o PSD está "totalmente empenhado" em atingir as metas orçamentais acordadas (por José Sócrates) com Bruxelas, Passos Coelho não põe de parte a possibilidade de o Governo de José Sócrates, demissionário, solicitar ajuda externa, numa situação de emergência, mesmo quando formalmente passar a estar em gestão.

"Temos de evitar uma situação como essa", salvaguardou. "Um novo Governo pode trazer novos resultados e uma nova confiança aos mercados", entende o líder social-democrata (esquece-se que, antes disso, tem de ter a confiança dos eleitores), que insiste na tese de que o Executivo socialista não empreendeu as "reformas estruturais" necessárias, nem teve capacidade para cortar nas despesas do Estado.

Sócrates não teve essa capacidade. Mas será que Passos Coelho terá? Se calhar não.

Há muitos “boys” à espera e, para além disso, muitos políticos de geração espontânea na linha de partida que conduz à gamela do poder.

Passos Coelho diz que vai prosseguir um programa de privatizações, envolvendo a alienação de parte do capital do Estado na Caixa Geral de Depósitos, na TAP e em outras empresas públicas de transportes. Nada de novo, bem vistas as coisas.

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