«Há coisas que não mudamos. Como não mudámos no passado. Continuamos fiéis ao nome que ostentamos no cabeçalho e a nossa maior preocupação são as notícias. Se existe algum segredo nas mudanças que temos operado no Jornal de Notícias esse é o de nunca vendermos a alma: procuramos dar voz aos que não têm voz. (...) São princípios claros que exercitamos diariamente em nome dos 115 anos de história em que este jornal se tem afirmado».
Nesta altura, que foi ontem na História do JN, o jornal ainda era líder de vendas e de audiências. Era. Era o primeiro dos primeiros. Hoje é o primeiro dos últimos.
Foi com orgulho que fiz parte da equipa que tornou o JN líder nacional, na altura sob a liderança de Freitas Cruz, Armando da Fonseca e Fernando Martins. Quando o jornal mudou de rumo demiti-me das funções hierárquicas que tinha, regressando às funções de redactor.
Na carta de demissão, expliquei que o JN deixara de ter a sua própria personalidade jornalística, travestindo-se de acordo com a verdade absoluta que, tanto quanto já me parecia na altura, era genética em alguns dos que acabavam de chegar para comandar o porta-aviões.
“Não deve haver na história de Imprensa mundial melhores jornalistas especializados no que os outros (sobretudo os outros do lado de dentro) querem que eles digam, do que os dos JN (salvam-se algumas honrosas excepções)”, escrevi nessa altura.
Acrescentei, igualmente, que “para mal dos nossos pecados, a precariedade profissional de muitos os obriga a aceitar fazer tudo o que o «chefe» manda (mesmo sabendo que este para contar até 12 tem de se descalçar)”, facto que me recusava a aceitar.
Terminava dizendo que “os tempos são (mesmo) outros. Por isso é preciso abalar algumas coisas, antes que essas coisas nos abalem a nós”.
Ninguém quis saber. Todos continuaram a cantar e a rir no convés, enquanto o navio se afundava. Os craques entenderam que não era preciso abalar as coisas. O resultado está à vista. As coias abalaram de tal maneira que o porta-aviões mete água por todos os lados.
Mas enquanto não afundar totalmente, lá vemos os craques a cantar e a rir. Craques que ficaram muito ofendidos quando na despedida à Redacção, o então Director, Frederico Martins Mendes, teve a ousadia de falar no meu nome (ver o seu livro “Memórias de Notícias do Jornal”, página 358).
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