«Enquanto alguns países penam por ter mais e melhor Comunicação Social, ou seja, deixarem de ter só um jornal – e, em regra, dominado pelo poder instituído –, há outros que, embora não estejam nas mãos do poder (governativo ou legislativo), acabam, na prática, subordinados a este através das concentrações que foi, ou vai, permitindo sem se preocupar com as consequências que daí se adivinhem.
Há já uns anos que isso acontece em Portugal e, sublinhe-se, sem que o Poder tenha qualquer cor política definida. Bem pelo contrário. Para Poder novo há sempre um Sistema velho e habitual. Mútua subserviência para defesas comuns.
Recordo-me que, durante alguns anos o principal matutino de referência sedeado em Lisboa, mesmo após a privatização era reconhecido como o órgão oficioso do Governo (fosse ele qual fosse a cor política). Depois foi, juntamente com outros, integrados num Grupo económico que, segundo parece – só assim se explica a tentativa de despedimento colectivo de 123 dos seus actuais jornalistas e funcionários –, não deverá gozar de muita saúde financeira.
A crise económica e financeira portuguesa (perdão mundial, porque em Portugal o Governo conseguiu colmatá-la; se não for verdade que justifiquem as palavras do seu primeiro) começa a justificar actos de gestão, pouco qualificáveis e injustificáveis perante situações que a montante (e recentes) mostravam uma pujança no Grupo e agora acaba com secções para criar dependências perante terceiros (não me parece que os jornais em questão deixem de noticiar eventos mundiais/internacionais; ora se não têm a respectiva secção terão de comprar as notícias às agências e pelas amostras que vou lendo algumas parecem mais fornecedoras de anedotas que notícias).
Por causa dessa eventual situação anómala de haver uma forte concentração de títulos (alguns concorrentes entre si) tive conhecimento que o Parlamento português pensa em debater esta questão e verificar se há ou não concentração na área da Comunicação Social.
Pelo menos o Sindicato do sector já pediu ao Parlamento português que o dono – ou pelo menos o accionista mais conhecido – do Grupo que pensa despedir os 122 profissionais do sector seja ouvido na Casa das Leis portuguesas. Mas como, a maioria dos parlamentares até mantém saudáveis relações com a Comunicação Social deverá ser uma conversa de família regada com um excelente almoço ou jantar no restaurante do Parlamento. Há factos que são intocáveis…
Talvez, por isso, não me surpreenda o queixume de Francisco Trindade, autor do blogue “ANOVIS ANOPHELIS” e antigo colaborador do Suplemento de Cultura do DN, entre 1987 e 1996 e coordenador da Página da Educação quando alerta para a subserviência do Poder aos Média e destes ao Poder com as evidentes consequências junto dos leitores.
Mas isso parece que não preocupa nem o Poder nem os donos dos Média. Naturalmente que ao Poder quantos menos o atacarem menos os leitores sabem e menos juízos farão na altura da cruzita no papel rectangular que se coloca nas urnas. É por isso que em alguns sítios só existe o jornal oficial porque é o que oferece a protecção necessária ao Poder instituído.
Quanto aos donos dos Média a preocupação é relativa porque sabem que o Poder precisa deles e são eles que, não poucas vezes, elegem ou fazem eleger quem melhor defenderá os seus interesses. Sabem que muitos dos eleitores preferem que lhes digam em quem devem votar em vez de se preocuparem em pensar por si.
Se assim fosse muitos elegíveis não teriam lugar nos diferentes areópagos para onde são eleitos.
(*) Artigo de Eugénio Almeida publicado no jornal Frente Oeste
http://www.frenteoeste.com/modules.php?name=News&file=article&sid=4767
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