A eurodeputada socialista Ana Gomes lamentou hoje a supressão da referência a Portugal na resolução sobre a CIA aprovada pelo Parlamento Europeu, afirmando que mais uma vez funcionou o "conluio" do "centrão" entre direita e esquerda.
O Parlamento Europeu aprovou hoje, em Bruxelas, uma resolução sobre a utilização de países europeus pela CIA para transporte e detenção ilegal de prisioneiros, sem qualquer referência específica a Portugal, suprimida por iniciativa da delegação do PS.
No texto final, aprovado hoje no hemiciclo com 334 votos a favor, 247 contra e 87 abstenções, "caiu" a referência a voos em Portugal "durante o Governo (Durão) Barroso", tal como constava na versão original do projecto de resolução comum.
Ana Gomes confirmou hoje ter-se manifestado contra a queda da referência, por considerar que havia elementos novos que a justificavam, e considerou "muito significativo que a referência a Portugal tenha caído" na sequência de um "conluio de gente de direita e de esquerda" que, na sua opinião, "de alguma maneira só chama mais a atenção para o que há a esconder no que toca ao envolvimento de Portugal".
A deputada reconheceu que "a formulação que estava no texto era bastante imprecisa", já que atribuía novos elementos a relatos da imprensa, quando "o que é relevante são os factos novos e os elementos novos, e os elementos novos sem dúvida existiam, desde que o relatório (da comissão temporária do PE sobre os voos da CIA) foi aprovado em 2007".
Entre esses elementos que considera novos apontou um relatório da organização Reprieve "que identifica voos autorizados por Portugal", e que a Procuradoria Geral da República "considerou relevante", daí a investigação em Portugal ainda estar em curso, e uma lista de voos de e para Guantanamo até final de 2007 "que mostram que continuaram a ser aprovados mesmo depois de o PE ter iniciado a investigação".
Segundo Ana Gomes, "há outros elementos que mostram que há particulares responsabilidades do governo de Durão Barroso na operação de todo o processo de transferência de detidos para Guantanamo e de Guantanamo para prisões secretas".
A terminar, a deputada comentou que, da mesma forma que foi suprimida a referência a Portugal, países com claro envolvimento nos processos de transferência de prisioneiros ficaram de fora da resolução, o que atribuiu ao tal "conluio".
"O 'centrão' que quer mandar os assuntos para debaixo do tapete, o 'centrão' do conluio não existe só em Portugal", disse.
Por seu turno, o eurodeputado Carlos Coelho, que presidiu à comissão temporária do PE, indicou hoje que se absteve na votação da resolução, explicando que, por um lado não poderia votar contra um texto que "recorda valores essenciais do respeito pelos Direitos Humanos, pelo Estado de Direito e pela procura da verdade", mas, por outro, não podia votar favoravelmente um texto que pretende "instrumentalizar o PE para lutas de política interna".
Para Carlos Coelho, esta resolução aparece "fora de tempo, pois ainda decorrem diligências no Parlamento Europeu", e a sua aprovação antes de se concluir o processo é "uma precipitação que gera erros".
Sem comentários:
Enviar um comentário