Só quem não quer fazer coisas sérias neste país é que não percebe que, afinal, o que Portugal precisa é de um potente choque mental. Assim como está (e ao que parece vai continuar na mesma) não vai levar a carta a Garcia... mesmo que o general esteja ao dobrar da esquina.
Nos últimos anos, bem antes – reconheça-se – de José Sócrates ter sido eleito sumo pontífice do PS e do Governo, Portugal aposta sempre nos «velhos» generais que, também é verdade, já deram provas.
Justificam os políticos do sistema que Portugal não estava (nem está) em situação que permitisse testar novos oficiais. Para além de me parecer que esses generais não conhecem os seus soldados (o povo português, entenda-se), creio até que alguns deles só chegaram a tal patente por serem afilhados do chefe do estado maior. Se assim não fosse, talvez ainda hoje fossem sargentos.
Seja como for, o que Portugal precisa é de uma estratégia (ou desígnio) que valorize quem tem ideias e não quem diz que as tem. Que institua (e não que sugira que se institua) o primado da competência, independentemente da filiação partidária e das cunhas.
Será isso que vai acontecer? Tudo leva a crer... que não.
É certo que a procissão ainda vai no adro. No entanto, o problema é bem mais extenso. Não se resume a pessoas. Assenta na mentalidade de quem dirige o país e esses não são, necessariamente, os ministros e os secretários de Estado.
São, sobretudo, aqueles que comandam a economia, que dão emprego aos políticos, e os poderes paralelos que ditam as regras do jogo e que, tantas vezes, as alteram quando mais convém. São as grandes empresas, as associações empresariais, as fundações e outros similares que proliferam na sociedade desta República.
Garantem-me que Belmiro de Azevedo afirmou (pelo menos uma vez) que «um subalterno tem o dever de questionar uma ordem do chefe e, se for o caso, dizer-lhe que não é suficientemente competente».
Se calhar essa foi uma das regras que originou o êxito deste empresário. Belmiro sabia (será que ainda sabe?) que um chefe não é só o que manda - é sobretudo o que dá o exemplo. Sabia que a crítica não significa desobediência. Sabia que tinha de se rodear de massa crítica, pois para dizer sempre que «sim» bastava-lhe a própria sombra.
O sucesso terá sido assim construído. Já a manutenção do mesmo não é assim. O seu império está cheio de «sombras». E está este como estão as associação empresariais, os sindicatos, o PS, o PSD, o CDS/PP e os organismos (sobretudo fundações, institutos e similares) criados para dar emprego a ex-políticos e candidatos a políticos.
«Sombras» que vivem religiosamente à custa das bençãos, das cunhas, e dos padrinhos que, por regra, já chegaram a chefes do estado maior.
Com um país assim, onde são (quase) sempre os mesmos a ter acesso ao poder, sendo todos os outros relegados para fora de jogo, só há duas possibilidades: ter ideias e ser marginalizado ou ser sombra e filiar-se no PS ou no PSD (excepcionalmente agora também no CSD/PP). Mais dias menos dia o poder há-de sorrir.
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