A União Europeia mostra-se disposta a retomar a cooperação política e económica normal com a Guiné-Bissau. Mas impõe condições. Exige respeito pelos direitos humanos, democracia e Estado de Direito.
Na Guiné-Bissau respeita-se os direitos humanos tanto como em Angola. Existem partidos, tal como em Angola. É um Estado de Direito similar ao angolano. Mas há, contudo, duas substanciais e relevantes diferenças. O presidente da Guiné-Bissau foi eleito, ao contrário do seu homólogo angolano que está no poder há 32 anos. Angola é um país muito rico, a Guiné-Bissau é um país muito pobre.
É, com certeza, por estas duas diferenças que a União Europeia enche o peito contra os fracos, Bissau, e põe-se de cócoras perante os fortes, Luanda.
A UE "insta" a Guiné-Bissau a proceder à investigação judicial dos contecimentos ocorridos em 1 de Abril do ano passado e a "reforçar os esforços para resolver o problema da impunidade".
Mas será que há maior estado impune do que Angola? Será que na Europa ninguém vê que o regime de Eduardo dos Santos é dono e senhor do país, do povo? Será que ninguém vê que Angola é um dos países mais corruptos do mundo? Será que ninguém se preocupa com o facto de o clã do presidente ser dono de quase 100% do Porduto Interno Bruto de Angola?
Bruxelas congratula-se por a delegação de Bissau se ter comprometido a investigar, de forma independente, os assassinatos de Março e Junho de 2009, a reformar o sector da segurança do país e a combater o tráfico de droga.
E em Angola não há assassinatos? Quem se preocupa, entre outros, em esclarecer a morte de Nfulumpinga Landu Victor, líder do PDP-ANA?
Tudo isto que tem como palco a Guiné-Bissau é, afinal, a reedição de um filme já gasto de tanto ser usado. Vão mudando os protagonistas principais, agora é Bacai Sanhá e antes fora “Nino” Vieira, mas o argumento é sempre o mesmo. E se o argumento é o mesmo, o fim será idêntico: mais uns tiros e mais uns dirigentes mortos.
Exagero? Talvez. Deus queira que sim. Mas a verdade é que na Guiné-Bissau nenhum candidato, nenhum presidente, acabou o seu mandato e em 16 anos o país já teve seis presidentes.
Por alguma razão, o ex-chefe do Governo guineense, Francisco Fadul, considerava que, face ao estado em que se encontra a Guiné-Bissau, as Nações Unidas deveriam assegurar a governação do país, instituindo um protectorado pelo período mínimo de 10 anos, "para que não haja recidivas, não haja retrocessos".
Quanto a Angola, a Europa do camarada Durão, como lhe chama o MPLA, continua a fingir que tudo está bem. Tal como fingiu com a Tunísia, com o Egipto e com a Líbia. E tal como com estes países, ainda vamos ver os líderes europeus dizer que o dono de Angola é um ditador.
Levaram mais de 40 anos a descobrir isso no caso de Muammar Kadhafi. Mas como José Eduardo dos Santos já lá está há 32...
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