Em declarações ao Jornal de Notícias, o presidente da Confederação da Indústria Portuguesa, Francisco van Zeller, referiu que está por provar que haja empresas a aproveitarem-se da actual conjuntura para encerrar.
À pergunta “Há empresas com lucros elevados no ano passado e que este ano já anunciaram despedimentos por perspectivarem uma quebra dos resultados. Como comenta?”, Francisco van Zeller disse:
“É uma forma de gestão que sempre se usou e que se baseia no princípio de que os ajustes se devem fazer enquanto há dinheiro. Isso é a situação normal que sempre houve, porque em condições normais essas pessoas despedidas conseguiriam encontrar outro emprego. Na situação actual, parece-me um bocadinho mais vergonhoso. Mas as empresas têm uma grande capacidade de previsão e sabem se os contratos para daqui a seis meses já estão a falhar, podendo optar por começar já a dispensar pessoal para acertar as despesas. Tem de ser visto caso a caso e não se pode atirar pedras a empresas que estão muitas vezes a fazer o melhor que sabem e a tentar proteger os trabalhadores.”
Ou seja, segundo o presidente da CIP, despedir quando há lucros é vergonhoso. Não se referia, creio, ao caso concreto do JN. De qualquer modo, é sempre possível escapar ao rótulo de vergonhoso, bastando para isso contratar especialistas.
Quando um grupo mistura no mesmo saco empresas que dão lucro com outras que não dão, certamente consegue um resultado favorável à tese do prejuízo, actual ou futuro. É fácil, barato e até dá milhões.
Engraçado é ver o presidente da CIP, no seu legítimo papel, dizer – e bem – que “não se pode atirar pedras a empresas que estão muitas vezes a fazer o melhor que sabem e a tentar proteger os trabalhadores”.
E é engraçado porque Francisco van Zeller sabe, melhor do que qualquer outro, que essas não são a regra, nem esse é o princípio basilar de muitas empresas que são geridas por quem só tem capacidade técnica, escolar, intelectual, para ser arrumador de carros.
Dito de outra forma, Francisco van Zeller sabe que basta ter dinheiro (com a origem do qual ninguém se preocupa) para ser empresário ou, pelo menos, para ser dono de uma empresa.
Francisco van Zeller também sabe que muitas empresas vão à falência embora, é claro, os seus donos continuem ainda mais ricos. Tal como sabe, embora não diga, que se tivesse de escolher, muitos dos seus “colegas” empresários não os queria nem mesmo para arrumar carros.
Sem comentários:
Enviar um comentário