O ministro do Trabalho e da Solidariedade Social de Portugal, ao estilo do Burkina Faso, disse hoje desconhecer que haja empresas a aproveitar a crise para fazer despedimentos, como a CGTP denunciou, mas garantiu que, se de facto existirem, serão "sancionadas".
Em que país vive este ministro? O que lê este ministro? Não me parece que seja o caso, mas começo a convencer-me de que Vieira da Silva já deixou a fase de viver para servir, estando agora na mais comum: servir-se.
A Intersindical acusou na segunda-feira a generalidade do tecido empresarial nacional de se estar a aproveitar da actual situação de crise para prejudicar os trabalhadores, revelando que, depois de ter analisado cerca de 400 casos, conclui que há encerramentos "fraudulentos".
Como aqui se tem dito (e é pena que o ministro só leia os que deixam a coluna vertebral em casa), seria bom (caso Portugal fosse um Estado de Direito) que alguém visse o que andam a fazer os patrões, gestores ou administradores e não tivesse medo de os levar a tribunal por gestão danosa.
Hoje, o ministro Vieira da Silva salientou que, caso estas situações existam, têm de ser sancionadas e "o Estado deve utilizar todos os meios ao seu dispor para evitar que isso aconteça".
"É preciso identificar esses casos e os serviços em questão não deixarão de actuar", afirmou o ministro do Trabalho à margem da audição parlamentar da Comissão de Educação e Ciência sobre "Qualificação".
O ministro sublinhou ainda que, no contexto da actual crise mundial, há um consenso para que as empresas portuguesas desenvolvam todos os esforços para não haver despedimentos. Treta, senhor ministro. A crise atinge as empresas mas passa ao lado dos empresários. Já pensou nisso?
Segundo o secretário-geral da Intersindical, Carvalho da Silva, há um bloqueio na situação económica, que tem causas nacionais e internacionais, que é catalogado de crise e que essa crise é invocada por muitas empresas à custa dos trabalhadores.
"Não escamoteamos nem ignoramos problemas reais, que existem, que colocam hoje grandes desafios à gestão das empresas, mas o traço mais marcante da realidade económica portuguesa é de uma muito grande invocação instrumental da crise para impor medidas que não resolvem os problemas", disse o líder da CGTP-In.
Acrescentou ainda que a preocupação das empresas está mais no aumento dos lucros do que na salvaguarda do emprego e adiantou que a CGTP tem vindo desde Dezembro a analisar cerca de 400 casos de empresas onde há situações de "aproveitamento" da crise que prejudicam os trabalhadores.
"Nesses 400 casos vemos deslocalizações oportunistas, ou seja aproveitar a crise para forçar uma deslocalização, vemos redução de postos de trabalho oportunistas, encerramentos e falências que cheiram a fraude por todos os poros, actuação unilateral de imposição de mecanismos que são violações das leis, vemos invocação da crise para não aumentar os salários dos trabalhadores e para transformar emprego estável em precariedade absoluta", denunciou.
Mas o melhor, enquanto o país não falir, é continuar a cantar e a rir, fingindo que Portugal é aquilo que não é: um Estado de Direito.
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