Em Novembro de 2006, a propósito das intenções do Governo português querer extinguir a Caixa dos Jornalistas, meditei no facto de os assessores de imprensa do Governo socialista de José Sócrates ganharem entre 2400 e 4500 euros... por mês.
E de tanto meditar, aceitei a sugestão de um amigo e fui filiar-me no PS.
Entre os que tinham ordenados-base mais altos estavam os responsáveis da comunicação dos ministros das Finanças, dos Negócios Estrangeiros, da Administração Interna e da Justiça, que recebiam mais do que os do primeiro-ministro.
Era, pensei, a altura exacta para me filiar no PS.
De acordo com o jornal Público (18.06.2006), o elevado valor dos ordenados justificava-se com o facto dos salários não serem obrigatoriamente tabelados, podendo ser negociados entre as partes desde que se abdique das despesas de representação.
Assim, e de acordo com o despacho de nomeação de responsável pela pasta das Finanças, Teixeira dos Santos, a assessora Fernanda Pargana tinha na altura um ordenado-base 4500 euros.
Numa altura em que tudo é «simplex», sobretudo se for mais «PSimplex», o Governo mostrava que, afinal, a tradição continuava a ser o que era e que, como ontem, os "jobs" são para os "boys", os génios são menos importantes do que os néscios desde que estes tenham cartão do partido.
Néscio ou não, o importante era mesmo ser filiado no PS.
O Governo simulou que queria alterar o (mau) estado das coisas mas, mais uma vez, era mais a parra do que a uva. Mais o acessório do que o essencial. Bastava ver que 70% do total de rendimentos brutos declarados em sede de IRS pertenciam a trabalhadores dependentes.
Tudo como dantes. Ou seja, era mesmo a altura para fazer a filiação no PS.
José Sócrates sabia, e continua a saber, como ninguém que a comunicação social é vital para vender gato por lebre, e para além de recrutar jornalistas para assessorar os seus ministros colocou os jornalistas do partido nos locais certos.
Mais uma razão para enviar, em correio registado, a filiação para o Largo do Rato.
Sócrates sabia bem que os jornalistas também sabem que mais vale ser um propagandista de barriga cheia do que um ilustre Jornalista com ela vazia. E como é duro ter a barriga vazia...
Este Governo (tal como os outros) está-se nas tintas para os portugueses em geral e para os Jornalistas em particular. Mas isso nem sequer é relevante, pensei.
E não é relevante porque, regra geral, os Jornalistas sabem contar até 12 sem terem de se descalçar. Assim sendo, fazem contas e chegam à conclusão de que o melhor é estar de acordo, é dizer sempre que sim, é ter o cartão do partido que está no poder.
É que, se não for nos jornais haverá sempre um lugar como assessor que, mais volta menos volta, abre as portas para se ser director de um jornal.
Por alguma razão Inês Pedrosa dizia que "temos cada vez mais jornalistas que saltam das redacções para se tornarem criados de luxo do poder vigente".
A palavra criado não me agradava. Mas entre criado a ganhar bem e jornalista de prato vazio... a escolha pareceu-me simples. Além disso, depois dessa rodagem há sempre a possibilidade de ver criados saltarem do poder para serem directores de jornais.
Apesar de tudo isto, a verdade é que nunca saí da cepa torta. O tempo passou e nada. Nem para criado do poder me chamaram.
Foi então que decidi saber o que se passava com a minha filiação.
Não é que, ao fim de muita procura, descobriram que os serviços tinham metido a minha ficha de inscrição no mesmo sítio onde José Sócrates meteu a maioria dos portugueses: no caixote do lixo.
Digam lá que não é preciso ter um galo do caraças...
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