Os governos socialistas de Portugal e Espanha contemporizam com o regime venezuelano, acusou hoje em declarações à Lusa o eurodeputado português Silva Peneda a propósito da expulsão, ontem, do espanhol Luis Herrera, igualmente membro do Parlamento Europeu.
Acusou e com razão. Fico, contudo, à espera (mesmo sem qualquer tipo de expulsão) de ver Silva Peneda falar da contemporização do Governo português com os muitos Hugo Chávez que pululam nas ocidentais praias lusitanas.
As autoridades venezuelanas expulsaram ontem do país o eurodeputado espanhol Luis Herrera, membro do Partido Popular Europeu, depois de este questionar o processo eleitoral na Venezuela e desafiar os venezuelanos a "votar em liberdade".
Liberdade que, aliás, não só falta na Venezuela como noutros países, mesmo quando se fala – por exemplo – na Península Ibérica.
Os venezuelanos votam amanhã uma reforma constitucional que, no limite, garante a manutenção vitalícia no poder do presidente venezuelano Hugo Chávez.
"Não posso deixar de registar que muita gente de esquerda, socialistas, falam de princípios e valores, e há que registar que foram os governos de Portugal e Espanha os que mais se têm curvado perante (Hugo) Chávez para fazer negócios", considerou Silva Peneda, eleito para o Parlamento Europeu nas listas do Partido Social Democrata (PSD).
"Os princípios valem o que valem. Quando chega a dinheiro e negócios os princípios são relegados para outro tipo de prioridades", acrescentou.
Pois é. E é aqui que a porca torce o rabo. Os princípios, os valores, a ética são mandados às malvas quando o dinheiro e os negócios batem à porta. E é por isso que existem tantos Hugo Chávez em Portugal. Ou não será?
"Expulsar um deputado europeu pela força, simplesmente por ter feito declarações críticas contra as autoridades e sem qualquer explicação é próprio de regimes ditatoriais. E este regime de Hugo Chávez está cada vez mais longe de respeitar as liberdades fundamentais", vincou Silva Peneda.
E quando, em Portugal, se “expulsam” trabalhadores só porque se recusam a pensar com a barriga, alegando que o devem fazer com a cabeça, está-se em que tipo de regime? Não é com certeza de uma democracia.
Sei que é mais fácil acusar os estrangeiros, mas não seria mau ter coragem para, dentro de Portugal, apontar também aqueles que atiram para a sarjeta os princípios e os valores da democracia e da liberdade de expressão.
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