O MPLA, ou
seja, o regime angolano, continua a provocar deliberada e conscientemente a
UNITA. Vale tudo. Aliás, no país existem apenas angolanos de primeira, os do
MPLA, e os kwachas, uma subespécie que teima em resistir.
Agressões e
assassinatos fazem parte de uma estratégia que visa dar ao governo razões para
calar e amedrontar toda a sociedade angolana, mesmo a que pertence a outros
partidos, acenando de novo com o espectro da guerra.
Nada melhor
do que esse fantasma para o MPLA fazer, mesmo internamente, todas as purgas que
ache convenientes e cortar pela raiz todas as veleidades similares às tunisinas
ou egípcias. Isto porque os angolanos só são livres para dizer o que o regime
quer. Fora disso, cuidado. Mesmo no seio do MPLA o cuidado impera. É que todos
os anos existe o mês de Maio e o dia 27.
Ao atacar o
seu principal adversário, o MPLA justifica perante o mundo que há razões
internas para pôr na ordem todos os contestatários e manter todo o poder como
está.
A UNITA
volta a ser um muito útil bode expiatório. Um dia destes ainda vamos ver o
regime reeditar a velha história de que o Galo Negro tem armas escondidas em
paióis dispersos pelo país, ou até mesmo à divulgação da prisão de militantes
com armas na mão.
A UNITA está
assim, como era esperado, entre a espada e a parede. Se nada fizer continuará a
ser enxovalhada, se reage vai ser acusada de estar a fomentar a rebelião ou até
mesmo de estar a preparar uma nova guerra.
É
necessário que se faça um trabalho árduo em prol dos ideais do partido, tendo
em conta o actual contexto da vida política do país", afirma regularmente
Isaías Samakuva, exortando todos os dirigentes, militantes e simpatizantes da
UNITA a trabalharem para mudar o curso dos resultados obtidos nas últimas
eleições legislativas.
Legislativas
nas quais a UNITA, recorde-se, teve apenas 572.523 votos a que correspondem a
10,36% e 16 deputados na Assembleia Nacional, contra os 70 da legislatura anterior
resultante das eleições gerais de 1992.
Continuo a
pensar que a UNITA está mais virada para o seu umbigo do que para a barriga
vazia dos angolanos, mais (ou totalmente) disposta a escorraçar os que pensam
de forma diferente, mais preocupada em reagir do que em agir.
E até agora,
salvo raras excepções, a UNITA tem feito o papel que lhe foi dado pelo regime,
procurando apesar de tudo dizer aos angolanos que é preferível ser livre de
barriga vazia do que escravo com ela mais ou menos cheia.
Mas, está
visto, os angolanos estão cada vez mais interessados em ter um saco de fuba do
que a bandeira da UNITA hasteada. Além disso não esquecem que quem lhes pede
esse esforço são os que, um pouco por todo o país, têm pelo menos três boas
refeições por dia.
A UNITA está
a gastar balas preciosas para matar a onça que já está morta, ficando-se sem
munições para disparar contra o leão que está de atalaia. Será difícil entender
isto? Pelos vistos é. E então quando é dito por angolanos brancos... a coisa
torna-se mais negra.
Depois de
perdida (embora com muita batota) a batalha das legislativas, continuo a pensar
que a UNITA continua a basear a sua estratégia em critérios de parca
consistência.
Não sou o
único (longe disso) a pensar assim. Sou, eu sei, dos poucos que publicamente
assumem esta tese. Tenho, no entanto, recebido testemunhos com chipala e nome,
que comprovam que o “Estado-Maior” da UNITA continua a querer ganhar a “guerra”
com “generais” que ao primeiro “tiro” vão para o outro lado da barricada ou, na
melhor das hipóteses, levantam os braços e içam um pano branco.
A Direcção
da UNITA não gosta, um pouco à semelhança do próprio MPLA, de quem pensa de
maneira diferente. O sacrificado povo angolano, mesmo sabendo que foi o MPLA
que o pôs de barriga vazia, não viu, não vê e dificilmente verá na UNITA a
alternativa válida que durante décadas lhe foi prometida.
De há muito
que pergunto: Terá sido para isto que Jonas Savimbi lutou e morreu? E lá vou
acrescentando: Não. Não foi. E é pena que os seus ensinamentos, tal como os
seus muitos erros, de nada tenham servido aos que, sem saberem como, herdaram o
partido.
Continuo a
lamentar que os que sempre tiveram a barriga cheia nada saibam, nem queiram
saber, dos que militaram na fome, mas que se alimentaram com o orgulho de ter
ao peito o Galo Negro... mesmo sendo brancos.
Também é
pena, importa continuar a dizê-lo, que todos aqueles que viram na mandioca um
manjar dos deuses estejam, como parece, rendidos à lagosta dos lugares de elite
de Luanda.
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