Um grupo de apoio a doentes com Sida alertou hoje que quase todos os trabalhadores seropositivos que lhe pede ajuda acabam por perder o emprego quando a empresa sabe da doença, problema que se acentua com a crise económica.
Mas os doentes com Sida não estão sós. Todos aqueles que cultivam a competência como primado sagrado acabam também por ser despedidos quando a empresa sabe da existência dessa doença.
"Recebemos muitas queixas, sabemos que, sistematicamente, as pessoas seropositivas não são aceites para trabalhar ou não vêem renovados os contratos", afirmou Luís Mendão, do Grupo Português de Activistas sobre Tratamentos de VIH/SIDA (GAT), lembrando que "a maioria dos seropositivos é pobre e trabalha precariamente".
Dos competentes não sei se alguém recebe queixas. Mas que são castigados por isso e substituídos pelos subservientes, lá isso são.
"Nós sabemos que 99 por cento dos que têm teste positivo não vêem renovado o contrato", acrescentou, em declarações aos jornalistas, à margem da conferência sobre "Transmissão do VIH - Ciência, Direito e Discriminação", que decorre hoje em Lisboa.
É grave. Mas é a espécie de país que existe, uma cópia (quase) fiel do Burkina Faso, seja em tons rosa ou laranja.
Por seu lado, o representante do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT), Jorge Torgal, alertou que a actual crise económica pode levar ao aumento da discriminação laboral dos seropositivos. Eu alerto pois para a outra fileira dos discriminados, os competentes.
"Aqueles que têm contratos a prazo são os primeiros a ser despedidos e aqueles que têm dificuldades em obter apoios sociais devido às suas debilidades de saúde vão ter ainda mais dificuldades", afirmou.
Já a representante da Organização Internacional do Trabalho (OIT) em Portugal, Albertina Jordão, defendeu uma mudança de atitude por parte dos empregadores.
Mudança de atitude por parte de quem? Dos empregadores? Não haverá ninguém que diga a Albertina Jordão que Portugal não é o Estado de Direito que ela pensa que é?
"Quando as pessoas estão doentes, obviamente que isso vai afectar a produtividade e vai ter um impacto económico e social", mas cabe às "entidades empregadoras verem a Sida como uma doença crónica como outra porque uma pessoa que vive com Sida pode trabalhar e ter uma vida regular", sublinhou.
Era bom era. Se eles nem sequer conseguem compreender os que são competentes, nunca compreenderão os que têm Sida.
No encontro, organizado pelo GADS - Grupo de Apoio e Desafio à Sida, o director-geral de Saúde, Francisco George, defendeu que "não havendo riscos de transmissão na vida social, não há motivo nenhum para haver discriminação" dos seropositivos.
Ora é aí que os competentes se lixam. Os empresários (nem todos, é óbvio) sabem que a competência pode ser transmissível e, por isso, acabam com ela logo que podem.
No final da conferência sobre "Transmissão do VIH - Ciência, Direito e Discriminação" será aprovada uma declaração de compromisso e de acção futura de combate à discriminação. Espero que juntem aos portadores de Sida os competentes.
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